Jornal Estado de Minas

TRADIÇÃO

Animação e colorido das Festas de Agosto invadem ruas de Montes Claros

A partir desta quinta-feira (17/8), as ruas do Centro de Montes Claros serão tomadas pela alegria, animação, música e devoção dos grupos de catopês, marujos e caboclinhos. Eles são os astros das Festas de Agosto, que movimentaa cidade até o próximo domingo (20/8), com a expectativa de atrair milhares de visitantes.  

 

A partir das 9h desta quinta-feira, acontece o cortejo de Nossa Senhora do Rosário, o primeiro evento das festas nas ruas centrais da cidade, que estão enfeitadas com uma decoração especial para receber os grupos folclóricos e visitantes. Além da parte religiosa, o evento conta com uma programação de apresentações musicais e barraquinhas de comidas típicas, que também vai até domingo.





 

Realizadas há quase dois séculos, as Festas de Agosto de Montes Claros são as manifestações folclóricas mais antigas de Minas Gerais. No ano que vem, as festividades serão levadas para a Marquês de Sapucaí no desfile do Carnaval do Rio de Janeiro. A Escola de Samba Unidos de Niterói, do grupo Ouro do carnaval carioca, terá como samba-enredo o tema “Catopês: Céu de Fitas”.

 

Uma equipe da escola de samba de Niterói veio a Montes Claros para pesquisar e acompanhar os cortejos das festas centenárias, a fim de reunir elementos para os ritmos, alas, alegorias, fantasias e adereços que a agremiação vai levar para a Sapucaí no Carnaval de 2024.

 

A equipe é integrada pelo presidente da Acadêmicos de Niterói, Hugo Junior; pelo carnavalesco Tiago Martins; pelo diretor e produtor Cláudio Andrade; e por um pesquisador e um enredista da agremiação.





 

No carnaval de 2023, a Acadêmicos de Niterói conquistou o quinto lugar na Série Ouro do Carnaval carioca, ficando na frente de outras conhecidas escolas de samba que já passaram pelo Grupo Especial, como União da Ilha, São Clemente e Estácio de Sá.

 

O presidente da agremiação, Hugo Junior, anuncia que a meta da escola com o enredo sobre os catopês em 2024 é conquistar o titulo de campeã na série Ouro e subir para o Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro. Para isso, a escola aposta na força cultural e histórica e na diversidade das Festas de Agosto, que carregam elementos da formação da povo brasileiro, com representação dos negros (catopês), português/homem branco (marujos) e indígenas (caboclinhos).

 

Segundo Hugo Junior, para levar os catopês e as Festas de Agosto para Marquês de Sapucaí, a escola de Niterói vai desfilar com 17 alas, com cerca de 2,1 mil integrantes, destacando três carros alegóricos.





 

As Festas de Agosto chegam a 182ª edição oficialmente (na prática, segundo registros históricos, elas ocorrem há 184 anos) com outra novidade: foi iniciada uma ação para que as manifestações sejam reconhecidas como patrimônio imaterial nacional. A Prefeitura do município, por meio de um decreto, criou uma comissão especial para atuar em busca desse reconhecimento.

 

Neste ano, os seis grupos folclóricos das Festas de Agosto de Montes Claros vão desfilar com novos  figurinos, calçados e instrumentos. A Associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos recebeu uma doação de R$ 300 mil do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), viabilizada pelo procurador-geral de Justiça do estado, Jarbas Soares Junior, para a compra de roupas, instrumentos e outros materiais.

 

Por outro lado, A Receita Federal, por intermédio do Projeto “Receita do Amor”, doou para os dançantes cerca de 150 pares de tênis e mais de 500 camisetas. Os materiais foram apreendidos em operações da Receita Federal. A doação contou também com a parceria da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) e da Polícia Penal de Minas Gerais.





Os calçados e camisetas, antes de serem doados para os grupos folclóricos, passaram por um serviço de descaracterização (retirada das etiquetas e marcas dos produtos) feita por detentos da Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá, na mesma região. Para realizar a descaracterização, eles receberam uma capacitação, oferecida pela Unimontes e pelo IFNMG.


O presidente da Associação dos Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, João Pimenta dos Santos Junior, o mestre Zanza Junior, afirma que, ao todo, as festas reúnem em torno de 700 dançantes. Ele afirma que as doações das novas roupas e calçados e a escolha dos catopês como tema do samba-enredo da escola de samba fluminense trouxeram um novo espírito para as festividades centenárias.


“Os grupos folclóricos estão muito bem organizados e bem paramentados. Eles estão preparados, com instrumentos, vestimentas e adereços, oferecendo uma festa esplêndida para o público da cidade para os visitantes”, assegura o mestre Zanza Junior.





 

Ele também enaltece a relevância da manifestação folclórica do Norte de Minas ser escolhida como tema de uma escola de samba. “A escolha dos catopês como tema do samba-enredo no carnaval do Rio de Janeiro é uma coisa extraordinária. É um sonho que estamos vivendo. Será uma oportunidade para mostrar a nossa cultura para todo Brasil e também para o fora do país, pois o carnaval é um palco do mundo”, avalia Zanza.

 

Programação

Nesta  quinta-feira (17/8), às 9h, acontece o Cortejo de Nossa Senhora do Rosário (cores branca e azul), iniciando os desfiles das Festas de Agosto 2023 de Montes Claros. O “reinado” sairá da Praça do Automóvel Clube em direção à Igrejinha do Rosário.

 

Com o mesmo trajeto, nesta sexta-feira (18), será realizado o Reinado de São Benedito (cores branca e rosa). Na manhã de sábado (19), a atração será o desfile do Império do Divino Espírito Santo (cor vermelha). Na tarde de domingo (20), haverá o desfile de encerramento, envolvendo os cortejos de Nossa Senhora do Rosario e São Benedito e o Império do Divino Espírito Santo.





 

Durante o período das Festas de Agosto, à noite, acontece uma programação musical na Praça da Matriz, no Centro de Montes Claros, marcando o 43º Festival Folclórico de Montes Claros. Além de shows artísticos, o festival conta com barraquinhas de artesanato e de comidas típicas.

 

Na programação está incluída ainda uma exposição de bonecos do Grupo Giramundo, no Centro Cultural, localizado na Praça da Matriz. O Museu Regional do Norte de Minas, vinculado à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e situado no centro histórico da cidade, também conta com exposições temáticas, relacionadas com as Festas de Agosto.

 

História das Festas de Agosto de Montes Claros

 

Oficialmente, de acordo com o livro “Montes Claros: sua História, sua Gente, seus Costumes”, do historiador Hermes de Paula, o primeiro registro de realização das Festas de Agosto na cidade é de 1839, há 184 anos. O historiador também afirma que as festividades marcaram a coroação do Imperador Dom Pedro II em 1841. O evento não ocorreu nos anos de 2020 e 2021, por causa da pandemia da COVID-19.





 

No entanto, segundo o pesquisador e doutor em Antropologia João Batista Almeida Costa, professor aposentado da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), as Festas de Agosto teriam sido iniciadas bem antes do ano registrado por Hermes de Paula.

 

Segundo Costa, o explorador francês August de Saint-Hilaire fez o primeiro registro das festas em 1817, no livro “Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais”, publicado em 1822.

 

“O surgimento das Festas de Agosto tem várias temporalidades. A primordial, ou seja, a origem da mesma, está vinculada aos festejos da Senhora do Rosário e se perde no tempo", diz Costa.

 

"O viajante francês Saint-Hilaire, quando passa pelo Arraial das Formigas dos Montes Claros de Nossa Senhora e São José, no mês de agosto, informa em seu relato a realização do festejo com o batuque dos negros. Como ele não suportava o toque dos tambores, foi conhecer as minas de salitre que existiam no entorno do arraial, e também a Lapa Grande, onde deixou sua assinatura numa das paredes”, descreve o pesquisador.

 

O antropólogo Costa também garante que os festejos de São Benedito e do Divino Espírito Santo foram “juntados” à Festa de Nossa Senhora do Rosário em 1910, por determinação do primeiro bispo da cidade, dom Joao Pimenta. “Os marujos que festejavam em maio o Divino Espírito Santo e os Caboclinhos, que festejavam São Benedito em outubro, se agregaram aos festejos dos Catopês à Senhora do Rosário”, explica.