Uma relíquia exposta a um grande público, pela primeira vez em mais de 200 anos, em Congonhas, na Região Central de Minas, atrai as atenções durante o Jubileu do Bom Jesus, que tem seu ponto alto nesta quinta-feira (14/9) com a procissão às 5h e missa às 7h30 na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como Patrimônio Mundial. Trata-se do oratório com 30 centímetros de altura, esculpido em 1757, com o qual o minerador português Feliciano Mendes (1726-1765), após cura de grave enfermidade, viajou por várias localidades de Minas pedindo esmolas para a construção do templo.
A expectativa é de que cerca de 170 mil pessoas visitem Congonhas, a 89 quilômetros de Belo Horizonte, no período do jubileu (realizado há 242 anos), com programação até domingo (17/9). “O número de peregrinos nos surpreendeu no fim de semana passado, foi realmente além do esperado”, afirma o reitor do santuário, cônego Nedson Pereira de Assis. Citando dados da prefeitura local, ele informa que mais de 60 mil pessoas estiveram no sábado e no domingo na chamada Cidade dos Profetas. No adro da basílica, ficam os 12 profetas, em pedra-sabão, esculpidos por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).
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A ideia de expor o oratório na sacristia da basílica, vinculada à Arquidiocese de Mariana e palco das festividades há 242 anos, partiu do reitor. “Temos três elementos devocionais que fundamentam a devoção ao Bom Jesus, em Congonhas: o oratório, a cruz de Feliciano e a imagem do Cristo vinda de Portugal, em 1762. Esses dois últimos elementos estavam expostos, mas um permanecia guardado. Nosso desejo é que todos possam conhecer uma peça tão preciosa para nossa fé”, explicou cônego Nedson.
Patrimônio Imaterial
Autor do livro “Congonhas: da fé de Feliciano à genialidade de Aleijadinho”, o pesquisador da história da cidade, Domingos Teodoro Costa, destaca a importância da exposição do oratório, que foi mostrado uma vez ao público, em 2018, por pouco tempo, no Museu de Congonhas. “Estamos pleiteando junto às autoridades para que o Jubileu do Bom Jesus se torne patrimônio imaterial de Congonhas”, anuncia, com orgulho.
Com o oratório, conta o pesquisador, Feliciano percorreu várias regiões de Minas e até fora daqui. Chegava diante das pessoas, abria o oratório que trazia pendurado no pescoço, rezava e pedia a contribuição para o templo”, conta Domingos, que é membro do Instituto Histórico Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) e do de Congonhas (IHGC).
O oratório foi feito a pedido de Feliciano Mendes com o objetivo de ser usado ao pedir esmolas para a construção do templo. “Uma caixa feita em madeira, decorada e com a imagem do Bom Jesus de Matosinhos ao centro – assim é o oratório de Feliciano Mendes”, explica o autor do livro. Ele diz ainda que a mesma cruz fixada no alto do Morro do Maranhão, em Congonhas, em 1757, por Feliciano, encontra-se para visitação no corredor de acesso da sacristia da basílica.
Ex-voto
A história mostra que a basílica é um “ex-voto”, pois o minerador português construiu a capela, que deu origem à basílica, em homenagem ao Bom Jesus, ao ficar curado da grave doença que o acometera. A promessa foi feita em 1756, segundo Domingos Costa.
“Nós, moradores de Congonhas, temos uma dívida muito grande com Feliciano Mendes, porque ele idealizou e participou de grande parte da construção do santuário. Só temos um Patrimônio Histórico Mundial devido à sua obstinação e fé; do contrário, teríamos nos transformado em uma cidade mineradora como outra qualquer.”
PROGRAMAÇÃO
Jubileu do Bom Jesus, em Congonhas
Hoje (14/9)
5h – Missa da Alvorada, na Matriz Nossa Senhora da Conceição, seguida de cortejo com a imagem do Bom Jesus, em direção à basílica.
7h30 – Acolhida da imagem pelos romeiros, e, em seguida, celebração da missa.
Domingo (17/9)
7h – Romaria de cavaleiros e amazonas, com a concentração no pátio da rodoviária (saída da cavalgada às 8h30). Na chegada à basílica, haverá a bênção para os participantes.