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Estado de Minas INJÚRIA RACIAL

Garçom impedido de usar tranças em restaurante japonês de BH pede demissão

Preparado para uma festa, o rapaz de 25 anos foi surpreendido com ofensas de sócia e contadora do restaurante em que trabalhou por 4 meses


22/08/2023 19:06 - atualizado 22/08/2023 19:13
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Higor ao lado dos prints
Higor Antero, de 25 anos, acusa o restaurante, uma das sócias e uma contadora que prestava serviços para o local de injúria racial (foto: Arquivos Pessoais)
Higor Antero, de 25 anos, que trabalha como garçom, denunciou ter sofrido injúria racial de uma sócia e de uma contadora do restaurante Sushi Naka BH na manhã de sábado (19/8), na região Centro-Sul. O caso foi divulgado pelas redes sociais dele. O caso foi relatado por Higor em vídeo divulgado nas redes sociais. Na gravação, ele, que é negro, afirma ter sido impedido de trabalhar no estabelecimento depois de ter chegado com tranças. 

Segundo o relato, ao chegar no restaurante na Savassi, onde já trabalhava havia 4 meses de carteira assinada, Higor foi recebido com expressões de surpresa de uma das sócias, que impediu o rapaz de trabalhar com o cabelo trançado. “Eu fiquei muito perplexo. Não debati, não respondi, fiquei calado. Tomei meu café e, quando fui falar com o marido dela, ela apareceu muito nervosa”, conta o rapaz ao Estado de Minas. Segundo ele, nesse momento que a sócia pediu para que ele fosse embora.
 
 
“Não acreditava que estava acontecendo aquilo, fiquei muito magoado”, diz Higor, que estava arrumado para uma festa posterior ao expediente. O rapaz procurou ajuda junto a uma contadora, que atuava como gestora contábil, além de gerir férias, atestados e pagamentos.

Por mensagens, a contadora respondeu que Higor “trabalha com japonês, não com brasileiro que é oba oba”, e também perguntou se o rapaz “trabalhava na feira hippie” e se ele “não iria tirar as tranças”. Após o incidente, o contrato da contadora terceirizada foi encerrado. O restaurante diz que ela tentou ajudar o rapaz.

“Para mim foi a gota d'água. Ao invés de ajuda, recebi outra pedrada. Chegando em casa chorei bastante e conversei com minha mãe”, conta Higor. Depois, ele procurou um advogado que o orientou a fazer um vídeo denunciando a situação. Segundo o rapaz, outras pessoas responderam suas mensagens, dizendo que quando trabalharam no restaurante também sofreram pressão psicológica, da mesma sócia.
 
Higor também relatou ao Estado de Minas que, após ter feito a denúncia, recebeu mensagens de apoio e de ex-empregados do estabelecimento que relataram também terem sofrido pressão no ambiente de trabalho.  Sushi Naka diz que, em seus 35 anos de funcionamento, o caso de Higor é o primeiro desse tipo.

O restaurante divulgou uma nota à imprensa. Leia na íntegra:

“A empresa repudia qualquer ato dessa natureza, sobretudo por sua origem oriental. O restaurante tem mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores e segue todas as normas e deliberações da vigilância sanitária.

A pessoa que realizou as trocas de mensagem com o colaborador já se encontra, a partir de hoje, com o contrato de prestação de serviços  cancelado. 

Lembramos que ela era uma profissional terceirizada e não tinha autorização para falar em nome do estabelecimento.

Ressaltamos que o fato está sendo apurado internamente com todo respeito a cultura étnica.”

Higor registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) contra o restaurante, a sócia e a contadora. Ele também busca rescisão e não foi trabalhar na segunda-feira (21/8), quando foi às autoridades. A PCMG disse que irá apurar os fatos.
 
Sobre o pedido de recisão, o restaurante diz que "o colaborador continua no quadro de funcionários e a empresa informa que até o momento não recebeu nenhum contato do colaborador.  As medidas a serem tomadas a respeito da rescisão estão sendo estudadas e analisadas. Assim que forem definidas, a imprensa será comunicada."
 
*Estagiário sob a supervisão do subeditor Fábio Corrêa 


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