Em meio à agenda corrida de um candidato a presidente, Louison Mbombo tirou um tempo na agenda para conversar com a reportagem do Estado de Minas. O político já é um velho conhecido: concedeu entrevista em 2019, quando recebeu o prêmio Melhor Inovação Humanitária da The Dutch Coalition for Humanitarian Innovation (DCHI).
Mbombo anunciou a candidatura dele à presidência da República Democrática do Congo na última quarta-feira (28/6), Ele também concorre ao cargo de deputado nacional de Lukunga, estado congolês onde reside. Louison se mudou para o Brasil em 2013, por conta da instabilidade política de seu país.
Por aqui, ele criou a ONG Solidariedade na Mokili, voltada para o combate à malária e melhoria da condição de vida para os congoleses. Em 2015, ele ingressou no curso de Medicina da UFMG, onde foi eleito um dos pesquisadores mais influentes do mundo.
Em 2020, ele voltou ao Congo, por causa da pandemia, e acabou concluindo a formação por lá, para poder ajudar seus conterrâneos durante a crise da COVID-19. Do país africano, Louison acompanhou as eleições presidenciais no Brasil, sendo um forte apoiador de Lula (PT). O então pré-candidato a presidente chegou a fazer um post elogiando o pesquisador, em 2018.
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Estado de Minas: De onde veio a vontade de se candidatar?
Louison Mbombo: A vontade de concorrer à presidência da República Democrática do Congo (RDC) surgiu de uma variedade de motivações e circunstâncias. Sempre quis trazer uma mudança positiva em meu país. O cenário político da RDC, com sua complexa história de conflito, corrupção e desafios socioeconômicos, me estimularam a resolverem os problemas por conta própria e a lutarem por posições de liderança que possam moldar o futuro da nação.
O desejo de concorrer à presidência veio em experiências pessoais com a minha ONG na determinação de abordar questões como pobreza, desigualdade e abusos dos direitos humanos. Além disso, a paixão pelo serviço público, a firme crença nos princípios democráticos e o compromisso de garantir um futuro melhor para todos me levaram a buscar o mais alto cargo político na RDC
EM: Como é o processo eleitoral no país? Como está o cenário atual?
LM: O processo eleitoral na República Democrática do Congo (RDC) é um aspecto complexo e significativo do sistema democrático do país. A RDC tem um sistema político multipartidário, onde os cidadãos têm o direito de votar e participar do processo eleitoral. O processo começa com o recenseamento dos eleitores aptos, a que se segue a constituição e registo dos partidos políticos. As eleições na RDC são realizadas em vários níveis, incluindo eleições presidenciais, parlamentares e provinciais. A Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) é responsável pela organização e supervisão do processo eleitoral, garantindo a sua transparência e equidade.
No entanto, o processo eleitoral na RDC enfrentou desafios e controvérsias no passado, incluindo alegações de fraude e irregularidades. Apesar desses desafios, a RDC tem feito esforços para melhorar seu sistema eleitoral, incluindo o uso de registro biométrico de eleitores para aumentar a precisão e a transparência. Em geral, o processo eleitoral na RDC desempenha um papel vital no desenvolvimento democrático do país, e os esforços contínuos para fortalecê-lo e melhorá-lo são cruciais para garantir eleições livres e justas.
EM: Quais serão suas estratégias de campanha?
LM: Como candidato nas eleições presidenciais e parlamentares da República Democrática do Congo (RDC), minhas estratégias de campanha se concentrariam na transparência, na inclusão e no atendimento das necessidades prementes do povo. Em primeiro lugar, eu priorizaria a transparência garantindo que todas as finanças e atividades de campanha sejam contabilizadas e tornadas públicas para evitar qualquer suspeita de corrupção. Além disso, estabeleceria uma forte presença online e utilizaria plataformas de mídia social para me conectar com a geração mais jovem, que tem uma influência significativa no cenário político. Em termos de inclusão, eu me esforçaria para envolver diversas comunidades em todo o país, realizando reuniões municipais e fóruns públicos para ouvir suas preocupações e aspirações. Além disso, eu trabalharia para construir uma coalizão de candidatos com ideias semelhantes que compartilham valores e objetivos semelhantes para criar uma frente unificada para mudanças progressistas. Por último, eu me concentraria em atender às necessidades imediatas das pessoas, como melhorar o acesso à saúde, educação e desenvolvimento de infraestrutura. Ao apresentar soluções práticas e viáveis, pretendo ganhar a confiança e o apoio dos eleitores, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e levadas em consideração no governo.
EM: O que você leva da experiência como pesquisador para a candidatura?
LM: Como pesquisador, adquiri habilidades e experiências valiosas que acredito serem altamente aplicáveis à administração do cargo de presidente e do deputado nacional. Em primeiro lugar, minha experiência como pesquisadora me ensinou a importância do pensamento crítico e da tomada de decisão baseada em evidências. Aprendi a analisar problemas complexos, reunir dados relevantes e fazer escolhas informadas com base nas informações disponíveis. Isso seria crucial no papel do presidente e do congresso, pois serei responsável pela tomada de decisões que impactam a vida de milhões de pessoas.
Além disso, minha experiência em pesquisa me ensinou o valor da colaboração e do trabalho em equipe. No campo da pesquisa, é comum trabalhar com um grupo diversificado de indivíduos com diferentes áreas de especialização. Isso me ensinou a importância de ouvir diferentes perspectivas, encontrar um terreno comum e trabalhar juntos para um objetivo comum. Essas habilidades seriam inestimáveis na arena política, onde a colaboração e a formação de consenso são essenciais para uma governança eficaz. Além disso, minha experiência como pesquisador incutiu em mim um forte compromisso com a integridade, transparência e responsabilidade. Esses valores são críticos para manter a confiança do público e garantir a tomada de decisões éticas no governo. No geral, minha experiência como pesquisador me equipou com as habilidades, a mentalidade e os valores que seriam inestimáveis na gestão do cargo de presidente e do congresso.
EM: Você já chegou a interagir pelas redes sociais com o Lula, como é essa relação hoje?
LM: Hoje sou um admirador do Presidente Lula, todo mundo sabe como eu apoiei ele na campanha, inclusive perdi amizade pois a maioria dos meus amigos era oposto ao partido dele.
EM: Se eleito, como pretende usar o cargo na questão das relações internacionais?
LM: Se eleito, priorizarei a questão das relações internacionais como aspecto crucial da minha liderança. A RDC é um país rico em recursos naturais e tem potencial para crescimento econômico e desenvolvimento. No entanto, muitas vezes enfrentou desafios em seu relacionamento com a comunidade internacional. Minha abordagem seria promover laços diplomáticos e parcerias mais fortes com outras nações, concentrando-se em acordos mutuamente benéficos que promovam a cooperação econômica, o comércio e o investimento. Ao me envolver ativamente em fóruns e negociações internacionais, eu procuraria defender os interesses e direitos do povo congolês no cenário global. Além disso, pretendo fortalecer a cooperação com organizações regionais, como a União Africana e a Comunidade Econômica dos Estados da África Central, para enfrentar desafios compartilhados e trabalhar em prol da estabilidade e integração regional. Além disso, priorizaria iniciativas para abordar questões globais como mudança climática, direitos humanos e desenvolvimento sustentável, colaborando com outras nações para encontrar soluções eficazes e equitativas. Ao promover o diálogo, o entendimento e a colaboração, acredito que a RDC pode se estabelecer como um ator respeitado e influente na comunidade internacional, fomentando um relacionamento positivo e mutuamente benéfico com o resto do mundo.
EM: Você chegou a concluir o curso na UFMG? Como está essa questão?
LM: Formei Médico no Congo na Universidade Tecnológica Bel Campus ano passado em 2022 durante a pandemia. Universidade onde comecei o curso de medicina antes de vir para o Brasil. Quando fui fazer meu internato na Ginecologia/Obstetrícia no Congo e não tinha como voltar para o para o brasil pandemia e como queria muito trabalhar no Congo como médico e o processo para revalidação demora muito, resolvi formar lá. No Brasil ainda estou na UFMG pois falta um semestre para concluir o curso de medicina. Isso me permitirá atuar nos dois países (Congo e Brasil).