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Estado de Minas DIA DOS AVÓS

Dia dos avós: afeto em um novo patamar

Depois dos atropelos para criar filhos, três mulheres falam ao EM sobre o "privilégio" de conviver com netos


26/07/2023 04:00 - atualizado 26/07/2023 05:35
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Aos 103 anos, Miracy, a Vó do Cruzeiro, curte 20 netos, 21 bisnetos e três bisnetos, com a leveza de quem não carrega os deveres dos pais: 'Avós não são feitas para corrigir'
Aos 103 anos, Miracy, a Vó do Cruzeiro, curte 20 netos, 21 bisnetos e três bisnetos, com a leveza de quem não carrega os deveres dos pais: "Avós não são feitas para corrigir" (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )

“Ser avó é diferente de ser mãe, porque a gente tem menos responsabilidade e mais tempo com os netos do que com os filhos”, conta Fabíola Maia de Oliveira, mais conhecida como Vovó Loca. Aos 94 anos, ela é uma mulher bastante ativa e já soma14 filhos, 20 netos e três bisnetos.  A maneira de pensar de Vovó Loca sobre filhos e netos parece ser bem comum entre avós em geral. Pelo menos, Niuza Benedito, de 74, e Miracy, a Vó do Cruzeiro, de 103 anos, concordam.

“Ser mãe é bom, mas ser avó é melhor ainda. É um privilégio”, conta Niuza, que tem três netos já adultos, além de dois bisnetos gêmeos. “Ser avó é melhor do que ser mãe, porque a gente já está desocupado, tem mais tempo para passar com os netos. Eu não tinha tempo quando tive meus filhos, não dava para brincar com os meus meninos”, complementa Miracy, com seus 20 netos, 21 bisnetos e três tataranetos.

As três mulheres, avós já há algum tempo, celebram hoje (26/7) o Dia dos Avós rodeadas de amor e afeto. Para elas, não importa o número de pessoas na família, todas receberão uma quantidade imensurável de carinho, já que usam seu tempo livre com maior qualidade desde que se aposentaram.

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%u201CÉ um privilégio%u201D, afirma Niuza Benedito sobre o convívio com a nova geração, que se dispõe a mimar, indiferente às críticas sobre %u201Cestragar%u201D os netos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Para os avós, acompanhar o crescimento dos netos é uma experiência incrível, mas também é estar sujeito a escutar que “os avós estragam os netos” – o que tem seu fundo de verdade, de acordo com Niuza e Miracy. “A gente gosta tanto (dos netos) que parece que gosta deles mais do que dos filhos em alguns momentos. Se acontece alguma coisa, a avó quer logo proteger, e tem gente que fala que estamos estragando as crianças, mas é que a gente não quer que falem nada para eles que os façam chorar”, conta Niuza bem-humorada. A experiência é outra que parece ser compartilhada entre avós. “Nunca dei uma palmada nos meus netos, porque as avós não são feitas para corrigir, mas sim para proteger dos pais. Estes, sim, que corrigem”, diz Miracy.

Quando eles crescem

Mas e depois que eles se tornam adultos? Alguns continuam a frequentar a casa dos avós, mas outros seguem seus próprios caminhos, apesar de ainda guardarem muito amor pelas pessoas que tanto os protegeram das broncas dos pais. Loca e Miracy compartilham a experiência de ter família “por todo canto”. Com tanta gente na família, fica até difícil conciliar o tempo que passam com cada um, mas elas garantem que agora é possível – ainda que com certo arrependimento em relação aos próprios filhos.

“Eu queria que fosse diferente; queria ter dado mais carinho, mas trabalhava demais”, lamenta Vovó Loca. “Mas agora, que assumi minha velhice, decidi reformar minha casa, porque queria receber bem todos os meus netos. Sempre tem alguém aqui, toda hora chega um neto diferente, e eu adoro cozinhar para eles. Todo mundo gosta de tudo o que faço, e aí já não sei se é para me agradar ou se gostam mesmo, mas sempre uso meu ingrediente secreto, que é o amor”, completa Vovó Loca, que morou em Belo Horizonte durante a pandemia – quando viralizou nas redes sociais –, e voltou recentemente para Morro do Pilar, na Região Central de Minas, na área da Serra do Cipó.

Com mais tempo, referência para adultos, jovens e crianças, Vô Loca se desdobra: %u201CDecidi até reformar minha casa, porque queria receber bem todos eles%u201D
Com mais tempo, referência para adultos, jovens e crianças, Vô Loca se desdobra: %u201CDecidi até reformar minha casa, porque queria receber bem todos eles%u201D (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 22/6/20 )


Considerada uma “avó típica”, daquelas que cozinham muito bem, a Vovó Loca já acumula 48 mil seguidores no Instagram e é assessorada por sua neta Bárbara Maia – que tem sua avó como grande referência na vida. “Sempre acreditei que ela seria famosa; e sempre fui muito próxima da minha avó, passava muito tempo na casa dela. Para mim, ela é um ponto de referência e de sabedoria. Gosto de ouvir tudo o que ela tem para me ensinar. Ela é fonte de sabedoria e eu bebo disso todos os dias”, relata ela.

A Vó do Cruzeiro, além de ser um símbolo do clube de futebol, também é referência para toda a família. Prestes a completar seus 104 anos em agosto e sem qualquer doença crônica, ela celebra a vida todos os anos e reúne praticamente toda a família – cerca de 80 pessoas – para a ocasião.

“Tenho um neto que mora na Austrália e vem para cá para o meu aniversário. Eu mesma não faço muita questão de ter festa, mas acabo fazendo pelas pessoas que vêm de longe para me ver. Amo muito meus filhos, meus netos, meus bisnetos e meus tataranetos. Todos têm muita paciência comigo e eu só tenho a agradecer pela vida boa que tenho”, explica Miracy.

Frequentadora assídua dos jogos do Cruzeiro e sempre acompanhada de filhos, netos ou bisnetos, ela afirma ser uma honra ser considerada a avó do clube. “Ir aos jogos do Cruzeiro foi um jeito de tornar minha velhice mais alegre. Tenho uma irmã um ano mais velha que eu, mas ela não quer saber de futebol, só gosta de rezar e de ir à igreja. Eu já disse para ela que só começo a rezar quando ficar velha (risos)”, brinca.

Remédios para solidão

Com tantos netos e bisnetos, Loca e Miracy não enfrentam tanto a solidão, mas Niuza, às vezes, se sente um pouco sozinha. Com netos já adultos – a mais nova, Elisa, prestes a entrar na faculdade –, ela ocupa seu tempo livre frequentando as atividades do Meninas de Sinhá, Organização da Sociedade Civil (OSC) que atua nas áreas cultural e social com mulheres acima de 50 anos.

Durante a semana, ocupa a mente com atividades como aulas de percussão, canto e bordado, já que não pode estar o tempo todo com a família. “Viajava muito com meus netos e eles viviam aqui em casa, mas agora que cresceram, uns já casados, foram viver as próprias vidas. Não deixam de me visitar, mas ficamos mais distantes com o tempo. Por isso, quem quiser sarar o ‘nervosinho’, ficar relaxada, é só ir para o Meninas de Sinhá”, receita.

Ainda assim, ela garante que o tempo que passou – e ainda passa – com seus netos e bisnetos é aproveitado da melhor forma. “Meus netos sempre foram meus xodós. Agora, com a chegada dos meus bisnetos, o amor só aumentou, até porque eu sempre tive vontade de ter gêmeos e agora dá para matar a vontade. É muito gostoso poder acompanhar o crescimento deles, mesmo morando um pouco longe”, explica. Niuza faz um apelo para aqueles que ainda podem conviver com seus avós: “Peço aos netos que cuidem bem dos seus vovozinhos, porque eles merecem seu carinho, seu apoio. Sejam bonzinhos com eles, porque um dia vocês também serão vovós e vovôs”.

Origem bíblica

Por que dia 26 é Dia dos Avós? A escolha da data tem origem bíblica.  Coincide com o Dia de Santa Ana e São Joaquim e foi oficializada pelo Papa Paulo VI ainda no século 20, a fim de também homenagear os pais de Maria, mãe de Jesus. Os dois foram canonizados no século 16 pelo Papa Gregório VIII, por serem avós de Jesus Cristo. De acordo com a tradição cristã, Ana casou-se com Joaquim e por muitos anos permaneceu estéril. Só concebeu quando estava com idade avançada, por milagre, e deu à luz a futura mãe de Jesus, Maria. A data é feriado apenas nos municípios em que os santos são padroeiros.


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