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Estado de Minas CASO RAFAELA DRUMOND

Dois meses de morte de escrivã da Polícia Civil: 'Minha filha não volta'

Servidora, que trabalhava em Carandaí, havia denunciado assédios dentro de uma delegacia antes de tirar a própria vida


09/08/2023 19:03 - atualizado 09/08/2023 19:04
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Rafaela estudava para ser delegada da Polícia Civil
Rafaela estudava para ser delegada da Polícia Civil (foto: Reprodução/Redes Sociais)
“A minha filha não volta. É um sofrimento que não tem igual.” Foi assim que Aldair Drumond, pai da escrivã da Polícia Civil Rafaela Drumond, que tirou a própria vida no dia 9 de junho, relatou como passou os dois meses após a morte da filha. Rafaela trabalhava em uma delegacia de Carandaí, na região do Campo das Vertentes e, após subsequentes denúncias de assédio sexual e moral dentro da unidade policial, acabou falecendo. No dia da morte, a escrivã estava na casa dos pais, no distrito de Antônio Carlos. 

Aldair conta que enfrentou meses muito difíceis e com saudades da filha, que faleceu precocemente. Para ele, a dor não vai sumir tão cedo. “Foram dois meses muito difíceis. Eu particularmente, como pai, sinto muita a falta dela. Lembro dela caminhando comigo, no carro. É a pior derrota que o ser humano pode ter na vida é perder o filho. É uma tristeza que tenho que seguir, tenho que seguir em frente com isso”, disse.

Rafaela denunciou um investigador e o delegado da unidade em que trabalhava. Ela chegou a gravar áudios e vídeos que provavam os abusos que ela sofria. Dois meses após a morte e ainda sem respostas, o pai da escrivã questionou a demora nas investigações. “Agora que o celular foi desbloqueado, vai comprovar tudo que ela disse, com os áudios dela no celular. Ele vai ser a contraprova se alguém disse alguma mentira em um depoimento durante as investigações”, contou.

“O importante é provar que tudo que ela disse é verdade. O que tiver lá vai provar os assédios ou alguma coisa a mais que possa ter acontecido”, completou Aldair.
 

Advogada contesta Polícia Civil


A demora na investigação também é contestada pela advogada da família, Raquel Fernandes. Para a reportagem ela questionou o fato da Polícia Civil investigar o caso como “indução ao súcidio”, em vez dos atos de assédio moral e sexual. “Para chegar no relatório final e falar que não tem nada, que o que ocorreu é um suicidio. É tudo muito articulado. Eles querem que a gente toque na instigação ao suicídio. Temos que frisar nas provas que já temos, nós não responsabilizamos o delegado e o investigador pelo suicídio. Queremos que se apure assédio moral e sexual”, disse.

Na última segunda-feira (7), peritos da Polícia Civil conseguiram desbloquear o celular da escrivã. Há a expectativa de que nos materiais dentro do aparelho sejam encontrados novas provas para a investigação. 

Fontes ouvidas pela reportagem disseram que a demora para conseguir desbloquear o celular se deu porque o aparelho possui um sistema de proteção moderno, que exige prazo maior para o acesso do que o eventual. Nesses casos, a Polícia Civil utiliza um software israelense que realiza combinações de possibilidades das senhas para conseguir o acesso ao aparelho.

Investigados realocados e de licença médica


Citados nos áudios como os prováveis autores por assédios sofridos por Rafaela, o delegado Itamar Claudio Netto e o investigador Celso Trindade de Andrade foram transferidos duas vezes após as denúncias. 

Primeiramente, ambos foram realocados para uma delegacia em Conselheiro Lafaiete. Mas, após novos fatos que surgiram na investigação, como a inclusão de uma nova testemunha dos assédios, que estaria trabalhando na nova cidade dos servidores, eles foram novamente transferidos. 

O delegado Itamar estará lotado na Delegacia de Belo Vale, e o investigador Celso foi enviado para a Delegacia de Congonhas. Este segundo, no último dia 18, pediu uma licença médica de 60 dias. O motivo não foi divulgado.
 

Relembre o caso


A escrivã Rafaela Drumond, de 31 anos, tirou a própria vida em 9 de junho, na casa de seus pais no distrito de Antônio Carlos, na Região do Campo das Vertentes. Ela trabalhava em uma delegacia em Carandaí e, meses antes do fato, enviou áudios para a família e amigos relatando situações de abuso e assédio por parte de colegas. O caso ainda está sendo apurado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais. Os suspeitos de assediar a mulher foram transferidos da unidade em que trabalhavam, mas permanecem trabalhando.

Tanto o celular de Rafaela quanto vídeos enviados por ela aos amigos começaram a ser periciados pela Polícia Civill. Nos áudios obtidos pela investigação, Rafaela relata situações de assédio moral e sexual, perseguição, boicote e até uma tentativa de agressão física por parte de um colega de trabalho. Em uma das mensagens, ela explica que não queria tomar providências em relação aos fatos por medo.

"Não quis tomar providência porque ia me expor. Isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Eu deixei, prefiro abafar. Eu só não quero olhar na cara desse boçal nunca mais", narra.

Em outra gravação, a escrivã disse estar cansada dos episódios, que se mostravam recorrentes. Os áudios teriam sido enviados em fevereiro, quatro meses antes da morte de Rafaela. "Eu nem contei para vocês, porque, sabe, umas coisas que me desgastam. Quanto mais eu falo, mais a energia volta. Fiquei calada. Fiquei quieta, na minha, achando que as coisas iriam melhorar. Eu não incomodo muita gente, mas, enfim, agora chega", diz Rafaela, na gravação.


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