Símbolo da arquitetura colonial brasileira, a Casa de Câmara e Cadeia de Mariana, em Minas Gerais, será reaberta ao público após quase três anos fechada. A expectativa é que a volta do prédio histórico, somada a outros dois entregues em 2022, fomente o turismo local, abalado pelo rompimento da barragem, em 2015, e a pandemia de Covid-19.
Fechada desde outubro de 2020, a Casa de Câmara e Cadeia serão entregues em 2 de agosto, na praça Minas Gerais. O prédio é o único do país construído durante o Brasil Colonial que ainda preserva a sua originalidade de uso com o Legislativo para o qual foi criado.
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O investimento foi de cerca de R$ 3,9 milhões, provenientes de uma parceria entre o município e o governo federal por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Cidades Históricas, destinado a salvaguardar os bens tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Localizado em um dos principais cartões postais da cidade, o projeto contemplou as três edificações históricas que fazem parte do conjunto artístico: a Casa de Câmara e Cadeia, o Passo de Nosso Senhor, popularmente conhecido como Capela de São Jorge, e o antigo armazém.
Durante a restauração foram efetuados trabalhos estruturais, arqueológicos, elétricos, de som, de sistema de proteção contra descargas elétricas, sanitário, de instalações pluviais, hidráulico e de prevenção e combate a incêndios.
Antes da restauração, a construção apresentava trincas e problemas na rede elétrica. "Inclusive uma grande preocupação agora é com a manutenção, para que esses edifícios que estão sendo restaurados não precisem de restauração", disse a arquiteta e gestora do PAC Cidades Históricas em Mariana, Anna de Grammont.
Valorizando a história, as características primitivas foram resgatadas. Para isso, foram removidos acréscimos que não constavam no projeto original, demolidos banheiros e recuperada uma escada que leva até o sino da construção. Outra novidade é a garantia à acessibilidade no prédio restaurado.
RESTAURAÇÃO ENCONTRA PINTURAS ANTIGAS E ASSINATURAS
Durante as ações de salvaguarda do patrimônio, a equipe responsável pelos trabalhos descobriu, por trás das camadas de tintas, elementos que ajudam a compreender a história da Casa de Câmara e Cadeia. Por meio da arqueologia de cotas positivas, metodologia usada na restauração de edifícios fazendo o uso de prospecções, foram reveladas pinturas parietais, datas e assinaturas que proporcionam conhecer a evolução do prédio ao longo da história.
"As pinturas parietais a gente encontrou em praticamente quase todas as salas, mas de épocas diferentes. Três, em especial, marcam o passar do tempo: a de 1800, que foi da inauguração; a segunda camada de pintura, que acontece de 1830 a 1840, quando a gente tem a primeira regulamentação jurídica e a primeira regulamentação penitenciária com o Império, e depois a gente já tem a do século 20", disse Adriano Luís Furini de Souza, restaurador e gestor de obras da A3 Atelier de Arte Aplicada, empresa que conduziu os trabalhos.
Algumas dessas pinturas, consideradas mais importantes, poderão ser observadas pelos visitantes. "A comunidade de Mariana tem uma relação muito afetiva com esse prédio. Então, a gente conseguiu perceber também ao longo do trabalho que existe esse pertencimento. As pessoas têm aquilo como a casa delas. Tanto que é importante que não deixe de ser Casa de Câmara e Cadeia porque essa relação é direta com esse espaço."
Após a entrega, as atividades legislativas retornarão ao espaço, com a primeira sessão ordinária agendada para 7 de agosto. Devido à nova divisão estrutural da instituição, a Câmara contará também com uma unidade secundária, na praça Gomes Freire, para abrigar parte dos departamentos administrativos.
MARIANA ESPERA RETOMAR TURISMO
Após um período com muitos impactos nos setores turístico e econômico, Mariana espera que a reabertura da Casa de Câmara e Cadeia, bem como da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, ocorridas em 2022, possam fomentar o turismo local.
"O cenário atual é de resgate do retorno do movimento dos turistas na cidade, uma vez que tivemos dois problemas recentes: a queda da barragem, em 2015, e depois a pandemia, que afastaram os turistas", disse o secretário de Patrimônio Histórico, Cultura, Turismo e Lazer, Cristiano Vilas Boas.
Além da Casa de Câmara e Cadeia, outros bens que estão passando por restauração no município são a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Conde Assumar (futuro Museu de Mariana) e a Capela Santo Antônio.