Lalesca Pereira dos Santos, uma das mulheres presas suspeitas de manter em cárcere privado e abandonar dois meninos em um apartamento no Bairro Lagoinha, na Região Noroeste de Belo Horizonte, foi solta. A mulher de 29 anos estava presa desde o dia 20 de março no Complexo Feminino Estevão Pinto, na Região Leste de Belo Horizonte. Ela é filha de Terezinha Pereira dos Santos, tida como a falsa avó dos meninos e também acusada de mantê-los em cárcere privado.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, Lalesca deixou a penitenciária na manhã desta quarta-feira (13/9) por decisão da Justiça. A mulher, junto com outras três pessoas, foi acusada por abandono de incapaz e cárcere privado.
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Os meninos ficaram internados por cerca de 15 dias. Eles foram acompanhados pela equipe do Conselho Tutelar da Prefeitura de Belo Horizonte e pelo tio materno, que veio de Valparaíso de Goiás quando soube da morte de um terceiro sobrinho, Emanuel, também em fevereiro deste ano.
Para o Ministério Público, Lalesca e a mãe, Terezinha, são responsáveis pelo abandono dos meninos. A mulher mais velha, inicialmente identificada como avó das crianças, também seria responsável por mantê-las em “intenso sofrimento físico e psicológico, para aplicar castigo pessoal”.
Dentro do apartamento em que os meninos estavam, policiais militares que fizeram o resgate encontraram um colchão de solteiro no chão, vasilhas sujas na cozinha e nenhuma comida. Conforme o boletim de ocorrência, as crianças foram encaminhadas para o Hospital Odilon Behrens com quadro de desnutrição e desidratação severa.
A reportagem procurou a defesa de Lalesca, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta.
O que dizem os meninos
Dias depois de darem entrada no Hospital Odilon Behrens, os dois meninos resgatados no apartamento de BH participaram de uma entrevista de Escuta Especializada, realizada por um perito da Polícia Civil. De acordo com o relatório, ao qual a reportagem do Estado de Minas teve acesso, o menino de 9 anos contou sobre o dia em que ele e o irmão foram encontrados pela vizinha do imóvel da Rua Itapecerica, no bairro Lagoinha.
Conforme relato, as crianças teriam ficado sozinhas de 3 a 4 dias. Antes do abandono, estavam no imóvel Terezinha, Lalesca e suas filhas. Dias depois, as mulheres foram embora, deixando os garotos trancados em cômodos diferentes. Segundo o menino, um deles ficou debaixo do sofá e o outro dentro de um armário. Ao perceber que as mulheres não iriam voltar, ele acabou saindo de onde estava e indo ao encontro do irmão, que estava chorando e pedindo comida. Foi quando ele decidiu acionar a vizinha alegando fome.
Sobre como era a vida antes de ir para o apartamento no Bairro Lagoinha, o menino disse que morava com a mãe e os irmãos em um sítio de Terezinha, em São Joaquim de Bicas. Ele afirma que o terreno era grande, "uns quatro lotes", com várias casas, "uma pior que a outra". Lá, ele e o irmão ficavam em um quarto que tinha um buraco na parede.
Era comum que os meninos ficassem afastados um do outro, isso porque, segundo o menino, Terezinha dizia que eles não davam certo juntos. Além disso, no sítio as crianças não podiam ver televisão, apenas trabalhar. À perita, ele contou que era responsável por carregar terra e água, molhar plantas, cavar buracos "com ferramenta pesada" e capinar. As tarefas também eram repassadas para as outras crianças.
Ao ser questionado sobre sua ida à escola, o garoto afirmou que Terezinha não queria matriculá-lo em nenhuma instituição de ensino, porque eles poderiam "ficar fazendo fofoca" de que ela os colocava para trabalhar.
Em relação aos machucados pelo seu corpo, ele informou que foram causados por excesso de trabalho ou por ter apanhado. A criança disse que um machucado em seu pulso foi feito por Diego, filho de Terezinha, quando o teria pegado tentando "caçar" comida. Ainda segundo o relato, Terezinha ajudava o filho a agredir as crianças, chegando a colocar um pano em suas bocas para que não gritassem.
Sobre a relação com a mãe, o filho contou que ela já teve três namorados, e que todos a espancavam. De acordo com o menino, desde o dia que a mãe conheceu o padrasto ela "ficou má", e sempre batia nos filhos.
*Com Pedro Faria