Mariana - A tricentenária história de Mariana, primeira vila (1711), cidade (1745) e diocese (1745) do estado, está gravada em construções, documentos e se ilumina ainda mais com uma linha de pesquisa inovadora e desconhecida de muitos brasileiros. Na restauração do prédio da Câmara Municipal, antiga Casa de Câmara e Cadeia, no Centro, a equipe responsável pela obra conduziu estudos de arqueologia da arquitetura, o que permitiu encontrar nas paredes e no teto, sob camadas de tinta, desenhos, escritos e traços – indícios da passagem do tempo ao longo de dois séculos.
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“Já deixei aí minha assinatura”, aponta, com orgulho, o presidente do Legislativo municipal, Fernando Sampaio de Castro, anfitrião da solenidade de reabertura na próxima quarta-feira (2/8), às 18h (com primeira reunião ordinária do Legislativo em 7 de agosto). Estarão presentes à reinauguração autoridades municipais, o presidente do Iphan, Leandro Grass, e a nova superintendente da autarquia federal em Minas, Daniela Lorena Fagundes de Castro.
Localizada na Praça Minas Gerais, no Centro Histórico, e formando um harmonioso conjunto com as igrejas barrocas São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo, o prédio da Câmara Municipal teve serviços iniciados há dois anos e licitadas pela Secretaria Municipal de Obras, após a aprovação do Iphan, a fim de ser contemplado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Cidades Históricas, do governo federal). O investimento total é de R$ 3,8 milhões, sendo R$ 1,8 milhão recurso do PAC e R$ 2 milhões de valor suplementado pelo município. “Trata-se da primeira restauração completa”, diz Furini, explicando que o projeto original data de 1762, de autoria de José Pereira dos Santos, com edificação entre 1782 e 1798.
CASA DA HISTÓRIA
Entrar em construções como a Câmara Municipal de Mariana é conhecer a riqueza da história do município e desvendar segredos de Minas. Na companhia de Fernando Sampaio e Adriano Furini, da empresa A3 Atelier de Arte Aplicada, responsável pelas obras de restauração desde o começo, o Estado de Minas registrou os últimos detalhes da empreitada, que arregimentou, além de restaurador e arquiteto, carpinteiros, pintores, eletricistas e outros profissionais da região.
“É uma obra que só nos traz conhecimento, pois podemos ver o que foi executado anteriormente e hoje. Cada dia, portanto, é diferente do outro”, observa o carpinteiro Cláudio Henrique Alves, de 43 anos, residente no município vizinho de Ouro Preto. “A cobertura, por exemplo, é um capítulo à parte, pois é toda original”, acrescenta, ao lado, o restaurador que, tão entusiasmado com cada etapa da intervenção, desenvolve seu mestrado sobre a sede do Legislativo de Mariana. Em etapa posterior, a Câmara deverá lançar um livro sobre todo o restauro.
Diante da Câmara, as boas-vindas são dadas pelas escadarias laterais em cantaria e demais elementos artísticos de pedra da edificação que, internamente, apresentava trincas e riscos na rede elétrica. No térreo, da entrada às antigas celas, estão novidades, como as pinturas parietais e faixas decorativas, na técnica do stencil, cobertas por oito camadas de tinta.
Carpinteiros terminam o assoalho e, passando por um corredor, Furini mostra uma escada estreita, com 21 degraus, em uso até hoje na Câmara Municipal de Mariana, que apresenta uma particularidade: é a única sede do Legislativo em Minas ainda em funcionamento no primeiro prédio construído para essa finalidade. “Saímos daqui com mobiliário, equipamentos, documentos e fomos para um espaço provisório, na Vila do Carmo, de onde retornaremos para nossas atividades”, conta o presidente do Legislativo e integrante da Comissão Especial de Acompanhamento das Obras de Restauro, instituída pela Câmara. O plenário, no andar superior, também foi restaurado, com destaque para o forro de gamela.
As enxovias ou prisão eram divididas em três: para escravizados, para homens brancos e para mulheres. “Mas é um espaço bem diferente das demais cadeias da época, pois tem ventilação, claridade e água corrente, como acontece com as latrinas de pedras e com o local de banho”, mostra Adriano Furini. Da janela, os presos podiam até mesmo assistir à missa celebrada na capela que fica na rua atrás da cadeia. No segundo pavimento, ele mostra a Sala dos Segredos, onde os detentos eram ouvidos.
LONGA CAMINHADA
“A ideia de restaurar a antiga Câmara e Cadeia começou em 2011, com iniciativa do Conselho Municipal do Patrimônio de Mariana, que custeou o projeto inicial feito na Fundação de Desenvolvimento de Pesquisa (Fundep), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). À frente, estava o professor e arquiteto Leonardo Castriota, da UFMG, que contratou o arquiteto Benedito Tadeu de Oliveira para fazer o projeto”, destaca a engenheira e arquiteta Anna de Grammont, da prefeitura local e gestora do PAC das Cidades Históricas na cidade. Os recursos federais para a obra foram liberados em 2020, após aprovação de todos os projetos e planilhas.
Em outubro de 2020, a prefeitura deu a ordem de serviço, mas a obra ficou paralisada cerca de seis meses, porque a área, na frente, não poderia ser perfurada para colocação de tapumes, por se tratar de um sítio arqueológico. Antes da Câmara, havia no lugar o Quartel dos Dragões do Conde de Assumar. A Superintendência do Iphan em Minas informa que todo o trabalho foi acompanhado pelo seu corpo técnico.
Nos novos tempos, a acessibilidade ganhou prioridade: uma janela da parte de trás do edifício foi transformada em porta e, na frente dela, construída uma rampa de acesso. Também foi instalado um elevador que permite o acesso ao pavimento superior, onde fica o plenário.
VISITAÇÃO
Com o fim das obras, o prédio da Casa de Câmara reabrirá as portas aos turistas. O prédio ficará aberto de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h; e aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h.