Inspirados pelo aumento de casos de dengue e chikungunya, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury, conduziram um estudo de vigilância epidemiológica das arboviroses, doenças transmitidas causadas por vírus transmitidos, principalmente por mosquitos. O objetivo é acompanhar o cenário da distribuição e dos determinantes das doenças e emitir alertas para o sistema público de saúde.
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Durante os picos da epidemia a taxa de coinfecção esperada é de 2% a 3% e, neste ano, saltou para 11%. Os dados foram coletados a partir da comparação da taxa de positividade para arboviroses nos intervalos de 1º de janeiro a 29 de julho nos anos de 2022 e de 2023, quando ocorreram picos de casos de arboviroses. Foram usadas amostras positivas para arboviroses, em exames de diagnóstico sorológico (IgM) e molecular (antígeno e PCR), de 14 estados de todas as regiões do Brasil, incluindo os quatro mais populosos: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.
Qual a motivação para o aumento?
De acordo com a bióloga Danielle Zauli, coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento do Hermes Pardini/Grupo Fleury, uma possível explicação para o destaque nos números de diagnósticos em Minas Gerais é a existência de fronteira com estados de outras regiões. Segundo Danielle, o monitoramento nas áreas de divisas estaduais é de extrema importância.
“Nossos resultados reforçam que a dengue é uma doença endêmica no Brasil, circula em todo o território. Quanto aos casos de chikungunya, diferentemente do que ocorre com a dengue, a pesquisa concluiu que eles estão associados a eventos mais recentes de importação desse vírus de estados do nordeste”, afirma.
Sobre o aumento do número de coinfecção, os pesquisadores citam os altos índices de chuvas em 2022 e 2023 como possível motivador. O crescimento do número de mosquitos que utilizam água parada para reprodução, além da interrupção das campanhas de prevenção e controle de vetores decorrentes da pandemia de covid-19, são causas prováveis para o cenário.
O coordenador do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Renato Santana, defende a manutenção dos programas e medidas de prevenção e controle das arboviroses no Brasil. “É necessário acompanhar os sintomas e a evolução clínica dos casos de coinfecção e reforçar o controle dos vetores Aedes aegypti no Brasil”, recomenda.
Importância do diagnóstico
Melissa Valentini, infectologista do Hermes Pardini, acredita que o resultado da pesquisa mostra a necessidade de alertar a população para a importância da testagem para arboviroses. De acordo com ela, as doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti, como zila, chikungunya e dengue, têm quadros clínicos semelhantes e, em sua maioria, a diferenciação só pode ser confirmada com testes laboratoriais.
“Em casos suspeitos de dengue ou chikungunya, como os sintomas são agudos e semelhantes, deve-se recomendar ao paciente fazer o diagnóstico diferencial, que favorece acompanhamento e conduta clínica adequados. Existem testes específicos para dengue, zika vírus e chikungunya. O diagnóstico correto é importante para que as autoridades de saúde possam tomar as medidas necessárias para controle da doença e para que os médicos possam dar o tratamento apropriado ao paciente”, enfatiza a médica.
O estudo utilizou um teste molecular doados pelo instituto de tecnologia em imunobiologia Biomanguinhos e que é capaz de detectar simultaneamente vários vírus. Além disso, a pesquisa contou também com recursos do Instituto Todos pela Saúde (ITPs) e do Ministério da Ciência e Tecnologia, que ampliou a rede dedicada à covid-19 para vigilância de outros vírus.
Quais são as campanhas realizadas pela Prefeitura?
À reportagem do Estado de Minas, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), informa que realiza ações de combate e prevenção ao mosquito Aedes aegypti durante todo o ano. Algumas das iniciativas incluem a vistoria de imóveis e orientações sobre os riscos de acúmulo de água, que podem se tornar potenciais criadouros do mosquito. De acordo com a PBH, em 2023, foram realizadas cerca de 3 milhões de vistorias com instruções de como eliminar focos e aplicação de biolarvicidas.
Em nota, o órgão ainda afirmou que a Secretaria Municipal de Saúde realiza a aplicação de inseticida para o combate a mosquitos adultos em áreas com casos suspeitos de transmissão local, além da utilização de drones para a aplicação de larvicida diretamente nos pontos de risco de difícil acesso.
Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde realiza a aplicação de inseticida a Ultra Baixo Volume (UBV) para o combate a mosquitos adultos em áreas com casos suspeitos de transmissão local e também utiliza drones para a aplicação de larvicida diretamente nos pontos de risco, quando estes são de difícil acesso.
O órgão municipal destacou a utilização do método Wolbachia desde 2020, que consiste na liberação de mosquitos que carregam a bactéria e têm capacidade reduzida de transmitir os vírus para a população.
“Outra ação continuada da Prefeitura é o monitoramento do Aedes aegypti, por meio de cerca de 1.800 armadilhas para colocação de ovos (ovitrampas), que são instaladas quinzenalmente e recolhidas após sete dias. O acompanhamento permanente desses resultados permite identificar os locais com maior número de ovos do vetor e, indiretamente, maior número de mosquitos adultos. Além disso, auxilia no direcionamento das ações de intensificação, a exemplo dos mutirões de limpeza, em parceria com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU).”, finalizou a nota.
E pela Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais?
Quando procurada pela reportagem, a SES-MG destacou as seguintes ações de enfrentamento à dengue, chikungunya, zika e febre amarela:
- Início das obras da biofábrica que produz mosquitos com Wolbachia (bactéria) que ajudam no controle das arboviroses, doenças causadas por vírus transmitidos pelo Aedes aegypti.
- Realização de reuniões do Comitê Estadual de Enfrentamento das Arboviroses (CEEA) a fim de deliberar sobre as ações a serem realizadas.
- Reuniões com as equipes técnicas municipais e regionais
- Repasse financeiro via Resolução Estadual para os 853 municípios fortalecerem atividades de enfrentamento às Arboviroses;
- Envio de equipes técnicas de mobilização, assistência, vigilância e controle vetorial que apoiarão os trabalhos de campos em municípios com situações mais críticas e liberação de inseticidas para serem distribuídos para os municípios pelas URS, a fim de auxiliar no controle vetorial.
- Distribuição de inseticidas e equipamentos para realização das atividades de controle vetorial.
- Realização de ações educativas para aprimoramento do processo de trabalho na prevenção e controle das Arboviroses, como o curso de Capacitação de Supervisores de Campo elaborado pela SES, dentre outros.
- Monitoramento e execução das ações previstas no Plano Estadual de Contingência, bem como o suporte para elaboração e acompanhamento dos Planos Municipais de Contingência (PMC);
- Realização de ações de educação em saúde e comunicação com o objetivo de informar sobre as medidas de prevenção das Arboviroses ;
- Monitoramento constante dos casos e dos níveis de infestação do vetor Aedes, como das epizootias de Primatas Não Humanos (PNH) para identificar alterações no comportamento das Arboviroses e assim iniciar as ações em momento oportuno.
- Elaboração de uma política estadual sobre arboviroses e atuação do Plano de Estadual de Contingências das Arboviroses para o próximo período sazonal.
- Além dessas ações, divulgação do Levantamento Rápido de Índices para Aedes Aegypti (LIRAa/LIA). O indicador traz informações detalhadas da infestação do mosquito nos municípios mineiros e dos reservatórios que acumulam água parada onde a larva do mosquito teve maior recorrência.
A secretaria ainda afirmou em nota que: “a perspectiva é de redução no número de casos, uma vez que o período de sazonalidade do mosquito Aedes Aegypti compreende os meses de dezembro a maio. Apesar disso, é muito importante que a população mantenha os cuidados na prevenção e combate ao mosquito dentro de suas casas”.
*Estagiária com supervisão do subeditor Diogo Finelli.