Primavera de contrastes, com altos e baixos: enquanto a temperatura estará acima da média histórica, batendo recordes, o volume de chuva estará abaixo, aumentando o “sufoco” em Belo Horizonte e no interior do estado. Assim é a previsão para a nova estação que começou na madrugada deste sábado (às 3h50), sob influência do El Niño – fenômeno de aquecimento do Oceano Pacífico na costa peruana. Com o calor nas alturas, os próximos dias poderão chegar a 37 graus, informa o meteorologista Claudemir Azevedo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet/3º Disme), em Belo Horizonte.
Associada à baixa umidade relativa do ar, a alta temperatura deverá dar uma trégua a partir de quinta-feira que vem (28/9), para quando há previsão de chuva. “A onda de calor resulta de uma massa de ar quente e seco estacionada sobre o Brasil Central”, explica Claudemir Azevedo. A temporada de chuva começa em outubro, mas, o meteorologista destaca que será abaixo da média.
Com os dias ensolarados e céu azul, sem nuvens, a natureza dá seu show particular, na capital e nas estradas que cortam a Região Metropolitana de BH, para celebrar a estação, que dá adeus ao inverno de temperatura muito elevadas e recordistas no ano. Um dos destaques do reino vegetal que saúdam a primavera está nas frondosas sibipirunas, com sua copa amarela colorindo o céu da cidade. Mais um contraste nestes tempos: último da temporada dos ipês, o rosa está de encher os olhos em ruas e avenidas.
Sob as sibipirunas, os passeios se tornam um tapete que agrada o olhar de quem passa nas ruas e avenidas. Também com flores amarelas, a trepadeira unha-de-gato toma conta de muros e cercas de BH e interior, num convite permanente a contemplar a paisagem – e, para quem prefere o frio, “esquecer” um pouco do calorão, à sombra. Caminhando pela Avenida Otacílio Negrão de Lima, na Região da Pampulha, Raíssa Mazala, moradora do Bairro Santa Mônica, deu uma parada para admirar a planta que se enrosca pelo tronco de uma árvore e encanta pela maravilha de cenário. “Gosto muito da primavera, e essas flores são ‘show de bola’. Neste tempo, a gente fica com mais disposição”, observou Raíssa, que é atuária (trabalha com saúde suplementar).
NASCIMENTO Reconhecida como Patrimônio Mundial, a Pampulha conjuga a arquitetura moderna, obra de Oscar Niemeyer (1907-2012) com o jardins concebidos pelo paisagista Burle Marx (1909-1994). É ali, em meio ao vermelho da cana-da-índia, à beira da lagoa, que a fotógrafa Josilene Oliveira, de 37, busca uma inspiração momentânea. Especialista em retratos de criança e família, Josilene espera o primeiro filho, Leon, com nascimento previsto para 18 de novembro.
“Sou casada há 15 anos, e agora vou ter meu primeiro filho, realizando um sonho antigo. Leon nascerá nesta primavera, e tudo que desejo é que ele tenha paz e alegria”, disse a futura mamãe, cujas flores preferidas são as orquídeas e azaleias. Logo depois da conversa com o repórter, Josilene voltou ao ofício, fotografando ao lado dos bem-cuidados canteiros do Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis, mais conhecido como Igrejinha da Pampulha, onde dois jardineiros faziam a manutenção.
Não muito distante, as flores compunham o cenário para o encontro de visitantes do Nordeste e do Sul do Brasil. Foi fazendo “selfies” e observando os jardins que o casal Ademir Rama, administrador, e Ana Lúcia Brodt Rama, artesão, de Porto Alegre (RS) conheceu Andréa de Melo e Paula Medeiros, ambas advogadas, e Januse Nogueira, odontóloga, da Paraíba. “Além de Niemeyer, muitos profissionais trabalharam na Pampulha, incluindo Burle Marx e Cândido Portinari. Estou impressionada”, comentou Januse sobre as obras de Cândido Portinari, Paulo Werneck e Alfredo Ceschiatti e outros.
Em grupo, os gaúchos e as paraibanas em primeira viagem a BH curtiram as flores que enfeitam o entorno do templo, ícone do Conjunto Moderno da Pampulha, e atraem gente do mundo inteiro. “Há muita harmonia entre a arquitetura e a natureza. E as flores são lindas”, afirmou Andréa.
NO BRASIL A previsão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)/Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é a continuidade, no país, da onda de calor presente nos últimos dias do inverno. Segundo o coordenador-geral de Ciências da Terra do Inpe, Gilvan Sampaio, o El Niño deve influenciar o clima no Brasil até o início do ano que vem, reduzindo o volume de chuva nas regiões Norte e Nordeste. Portanto, temperaturas acima da média em grande parte do país e chuvas intensas na Região Sul, principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Por outro lado, deve chover menos no norte e no leste da Amazônia.
Em nota divulgada pelo Inpe, Sampaio explica que a primavera é a estação de transição, mas também quando ocorrem os extremos, principalmente no início, com alguma condição de massa de ar frio. “Mais para o final da primavera, as ondas de calor vão elevar a temperatura para acima de 35 graus em algumas regiões do país, chegando aos 40 graus.” n
DESPEDIDA DO INVERNO
Encerrado às 3h49 de hoje, o inverno deste ano se consagrou como um dos mais quentes da história, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia. De acordo com a meteorologista Andrea Ramos, um dos principais responsáveis pelo calor e baixa umidade é o El Niño, fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico. “Junho foi o mês mais quente e agosto seguiu essa tendência”. Em setembro, com a emissão de dois alertas de onda de calor pelo Inmet, o calorão não amenizou. No último dia de inverno a temperatura mais alta em Minas Gerais foi registrada em Ituiutaba, no Triângulo, onde os termômetros bateram em 38,4°C. Já em Belo Horizonte, a estação da Pampulha marcou uma máxima de 32,1°C na tarde de ontem.