Uma parte da história da arte de Minas Gerais foi parar no Vaticano. Com o objetivo de ressaltar a relevância da arte sacra mineira para o mundo, o governador Romeu Zema (Novo), presenteou o Papa Francisco com um conjunto de palmas barrocas. Confeccionada em chapas metálicas e banhada a ouro, a obra é considerada Patrimônio Histórico da cidade de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, única cidade a desenvolver e deter até hoje uma tradição própria de confecção das palmas barrocas.
Trazidas de Portugal no século 18, as palmas barrocas se tornaram um item muito utilizado na ornamentação de oratórios e altares no período colonial. Foi em Sabará que a tradição resistiu e ganhou força, quando na década de 1980, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a produção dos arranjos florais foi resgatada pelas mãos dos artesãos e se tornaram um dos símbolos da cidade.
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Foi justamente o precursor da técnica que assinou o conjunto de palmas entregue ao Papa Francisco. Ele conta como foi a sensação ao ver o presente no Vaticano: “Você não pode imaginar, loucura. Eu abri a boca para chorar, o que que eu ia fazer? Nossa, senhora é emoção demais, né? Porque de repente você tem um produto que você fez, criou chegando na mão do Papa. Então isso para mim foi um prêmio, né?”.
Além dele, o sócio Reny Da Fonseca, também assina o presente recebido pelo líder religioso. Enquanto George foi o responsável pela criação do modo de produção, Reny a aperfeiçoou, aumentando ainda mais a durabilidade da obra. “Quando eu vi o trabalho que estava sendo feito foi amor à primeira vista. Eu falei com o George: ‘se você me der uma chance, nós vamos modificar e eternizar as palmas’. Como eu trabalho na área da joalheria, eu sugeri soldar e cravar pedras no mesmo sistema de um anel de brilhante. Nós transformamos a palma em uma jóia”, conta Reny.
Atualmente, é Reny que fica responsável pela produção das palmas barrocas. O artista concorda com o sócio e afirma que a emoção foi alta ao ver a obra chegando nas mãos do Papa. “É uma emoção sem comparação. Depois de todo esse período produzindo é como se eu tivesse chegado no auge. Eu não tenho mais para quem oferecer as palmas porque para mim não tem ninguém acima do Papa. É uma alegria incontrolável, vou te contar que nem estou conseguindo trabalhar hoje”, conta rindo.
De acordo com o artista, as fotos não fazem jus ao que é visto ao vivo: “Por foto, eu acho que não consegue traduzir, né a delicadeza, a riqueza de detalhes. Então só vendo em mãos, você vai ver quanto a peça é linda.”. O número de palmas produzidas diminuiu graças ao trabalho que George e Remy realizam no Instituto Cultural Boa Esperança, que promove ações de qualificação profissional para pessoas de baixa renda. Mas para aqueles que desejam ver as palmas ao vivo, os sócios costumam fazer algumas exposições na cidade, tendo ficado expostas no Palácio das Artes e em uma feira realizada no Bairro Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte.
Em Sabará, a obra é perpetuada pela restauradora e artesã Hercília Batista Herculano, aluna de George Helt. A artista possui mais de 40 anos de experiência na elaboração dos refinados buquês de flores e foi uma das principais responsáveis pelo movimento de tombamento das palmas como patrimônio imaterial de Sabará.
Como elas são feitas
- Em primeiro lugar, é preciso cortar a lâmina de cobre em tiras
- Em seguida, as tiras serão levadas ao fogão a gás, num processo denominado “queima”, o que torna o metal mais macio e maleável
- Com uma ferramenta chamada boleador, o artesão vai dando formato às flores. Para as folhas, será usado o frisador
- O próximo passo será mandar para uma empresa, a fim de dar o banho de ouro ou prata nas peças
- A última etapa será fazer as palmas, amarrando as flores e folhas com arame dourado e um cabo no mesmo tom. O acabamento pode ser com um laço dourado
Fonte: Dirléia Conceição Neves Peixoto