A onda de calor instalada sobre Minas Gerais e que ontem fez Belo Horizonte suar sob 31,6oC de máxima, segundo a Defesa Civil de BH, não foi o pior castigo enfrentado na cidade. O dia de altas temperaturas semelhantes às de capitais como Goiânia (36,9oC), no olho da onda de ar seco que varre o centro do Brasil, tornou a vida dos habitantes das regiões de Venda Nova e Noroeste de BH um inferno. Nessas denominadas 'ilhas de calor', como em Venda Nova, o termo-higrômetro (equipamento que calcula a temperatura e a umidade relativa do ar) utilizado pela reportagem do Estado de Minas registrou 37,7oC às 13h30, ou seja, 6,1oC mais quente que a média. Na Praça São Vicente, no Bairro Alípio de Melo, o aparelho marcou 35,8oC. Para mostrar quais são as regiões mais quentes da cidade, o EM pediu para especialistas indicarem (confira no infográfico) a localização desse arquipélago causticante.
"É uma área baixa, onde naturalmente se concentra mais calor. Somado a isso, há poucas árvores para sombrear o ambiente e arrefecer a temperatura com a evapotranspiração (fotossíntese e liberação de vapor de água) e filtragem de partículas dispersas. Por outro lado, temos muito asfaltamento e concreto recebendo excessivamente a radiação solar e a liberando lentamente, o que contribui para aquecer o local", afirma o especialista.
Outros locais com temperaturas mais altas na capital mineira seriam na Região Noroeste, a Praça São Vicente, Bairro Alípio de Melo, e na Oeste, no Betânia, próximo ao Anel Rodoviário e a Avenida Tereza Cristina, ambos com variações de temperatura que costumam superar a média da cidade de 2oC a 4oC.
Como indicado pelo professor, a retenção de calor pelo asfalto tornava esses ambientes visitados pela reportagem ainda mais quentes entre meio-dia e 14h30. Com o uso de um termômetro infravermelho, as áreas asfaltadas expostas ao sol nas regiões de Venda Nova, Noroeste e Centro-Sul variaram de 50oC a 55oC. Somadas às estruturas de concreto e similares, essas superfícies recobrem 93% do território da capital mineira, segundo o professor Wellington Lopes Assis.
O metal que recobre os telhados de grandes edificações, os vidros de arranha-céus que têm sido erguidos e o concreto dessas estruturas, bem como o asfalto, ao se somarem transformam algumas regiões específicas em extremamente quentes. Duas pesquisas feitas pelo Cefet-MG mostram que os telhados do Expominas, dos Correios e de grandes áreas industriais e de estacionamentos podem elevar as temperaturas dos arredores a 38oC.
"No caso do Expominas, por exemplo, temos também além do prédio os estacionamentos, as vias em volta de intenso movimento e a baixíssima quantidade de árvores. Tudo isso aquece a vizinhança", afirma o geógrafo Antoniel Fernandes.