O Dia Internacional da Superdotação é comemorado nesta quinta-feira (10/8), e a Associação Mensa Brasil, entidade que reúne pessoas com altas capacidades intelectuais no país, calcula cerca de 2,6 mil brasileiros superinteligentes identificados no território nacional. O ranking separado por estado coloca Minas Gerais em terceiro lugar, com 209 pessoas identificadas pela organização. O número ainda é considerado subnotificado, já que a estimativa é de que cerca de 2% da população mundial têm um QI alto, o que, no caso do Brasil, equivaleria a cerca de 4 milhões de cidadãos.
Ainda segundo mapeamento da entidade, o estado de São Paulo lidera o ranking, com 1226 superinteligentes. Em seguida estão Rio de Janeiro, com 298 pessoas, Minas Gerais, Paraná, com 193, e Rio Grande do Sul, com 115. Atualmente, do total de superinteligentes identificados pela entidade no Brasil, 70% têm entre 19 e 36 anos.
Há um debate sobre a definição do que são consideradas pessoas superdotadas, mas o termo passou a ser popularmente utilizado para identificar quem tem uma inteligência muito acima da média. É comum a associação da superdotação com uma grande capacidade de raciocínio lógico, medida pelos testes de QI, no entanto, alguns especialistas afirmam que essa não é a única e melhor medida para identificar pessoas muito inteligentes. Eles consideram que as “altas habilidades” também existem em outras áreas como cultural, artística, musical e interpessoal.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, do Governo Federal, de 2008, define pessoas com altas habilidade e superdotação aquelas que têm potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes.
A Mensa Brasil utiliza como critério aqueles que se encontram no topo dos dois por cento acima da média de QI mundial. Eduardo Assunção, coordenador da Mensa em Minas Gerais, explica: “A gente tem os testes de QI e temos a média da população. Vamos supor que é 100, então, a Mensa faz um corte do que seria, nessa distribuição, os dois por cento do topo e utiliza esse corte para convidar essas pessoas a se filiar.”.
A forma de seleção é através de testes, que são aplicados em várias cidades e estados do Brasil. “São vários testes aceitos, e cada um tem uma forma diferente de entregar a pontuação, então, não tem uma forma padronizada. Temos uma psicóloga de nível nacional que faz as aprovações. Periodicamente, a Mensa realiza testes pelo Brasil, coletivos e individuais, mas se a pessoa já tiver feito um, ela pode submeter a este também”, explica Eduardo. No Brasil, os testes podem ser aplicados apenas por psicólogos.
Vivências
Além de coordenador local da Mensa, Eduardo, de 38 anos, também é analista de sistemas e é superdotado. Ele conta: “Eu recebia muitos elogios, desde criança, mas ninguém nunca falou que eu era superdotado e nem recebi diagnóstico. Fui sendo estimulado a fazer essas atividades mais complexas, então, eu já tinha a impressão de que eu era mais inteligente que a média”.
“Eu sempre estava à frente da minha turma. Aprendi a ler mais rápido identificando padrões de outras letras que não tinha visto na escola. Além disso, aprendi a falar inglês sozinho e a tocar instrumentos sozinho também”, continua Eduardo. Ele recebeu o diagnóstico de altas habilidades com 29 anos, após realizar o teste da Mensa.
Para o analista, a importância do diagnóstico tem a ver com a identificação e as conexões que ele gera. “Quem é superdotado tem algumas dificuldades e você acaba entrando em um grupo de pessoas que têm problemas parecidos com os seus. Ter essse diganóstico e conviver com pessoas parecidas me fez sair de uma situação em que eu me achava estranho e esquisito para encontrar diversas pessoas parecidas comigo e que eu posso me relacionar com mais facilidade.”, afirma.
Já para Isaac de Almeida, o diagnóstico veio bem mais cedo. Com 5 anos, o menino foi diagnosticado como superinteligente e faz acompanhamento com profissionais da área. Lilian de Almeida, mãe de Isaac, conta: “Ele não frequentava a escola até o ano passado, por causa da pandemia. Então, para nós estava tudo normal, porque nosso único parâmetro é a irmã, que é três anos mais velha.”.
O diagnóstico de Isaac veio após a escola comunicar a família sobre problemas de comportamento que o menino tinha. “Ele chorava muito e chegou até a adoecer, tinha um comportamento muito grande de negação com a escola”, conta a mãe.
Os profissionais não demoraram muito tempo para pensar um diagnóstico. De acordo com Lilian, bastou uma conversa para que os psicólogos e psicopedagogos que atenderam Isaac em uma clínica multidisciplinar de Belo Horizonte sugerissem a superdotação. O menino, que gosta de planetas e astronomia, adora desenhar e, segundo a mãe, possui um vocabulário vasto e gosta muito de conversar com adultos.
“Ele tem 5 anos, está no primeiro ano, já lê, escreve e faz todo conteúdo de uma criança do terceiro. Ele aprende com muita facilidade e passivamente, a irmã mais velha estuda em casa, e ele aprende o conteúdo dela.”, explica Lilian.
No entanto, apesar do lado positivo de ser superinteligente, Lilian enxerga as dificuldades do filho que, segundo ela, deveriam ser mais reconhecidas. “É lindo uma criança tão pequena saber tanto. Mas o quanto custa para criança esse saber? As pessoas enxergando só um lado, deixam de enxergar outras demandas. A gente precisa sempre estar norteando para que ele não pule etapas importantes.”, conta.
Para ela, que teve dificuldades em encontrar profissionais especializados e fez um alto investimento para o diagnóstico de Isaac, deveria existir mais incentivo para conversas a respeito da superdotação. “Deveria ser mais divulgado para que os profissionais enxerguem que existem várias pessoas nesse perfil, mas que não têm a oportunidade de serem identificadas e por desconhecimento”, afirma.
Lilian finaliza: “No primeiro momento, a escola chamou por um comportamento opositor e desafiador. Imagina se tivéssemos deixado de lado ou castigado o Isaac? Nós não teríamos enxergado que, na verdade, não era isso. Se tratava de uma criança que é muito nova e que não sabia dizer de outra forma como estava se sentindo”.
*Estagiária com supervisão do subeditor Diogo Finelli