De acordo com Adriana Araújo, coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, uma das entidades que integra a FNDJ, a intenção do protesto de hoje é chamar a atenção da população para “a realidade grave e desconhecida” do risco de extinção dos jumentos em função do abate para a produção dessa gelatina.
“O animal que transportou Jesus Cristo e que é o símbolo do Nordeste brasileiro, depois de ser substituído pelas motos e descartado nas rodovias, hoje é abatido de forma cruel e corre o risco de desaparecer”, alerta a ativista. A FNDJ, segundo ela, quer que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) cumpra a decisão da Justiça Federal e proíba o abate de jumentos em todo o território nacional.
Pierre Barnabé Escodro, professor universitário, médico veterinário e integrante da FNDJ em Alagoas, disse que a Justiça Federal determinou a suspensão do abate de jumentos, atendendo um pedido da Frente, que move uma ação contra essa prática, mas ela continua ocorrendo. Segundo ele, ninguém cria jumento para o abate, pois não compensa, por isso o risco maior ainda de extinção. "No Egito, pelo mesmo motivo, já não tem mais jumentos", afirma. O veterinário diz que eles são capturados nas áreas rurais do Nordeste e vendidos para o abate por cerca de R$ 50. Já o couro, segundo ele, é comercializado no exterior na faixa de 3 a 4 mil dólares.
De acordo com dados da Frente, considerando apenas os registros do Mapa, o abate aumentou mais de 8.000% entre 2015 e 2019, quando o couro passou a ser exportado para a China para produção de cremes de rejuvenescimento e problemas de saúde dos mais diversos, como anemia, insônia e impotência sexual, mas o professor afirma que não há comprovação científica da eficácia desse produto.
Vânia Plaza, médica veterinária e diretora técnica do Fórum Nacional de Defesa Animal, outra entidade que integra a FNDJ, disse que o abate, além de descumprir decisão judicial, é feito de maneira cruel e sem seguir nenhuma regra sanitária, o que favorece a proliferação de doenças que podem contaminar o rebanho e a população. “Temos registro do transporte desses animais de forma clandestina. Eles são recolhidos de forma aleatória e depois mortos em abatedouros da Bahia, sem passar por nenhum protocolo de segurança”.
A FNDJ está recolhendo assinaturas em um abaixo assinado que será enviado ao governo federal, ao Mapa e à Justiça Federal. Quem quiser conhecer o documento e assiná-lo basta acessar o site www.salveosjumentos.org.br.
Ninguém do Mapa foi localizado pela reportagem para falar sobre o abate e sobre a decisão da Justiça Federal.