A família da escrivã Rafaela Drumond, que tirou a própria vida no dia 9 de junho deste ano, vai à Justiça pedir indenização do governo do Estado. O inquérito que investiga as causas que levaram à morte da ex-servidora da instituição deve ser concluído até a próxima semana.
De acordo com Hugo Viol Faria, advogado da família, o pedido vai servir para responsabilizar o governo pela forma em que Rafaela era tratada na instituição. “O suícidio é um conjunto de causas. Estamos com uma ação de indenização para entrar contra o estado. Dinheiro não importa, mas há de ser movido em face da responsabilidade do estado. Como uma pessoa entra na instituição após passar por um psicotécnico rigoroso e não é afastada após mostrar instabilidade? É de responsabilidade do estado isso”, explicou.
Nesta semana, a perícia no celular da escrivã foi finalizada. Essa era uma das partes finais da investigação. No aparelho, estavam guardadas as mensagens, áudios e vídeos que mostram situações pelas quais Rafaela passava diariamente na delegacia em que trabalhava.
“Com a perícia concluída, estamos com previsão de o relatório final do inquérito ser enviado na semana que vem para o Fórum. Eles disseram que a perícia foi feita de forma integral, conseguiram acessar todos os dados. Dali em diante, dá-se início à sindicância interna da Polícia Civil”, disse o advogado.
A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a Polícia Civil e aguarda retorno.
Investigados realocados e de licença médica
Citados nos áudios como os prováveis autores por assédios sofridos por Rafaela, o delegado Itamar Claudio Netto e o investigador Celso Trindade de Andrade foram transferidos duas vezes após as denúncias.
Primeiramente, ambos foram realocados para uma delegacia em Conselheiro Lafaiete. Mas, após novos fatos que surgiram na investigação, como a inclusão de uma nova testemunha dos assédios, que estaria trabalhando na nova cidade dos servidores, eles foram novamente transferidos.
O delegado Itamar estará lotado na Delegacia de Belo Vale, e o investigador Celso foi enviado para a Delegacia de Congonhas. Este segundo, no último dia 18, pediu uma licença médica de 60 dias. O motivo não foi divulgado.
Relembre o caso
A escrivã Rafaela Drumond, de 31 anos, tirou a própria vida em 9 de junho, na casa de seus pais no distrito de Antônio Carlos, na Região do Campo das Vertentes. Ela trabalhava em uma delegacia em Carandaí e, meses antes do fato, enviou áudios para a família e amigos relatando situações de abuso e assédio por parte de colegas. O caso ainda está sendo apurado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais. Os suspeitos de assediar a mulher foram transferidos da unidade em que trabalhavam, mas permanecem trabalhando.
Tanto o celular de Rafaela quanto vídeos enviados por ela aos amigos começaram a ser periciados pela Polícia Civil. Nos áudios obtidos pela investigação, Rafaela relata situações de assédio moral e sexual, perseguição, boicote e até uma tentativa de agressão física por parte de um colega de trabalho. Em uma das mensagens, ela explica que não queria tomar providências em relação aos fatos por medo.
"Não quis tomar providência porque ia me expor. Isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Eu deixei, prefiro abafar. Eu só não quero olhar na cara desse boçal nunca mais", narra.
Em outra gravação, a escrivã disse estar cansada dos episódios, que se mostravam recorrentes. Os áudios teriam sido enviados em fevereiro, quatro meses antes da morte de Rafaela. "Eu nem contei para vocês, porque, sabe, umas coisas que me desgastam. Quanto mais eu falo, mais a energia volta. Fiquei calada. Fiquei quieta, na minha, achando que as coisas iriam melhorar. Eu não incomodo muita gente, mas, enfim, agora chega", diz Rafaela, na gravação.