Jornal Estado de Minas

TRANSPORTE PÚBLICO

Tempo gasto no transporte reduz produtividade, dizem brasileiros

Mais de um terço dos moradores das grandes cidades brasileiras passam mais de uma hora por dia no trânsito. O dado foi divulgado nesta terça-feira (22/8) por uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que também revelou que 55% das pessoas têm a qualidade de vida afetada em razão do tempo gasto no transporte. Em Belo Horizonte, a falta de alternativa é uma das razões para aumentar esse número. 




A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Pesquisa em Reputação e Imagem com a população economicamente ativa (PEA) brasileira em municípios a partir de 250 mil habitantes. Foram entrevistados presencialmente 2.019 pessoas com idade a partir de 16 anos, em todos os estados e Distrito Federal. 

O tempo médio de locomoção varia a cada região do país, sendo que a maioria (26%) dos entrevistados gasta de 30 minutos a 1 hora por dia no trânsito. Outros 21% gastam entre 1h e 2h, e 8% ficam mais de 3h no transporte. 

Todo esse tempo gasto nos deslocamentos diários causa estresse na população e pode desencadear transtornos de diversos tipos. Na pesquisa, 55% afirmam ter a qualidade de vida afetada e 51% consideram que essa situação causa impactos negativos na produtividade. 





De acordo com o doutor em psicologia social Cláudio Paixão, a produção hormonal que gera o estresse coloca os nervos ‘à flor da pele’ e deixa as pessoas mais agressivas e, a longo prazo, desencadear transtornos psicológicos como ansiedade, depressão, além do consumo de substâncias para buscar o relaxamento, como álcool. 

“Na origem, o estresse serve para nos ajudar a sobreviver, ficar estressado é preparar para um embate. Na vida cotidiana, especialmente no trânsito, não se pode largar o carro, ônibus ou metrô e ir embora. Também não há formas de lutar contra isso, porque a pessoa não pode, literalmente, empurrar veículos da frente”, explica. A reação prepara o corpo, mas sem a ‘queima’, o excesso de adrenalina (hormônio do estresse), pode gerar até problemas digestivos.  
Embora difíceis, as horas no trânsito podem ser aproveitadas para que não se tenha a impressão de que aquele tempo foi perdido. “ pode ouvir um podcast ou algo que distraia e ajude a sentir que aquele tempo não foi desperdiçado. Outra forma é criar uma rede de amigos nesse espaço, dando caronas ou conversando com quem esteja no transporte coletivo”, diz o especialista. 

Quem aproveita os longos períodos gastos no ônibus é a estudante Hully Carolina, de 19 anos. Ela passa um quarto do dia dentro do transporte e busca atividades para preencher esses momentos. “Contando o dia inteiro, são 6h em ônibus. Moro no Barreiro e para chegar na Savassi são quase 2h. Do trabalho, vou para a faculdade e depois para casa. Graças a Deus, consigo ir sentada na maioria das vezes, mas não é bom. Ainda assim, tento ler um livro e planejar o que preciso fazer no dia, para o tempo não passar em vão”, conta. 




Belo Horizonte

população de BH pode ter diminuído no Censo 2022, mas a quantidade de pessoas trabalhando na capital e o número de veículos transitando só aumenta. Para o engenheiro de trânsito e coordenador dos laboratórios Nucletrans e Transcolar da UFMG Marcelo Franco, os problemas seriam resolvidos com a implantação de metrô e sistema de trânsito inteligente. 

“Temos gargalos constantes. O que falta em BH é o transporte sobre trilhos, não tem VLT nem metrô, esses são veículos que dão grande acessibilidade para a cidade. Outra solução, até mais imediata, é a implantação de sistemas inteligentes, com semáforos pré-programados, mas que se conectam com centrais de controle e permitem reprogramação a depender do tráfego naquele momento, para a via fluir melhor”, diz.

Tempo médio diário gasto de locomoção

  • 26% - De 30 min/dia a 1h/dia
  • 24% - De 15 min/dia a 30 min/dia
  • 21% - De 1h/dia a 2h dia
  • 12% - Até 15 min/dia
  • 8% - Mais de 3h/dia
  • 7% - De 2h/dia a 3h/dia 

O que dizem os usuários

(foto: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
“Gasto 2h30 por dia. É horrível, o ônibus é cheio, quebrado, motorista estressado.”




Vilciane Alessandra, 49 anos, auxiliar de saúde bucal

(foto: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
“Contando o dia inteiro, são 6h por dia. Moro no Barreiro, para chegar na Savassi são quase 2h. Do trabalho, vou para a faculdade e depois para casa. Garças a Deus, consigo ir sentada na maioria das vezes, mas não é bom. Ainda assim, tento ler um livro, pensar nas coisas que preciso fazer no dia, para o tempo não passar em vão.”
Hully Carolina, 19 anos, estudante


(foto: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
“Moro na Região do Barreiro e passo 2h por dia no transporte. É desconfortável, sempre muito cheio. Ou senta no chão ou fica em pé."
Eduardo Jorge, 54 anos, contabilista


(foto: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
“Moro em São José da Lapa, na RMBH, e são 4h diárias no ônibus. Acho horrível, mas tento otimizar esse tempo e baixo aplicativos que agreguem em algo, como de idiomas ou assisto uma série”
Giovanni Ferreira Santos, 25 anos, vendedor