Quem imagina que a grande concentração de pessoas, com cerca de 1 milhão por dia circulando pelas ruas, sem contar os carros e espaços confinados por edifícios e concreto, pode achar que o Hipercentro de Belo Horizonte está entre as áreas mais quentes da capital. Isso chega a ocorrer, mas, segundo o professor do Departamento de Geografia da UFMG, Wellington Lopes Assis, apenas à noite. "Durante o dia os prédios funcionam fornecendo corredores de vento e sombra, mas o concreto que absorve o aquecimento solar libera isso aos poucos, entrando a noite com essa liberação e deixando as noites da região muito quentes.
O termo-higrômetro chegou a registrar entre meio-dia e 12h50 de ontem uma temperatura de 30,2oC, abaixo do experimentado na média de máxima temperatura registrada pela Defesa Civil de Belo Horizonte, que foi de 31,6oC.
Contudo, a 700 metros dali, uma ilha de frescor aplaca o calor das pessoas. Sob as sombras das árvores do Parque Municipal Américo Reneé Giannetti e à beira do laguinho, um vento fresco fazia a temperatura chegar a 28,7oC, a mais baixa registrada pela reportagem no dia. "Trabalho todos os dias no Centro, como auxiliar administrativa. Sei bem o quanto sofremos com o calorão, aquele abafamento, gente e carros demais. Aqui é tão bom que agora, nas férias, trouxe a minha irmã e a minha sobrinha para um piquenique no parque", disse.
Outras áreas que são consideradas ilhas de frescor nos dias quentes são os bairros próximos à Lagoa da Pampulha, ou mais altos, como nas encostas da Serra do Curral, como o Mangabeiras e o Belvedere. Neste último, a reportagem registrou 28,9oC. Contudo, se o processo de derrubada de matas para erguer edifícios continuar de forma desenfreada em Nova Lima, cidade limítrofe, o cenário pode mudar.
"As mínimas no Vale do Sereno e outras de Nova Lima perto do Belvedere já estão mais altas. Surgindo mais arranha-céus e cobrindo tudo de asfalto logo poderemos ter aumento das temperaturas ali também", alerta o geógrafo e professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia e Biologia da PUC Minas, Antoniel Fernandes.
UMIDADE DO AR CRÍTICA
A umidade relativa do ar pode ficar em apenas 12% em Belo Horizonte e em outras 296 cidades de Minas Gerais, de acordo com o alerta divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Segundo o meteorologista Claudemir de Azevedo, a relação que existe entre a temperatura e a umidade do ar é inversamente proporcional. No caso das altas temperaturas, como as experimentadas durante a onda de calor, o ar tende a ficar mais seco.
Claudemir ainda ressaltou que a tendência para esta e a próxima semana é que as temperaturas máximas permaneçam altas e a umidade do ar, baixa. Durante esse período da onda de calor, o meteorologista declarou que a possibilidade de chuva é baixa por conta da massa de ar seco que atua sobre o estado.
O índice ideal da umidade relativa do ar, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é entre 50% e 60%.
CALOR NÍVEL EXTREMO
Um levantamento global da ONG sobre dados climáticos revelou que cidades de Minas poderão ter até 70 dias de calor altamente perigoso até 2050. Entre as cidades mais populosas do estado, Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, lidera a lista e pode ter 70 dias de calor intenso até 2050. Ipatinga também integra a lista, com 39 dias de calor altamente perigoso até 2050; e Coronel Fabriciano, com 36 dias. Já Belo Horizonte terá apenas um dia extremamente quente até 2050. No Brasil, Manaus, capital do Amazonas, será a recordista de calor extremo, com 258 dias.