Inaugurado em 1897, o Cemitério do Bonfim, necrópole mais antiga da capital mineira, tem a história contada por meio de diversificadas obras de arte. Apresentar toda essa riqueza é a proposta do projeto Visita Guiada ao Cemitério do Bonfim, realizado desde 2012, uma vez a cada mês. E hoje é dia. Em cada data, a visita segue um tema cemiterial diferente. Neste domingo (30/7), a abordagem é "As ruas da cidade e sua conexão com o Bonfim".
As visitas acontecem em grupo, em datas pré-estabelecidas, e têm número limitado de vagas para participantes. Os interessados podem fazer a inscrição na página da Prefeitura de Belo Horizonte. A participação é gratuita, e o agendamento, liberado dez dias antes da data de cada visita.
O cemitério nasceu alguns meses antes da inauguração de Belo Horizonte e, durante mais de quatro décadas, foi o único espaço para sepultamento na cidade. Guarda uma história que perpassa arte, religião, arquitetura, antropologia, dentre outros aspectos que são explorados durante o percurso das visitas guiadas.
Personagens históricos como Padre Eustáquio, Olegário Maciel (presidente de província), Raul Soares (presidente de província, ministro da Marinha e senador), Julia Kubitschek (mãe de Juscelino Kubitschek) e Roberto Drummond (jornalista e escritor) estão enterrados no Bonfim, e suas trajetórias enriquecem as visitas. As memórias preservadas nos túmulos são exploradas e compartilhadas com os visitantes, possibilitando conhecer melhor o cemitério e a própria história da capital.
Quem conduz essa experiência é a historiadora e professora Marcelina das Graças de Almeida, da Escola de Design da UEMG, o professor Roberto Fernandes da RMEBH, e a pesquisadora voluntária Marcela Marques, graduanda em Design de Ambientes na UEMG.
Marcelina diz que a ideia é apresentrar o cemitério como um "espaço singular, com um acervo riquíssimo que não pode ser visto em outro lugar e contar histórias ímpares do ponto de vista etnográfico e religioso, como os túmulos de devoção marginal, ou aquelas que não são oficializadas pela igreja".
Boa parte do público que participa da visita guiada consiste em historiadores, profissionais das áreas da arquitetura, turismo, artes visuais e design, além de estudantes e pesquisadores de diversos ramos do conhecimento. Mas qualquer cidadão ou turista que tenha curiosidade e amor à arte pode aproveitar a visita.
Desde 2022, o relações públicas Nicolau Maggi, de 44 anos, participa das visitas ao cemitério. Neste domingo, esteve no local pela quinta vez. Ele diz que é uma pessoa ligada à história e ao passado. A família tem jazigos no Bonfim. Nicolau conta que se interessa pela beleza arquitetônica do lugar e tudo o que está por trás disso. "Sou uma pessoa curiosa. Me chama atenção, por exemplo, entender a motivação que levou uma família a fazer uma mausoléu de um jeito, e outra família de outro. O cemitério tem muito da nossa história", relata.
A analista de back office Sara Raiana da Silva, de 29 anos, cresceu no ambiente de cemitério - o pai trabalhou no setor administrativo do Bosque da Esperança. Neste domingo, fez a visita ao Bonfim pela terceira vez. Conta que é um espaço que lhe interessa, pelo caráter histórico, e diz que tem outra visão do que significa um cemitério. "Para mim não se trata de morte ou tristeza. É um lugar de paz. Me lembra momentos felizes da minha infância", relata.
O casal de namorados Arthur de Moura Mota, cientista de dados, de 29 anos, e Tatiana de Castro Isoni, analista financeiro, de 26, esteve no Bonfim pela primeira vez. Tatiana conta que a temática "morte", por si só, é algo que lhe atrai - para ela, tem a ver com memória e história. "Me interessa saber o que aquela pessoa representou e como é vista depois que parte. Já conhecia o cemitério. Fiquei sabendo da visita e me interessei. Gostei muito", conta.
Por incentivo da namorada, Arthur aceitou o convite para a visita. Diz que lhe agradou especificamente a temática desse domingo. "Gosto de aprender mais sobre o local onde passo meu dia a dia. Como surgiram os nomes das ruas, dos bairros, dos edifícios, e sua relação com as personalidades que viveram aqui. Descobri o túmulo de Otaviano Neves, por exemplo, eu que nasci na maternidade que leva seu nome."
O projeto é viabilizado por meio de parceria entre a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica, a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha).