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Estado de Minas DIRETOR SUMIU

Calote de escola do Barreiro era questão de tempo, segundo pais de alunos

Colégio Sant'Anna apresentava três CNPJs diferentes para recebimento de mensalidades. Instituição também cobrava pela compra de materiais que não entregava


17/09/2023 12:23 - atualizado 18/09/2023 15:36
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Fachada do Colégio Sant'Anna no Barreiro
Colégio Sant'Anna no Barreiro foi fechado e diretor desapareceu desamparando alunos e professores (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
"Era uma bola de neve. A gente sabia que ia dar nisso (fechamento da escola). Cada hora a gente pagava a mensalidade para uma empresa de CNPJ diferente. Comprava livros, pagava para o dono e simplesmente não recebia o material. Lá já foi muito bom, mas o dono largou a escola quando viu que não tinha mais jeito. Os professores eram ótimos, nada a reclamar deles. São vítimas como nós", o desabafo é do pai de um aluno que só se identifica como Rafael, já bastante fragilizado pelas tentativas de transferir o filho de 10 anos do Colégio Sant'Anna, no Barreiro, depois que a instituição simplesmente fechou e o diretor, de 54 anos, que é também o proprietário, desapareceu.

Revoltados com a situação, 22 pais e funcionários fizeram uma ocorrência na Polícia Militar depois que encontraram os portões do Colégio Sant'Ana fechados, na sexta-feira (15/09). Apenas uma secretária e a filha do dono, que é professora do jardim de infância, estavam lá. Há cerca de um mês o diretor não aparece e sequer estaria atendendo os telefonemas da própria filha, de acordo com o que ela disse à PMMG.

Segundo informações do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro-MG), o colégio vinha atrasando os salários dos profissionais, que ganhavam perto do salário mínimo da categoria. Metade era paga por mês e no mês seguinte o restante era quitado, quando os profissionais já deveriam receber pelo novo mês trabalhado.

"A escola era muito querida, muito tradicional na comunidade e os professores acabaram acreditando no patrão, como forma de solidariedade. Só que, com isso, não nos avisaram que a situação estava tão grave. Por isso, não pudemos fazer nada antes. Agora, vamos atender e representar cada um deles, a partir dessa segunda-feira (18/09)", afirma a presidente do Sinpro, Valéria Morato.

Um dos cadastros nacionais de pessoa jurídica é de 23 de janeiro de 2023 e só durou sete meses até ser fechado, em 23 de agosto deste ano, constando um capital social de R$ 5 milhões. A atividade econômica principal era a educação profissional de nível técnico, infantil, pré-escola, ensino fundamental e médio. A extinção ocorreu por decisão líquida e voluntária da sociedade empresarial com apenas um sócio-administrador, o próprio diretor da escola.

Mas, entre as relações de CNPJs utilizados de acordo com a documentação mostrada pelos pais, há também indicação de empresas coim atividades não diretamente relacionadas com a educação, como um Instituto e Clinica Especializada que leva como nome de fantasia Colégio Santana (e não Colégio Sant'Anna), aberta em 2021 e de capital social de R$ 20 mil. Essa firma tem como atividade os atendimentos "médica ambulatorial restrita a consultas". No quadro societário consta apenas uma mulher de mesmo sobrenome do diretor e proprietário do colégio.

A terceira empresa com cadastro nacional de pessoa jurídica apresentada tem o nome de outra mulher com o mesmo sobrenome do diretor e proprietário, tendo como atividade principal a educação infantil e pré-escola. O capital social da empresa é de R$ 10 mil.

Caso será investigado


Na segunda-feira, o Sinpro-MG informou que irá atender aos 10 professores que ficaram sem salários e direitos depois que a institutição fechou e o proprietário desapareceu. As mensalidades cobradas na instituição variavam, chegando a R$ 790 para a educação infantil, mas ao todo cerca de 300 famílias de alunos podem ter sido lesadas, segundo estimativa da entidade de classe.

O caso será investigado pela 2ª Delegacia de Polícia Civil do Barreiro. A reportagem não conseguiu contato com o diretor ou integrantes da administração da escola.

Na sexta-feira, dia do fechamento, a PMMG encontrou na instituição fechada apenas uma secretária, de 41 anos, que disse que poderia repassar aos pais as declarações de escolaridade, mas que para expedir o histórico escolar, necessitaria da assinatura do diretor.

Uma das filhas do diretor e proprietário informou para os policiais que trabalhava como monitora do berçário e que não tinha qualquer relação com as atividades administrativas e financeiras da escola. Ela mesma diz não ter tido contato com o pai há mais de um mês e desconhecer o seu paradeiro.

A instituição é tradicional no Barreiro e por isso mesmo muitas pessoas da região reagiram com espanto ao ver a concentração de viaturas da polícia e o protesto de pais e professores na porta da escola.

Uma das propagandas que reforçava o compromisso pedagógico da instituição era a propaganda do uso de material e método do Colégio Bernoulli, uma das instituições de ensino mais renomadas da capital mineira. Contudo, consta inclusive litígio de representantes do Bernoulli contra o Colégio Sant'Anna por não cumprimento de obrigações ao adotar o sistema de ensino.


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