Um dia depois de mais um grave acidente no Anel Rodoviário, uma audiência pública foi realizada na Câmara Municipal de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (23/8), para discutir a construção de uma nova área de escape para o local, além da adoção de outras medidas que podem ajudar a evitar os constantes acidentes.
Na semana passada, o prefeito Fuad Noman (PSD) anunciou um conjunto de obras em pontos do Anel, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-3). Entre eles, há previsão de construção de uma nova área de escape. Porém, de acordo com a Prefeitura de BH, ainda não há local definido para a construção do equipamento de segurança.
A audiência pública da Comissão de Administração Pública da Câmara de BH contou com a presença de vereadores, especialistas e representantes de órgãos envolvidos com a administração do Anel. Todos concordam que a construção da nova área é essencial para evitar acidentes no local. Além disso, os números mostram a efetividade da área já existente, localizada na altura do Km 541 da BR-040, próximo ao Bairro Betânia, na Região Oeste da capital mineira.
O vereador Irlan Melo (Patriota) avalia como prioridade a construção dessa segunda área de escape. O diretor de Sistema Viário da BHTrans, José Carlos Mendanha Ladeira, detalhou como foi feita a escolha do local da primeira aérea e explicou os critérios para a definição. "São estudos de velocidade, declividade, distância de parada, profundidade das britas que promovem a frenagem."
Ele disse que o profissional contratado assinou parecer técnico atestando que, das três áreas potenciais, a única possível de receber o equipamento é o local da área de escape já existente.
O assessor de Relações Institucionais na Via 040, Frederico Souza, explicou que a concessionária não é responsável pela operação da área de escape. Ela dá suporte à BHTrans atuando para desobstruir a pista e fazer a sinalização adequada. Souza afirma ainda que, apesar da importância, a área de escape deve ser o último recurso a ser utilizado. "Quando todos os outros já falharam", acrescentou.
Ele lembrou do acidente com os torcedores do Corinthians na madrugada de domingo, na BR-381, e destacou a fiscalização, já que o veículo estava em situação irregular e não tinha licença para fazer transporte de passageiros.
O vereador Irlan Melo cobrou que o novo edital de concessão da BR-040 deveria prever investimentos para a área do Anel.
Ponto de checagem de freios
O vereador Braúlio Lara (Novo) detalhou uma medida de segurança complementar que também poderia ser adotada para evitar acidentes: a implementação de pontos de checagem de freios. Um ponto que poderia receber o posto é no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, onde funcionava um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Todo caminhão deveria parar e fazer um procedimento de checagem dos freios. Lara cita que o procedimento poderia ter evitado o acidente com o ônibus dos torcedores do Corinthians.
O especialista em segurança viária, Frederico Rodrigues pontua que é uma medida implementada no Canadá. Segundo ele, o problema seria com a regulamentação. Ele questiona qual o instrumento adequado para implantar a medida nas rodovias brasileiras.
"Lá no Canadá, ela está prevista no manual de sinalização deles. Tem o respaldo jurídico para fazer. Qual órgão seria o competente para fazer a fiscalização? Todos os veículos seriam parados e qual o contingente de funcionários da Polícia Rodoviária Federal seriam mobilizados?", questiona.
Ele afirma que, no Canadá, todos os veículos de carga são obrigados a parar. "Apesar disso, fisicamente é uma ideia ótima, de baixo custo e de implementação mais rápida", avalia.
Placas de sinalização
O acidente de terça-feira (22/8), na descida do Bairro Betânia, Região Oeste de BH, aconteceu três quilômetros depois da área de escape. Segundo o motorista do caminhão, ele percebeu que os freios não estavam funcionando assim que passou pela área.
Desde a entrada do Anel Rodoviário, na BR-040, no sentido Vitória, há cinco placas de sinalização avisando sobre a área de escape. Em algumas, há pedido para que os motoristas verifiquem o funcionamento dos freios. A primeira fica a 100m, a segunda a 400 m, a terceira aparece 500 m depois, a quarta a 1 km, a quinta a 1,4 km. A sexta está a 1,5 km, já na área de escape. O acidente aconteceu a 4,2 km da entrada.
O especialista em segurança viária explica que não existe uma distância determinada para o motorista perceber que perdeu o freio até parar o veículo. Mas afirma que o que gera perda de freio em veículos pesados é frear constantemente. Ele destaca que a descida onde ocorreu o acidente começa no bairro Jardim Canadá.
"Tivemos vários motoristas que perceberam a perda de freio antes e tomaram a decisão de entrar na área de escape. Se ele realmente começou a perceber só depois dali, é difícil inferir. Às vezes ele avalia que vai conseguir e não dá certo", explica.
Para a implementação da segunda área de escape, Rodrigues avalia que ela poderia ser construída antes do KM 538, próximo à Via do Minério, abaixo da que existe atualmente. "Ali é um terreno vago, que não precisa de desapropriação. Além disso, o posicionamento é muito bom, depois desse ponto a via fica plana e é antes do ponto que forma o congestionamento do Pontilhão do Betânia. Ali é um dos melhores locais possíveis", diz.
Campanha orienta motoristas
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está fazendo uma campanha educativa com distribuição de materiais informativos aos caminhoneiros sobre a importância do uso da área de escape, em caso de problemas com os freios dos veículos. A ação ocorre em postos de gasolina, restaurantes e empresas do ramo de logística no entorno da via.
Mais de 6 mil panfletos já foram distribuídos por agentes da BHTrans. Entidades parceiras, como as polícias rodoviárias estadual e federal, e Associações de Caminhoneiros, também estão mobilizadas na campanha