Jornal Estado de Minas

SISTEMA PRISIONAL

Vídeo mostra momentos que antecedem morte de detento na Grande BH

A família de um preso em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, denuncia que a administração da unidade prisional não prestou assistência médica ao detido após ele ter sofrido um infarto. Vanderci de Souza Silva, de 50 anos, estava preso no Complexo Penal Público Privado quando passou mal na noite de 4 de julho. Ele morreu no dia seguinte em um hospital da rede pública municipal. 




Apesar de a causa do óbito ter sido “natural”, para a família a falta de assistência no dia em que Vanderci passou mal foi crucial para que ele não resistisse aos sintomas. Em um vídeo entregue ao Estado de Minas, é possível ver o momento que o homem é socorrido por outros detentos e que os monitores da unidade, que atuam como agentes penais, são informados. 

Nas imagens, a vítima é vista sendo carregada por outros três homens, que a colocam em frente a uma porta onde ficam os monitores. Como o espaço, chamado de gaiola, não possui nenhum móvel, Vanderci é colocado em cima de uma espécie de plástico. Em seguida, os colegas saem de perto e os agentes então entram no espaço. 

Os funcionários do complexo penal então colocam uma cadeira de rodas no lugar e um cobertor e saem de dentro da gaiola, deixando a vítima deitada no chão. Nas gravações é possível ver que são os detentos que carregam Vanderci e o colocam na cadeira de rodas. Em seguida, um deles é instruído a levá-lo até a enfermaria da penitenciária. 




 
 

Para Gregório de Andrade, advogado da família da vítima, a situação flagrada foi de “profundo descaso com a vida humana”. Em entrevista ao Estado de Minas, ele relatou que Vanderci chegou a esperar três horas para receber atendimento médico. 
“Em nenhum momento os monitores colocam a mão no Vanderci. Demorou-se quase uma hora para tirar ele da cela e outras duas horas ele ficou esperando para ser encaminhado ao hospital. Uma pessoa que estava sofrendo um infarto ficou esperando três horas para receber auxílio”, disse. 

Ainda de acordo com o representante legal, os detentos que ajudaram Vanderci afirmaram que na noite em que o colega passou mal, a sensação térmica era de 6ºC. Mesmo com o frio extremo, nas gravações, um monitor da unidade penal é visto retirando um cobertor que cobria o paciente. 





“As imagens falam por si. O Vanderci teve que esperar o socorro no frio, enquanto isso, nós conseguimos ver que os monitores estão com blusa de frio e touca Foram os presos que o colocaram em cima do palete. Ele rolou de tanta dor que estava sentindo. Os presos falam que ele gritava feito um animal”, relata Gregório. 

Histórico médico 

Procurada, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) afirmou que desde dezembro de 2019, Vanderci recebeu 38 atendimentos de saúde e que, desde sua admissão na unidade, teve acompanhamento médico devido sua condição clínica. Além disso, dois dias antes do episódio que levou a sua morte, a vítima teve que ser encaminhada a um hospital com diagnóstico de “infarto agudo no miocárdio não especificado”. 

Segundo a pasta, em 4 de julho, ao passar mal novamente, o detento foi encaminhado “imediatamente” ao hospital, onde ficou internado para “procedimentos cabíveis”. Mesmo após ser medicado, ele não resistiu e faleceu, na manhã do dia seguinte. O caso está sendo investigado pela direção do próprio complexo penitenciário.