Apesar de a causa do óbito ter sido “natural”, para a família a falta de assistência no dia em que Vanderci passou mal foi crucial para que ele não resistisse aos sintomas. Em um vídeo entregue ao Estado de Minas, é possível ver o momento que o homem é socorrido por outros detentos e que os monitores da unidade, que atuam como agentes penais, são informados.
Nas imagens, a vítima é vista sendo carregada por outros três homens, que a colocam em frente a uma porta onde ficam os monitores. Como o espaço, chamado de gaiola, não possui nenhum móvel, Vanderci é colocado em cima de uma espécie de plástico. Em seguida, os colegas saem de perto e os agentes então entram no espaço.
Os funcionários do complexo penal então colocam uma cadeira de rodas no lugar e um cobertor e saem de dentro da gaiola, deixando a vítima deitada no chão. Nas gravações é possível ver que são os detentos que carregam Vanderci e o colocam na cadeira de rodas. Em seguida, um deles é instruído a levá-lo até a enfermaria da penitenciária.
Para Gregório de Andrade, advogado da família da vítima, a situação flagrada foi de “profundo descaso com a vida humana”. Em entrevista ao Estado de Minas, ele relatou que Vanderci chegou a esperar três horas para receber atendimento médico.
“Em nenhum momento os monitores colocam a mão no Vanderci. Demorou-se quase uma hora para tirar ele da cela e outras duas horas ele ficou esperando para ser encaminhado ao hospital. Uma pessoa que estava sofrendo um infarto ficou esperando três horas para receber auxílio”, disse.
Ainda de acordo com o representante legal, os detentos que ajudaram Vanderci afirmaram que na noite em que o colega passou mal, a sensação térmica era de 6ºC. Mesmo com o frio extremo, nas gravações, um monitor da unidade penal é visto retirando um cobertor que cobria o paciente.
“As imagens falam por si. O Vanderci teve que esperar o socorro no frio, enquanto isso, nós conseguimos ver que os monitores estão com blusa de frio e touca [...] Foram os presos que o colocaram em cima do palete. Ele rolou de tanta dor que estava sentindo. Os presos falam que ele gritava feito um animal”, relata Gregório.
Histórico médico
Procurada, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) afirmou que desde dezembro de 2019, Vanderci recebeu 38 atendimentos de saúde e que, desde sua admissão na unidade, teve acompanhamento médico devido sua condição clínica. Além disso, dois dias antes do episódio que levou a sua morte, a vítima teve que ser encaminhada a um hospital com diagnóstico de “infarto agudo no miocárdio não especificado”.
Segundo a pasta, em 4 de julho, ao passar mal novamente, o detento foi encaminhado “imediatamente” ao hospital, onde ficou internado para “procedimentos cabíveis”. Mesmo após ser medicado, ele não resistiu e faleceu, na manhã do dia seguinte. O caso está sendo investigado pela direção do próprio complexo penitenciário.