O sonho da casa própria feita de forma sustentável está mais próximo de ser realizado. Um projeto ideializado pelo Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos (Reciclos), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), está erguendo uma vila a partir de rejeitos da mineração e da siderurgia, que são transformados em materiais de construção civil.
Localizadas no campus da universidade, as quatro moradias constituem um conjunto, batizado de ‘Vila Reciclos UFOP’. Cada construção possui uma área de 60m², divididos em sala, cozinha, área de serviço, banheiro e dois quartos. O custo desse modelo de habitação é 25% menor em relação a um modelo tradicional de mesma escala.
No que se refere à sustentabilidade, o rejeito de siderurgia foi utilizado nas paredes e telhados das casas e as construções possuem uma tecnologia que se adéqua conforme o clima, seja verão ou inverno.
Cada habitação possui no telhado duas placas configuradas de forma plana e inclinada, fabricadas com materiais convencionais, que são responsáveis pela circulação de ar e equilíbrio da temperatura, com o auxílio de uma janela interna. O método é conhecido como termossifão. O imóvel ainda dispõe de um espaço verde no telhado destinado ao plantio de legumes e de verduras.
O acesso dos veículos à vila foi pavimentado com blocos pré-moldados produzidos a partir de rejeitos da mineração.
Canteiro de obras com materiais reaproveitados
Para o coordenador do Grupo Reciclos e professor do Departamento de Engenharia Civil da UFOP, Ricardo Fiorotti, a ideia é transformar a área em um canteiro de obras. As duas casas já foram entregues e nelas funcionam as instalações do Grupo de Pesquisas em Tecnologias Sociais e Apícolas e Recuperação de Áreas Degradadas (Apicrim).
Outras duas casas serão finalizadas e entregues em setembro e servirão de espaço para o Grupo Reciclos. Um galpão de 120 m², também em fase de construção, vai abrigar as atividades práticas dos cursos de graduação da Engenharia Civil, Arquitetura e Engenharia Urbana, além da Pós-Graduação em Engenharia Civil.
“O próximo passo é utilizar a área para fomentar a prática na formação dos alunos”.
Parceria com mineradoras e siderúrgicas
O coordenador do Grupo Reciclos conta que o rejeito utilizado é proveniente da parceria entre a UFOP e a empresa Samarco, com o apoio da Vale, Arcelor Mittal, Rolth do Brasil, além da Capes, CNPQ e Fapemig.
“A colaboração começou após a UFOP se tornar unidade credenciada da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). No acordo, fechado no final do ano passado, a Universidade ficou responsável pela triagem do rejeito e futura destinação”.
Ricardo Fiorotti conta que a partir dos rejeitos de mineração é possível obter areia e brita para construção, carga mineral para produção de tintas imobiliárias e artefatos para revestimento das mais diversas cores e tonalidades terrosas.
Em relação aos rejeitos de siderurgia, o professor relata que é possível obter areia e brita para construção e a produção de concretos mais eficientes e econômicos.
Frutos para a sociedade
O professor do Departamento de Engenharia da UFOP diz que a inauguração do espaço, marcado para o final deste ano, vai permitir que a comunidade, as empresas e o poder público tenham acesso a todo desenvolvimento científico e tecnológico embarcado no projeto, a partir da transferência das tecnologias desenvolvidas na universidade.
“Será possível transferir à sociedade todo desenvolvimento tecnológico para produção de tintas, ladrilhos hidráulicos, blocos para alvenaria e para pavimentação, elementos decorativos como pingadeiras para muros, cobogós e muitos outros elementos que possam ser produzidos a partir de concretos e argamassas com rejeitos”.
As sementes plantadas pelo projeto já deram frutos em localidades fora do campus. A via de acesso que liga a sede de Ouro Preto ao distrito de Antônio Pereira, conhecida como Estrada da Purificação, foi pavimentada com os rejeitos da mineração.
“E como resultado de todo esse desenvolvimento e de todo esforço das equipes envolvidas, os resultados da nossa pesquisa começam a extrapolar os limites de nossos laboratórios e da própria universidade”.