Jornal Estado de Minas

INCÊNDIO FLORESTAL

Brigadistas da Lapinha da Serra combatem incêndio que já durava dois dias

Minas Gerais registrou, em setembro, até esta segunda-feira (25/9), 1.803 ocorrências de incêndios, seja em vegetação ou edificações. Já esperado para acontecer ao longo do inverno, o período das queimadas de 2023 promete ser um dos mais severos, uma vez que o crescimento das ocorrências está diretamente relacionado com a seca. Na região da Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho, na Região Central de Minas Gerais, brigadistas voluntários debelaram na manhã desta segunda um incêndio que já perdurava por dois dias. 




As chamas, que consumiram grande parte de área verde, teriam sido causadas pela ação humana. Em entrevista ao Estado de Minas, Cristiano Reis, coordenador da Brigada Florestal Voluntária Guardiões da Serra, explicou que, normalmente, os incêndios têm sido causados por pessoas para a revitalização de pasto.

“O que acontece é sempre a mesma história. A pessoa que coloca o fogo sempre imagina que ele vai ser bonzinho, que ele não vai fugir do perímetro que ela precisa queimar Estamos em uma região que venta muito, uma região de terra muito seca, a vegetação nessa época fica muito seca. O fogo para queima de um pasto para virar um incêndio florestal é só questão de realmente não ter ninguém para controlá-lo”, diz. 

Nove brigadistas foram empenhados no combate às chamas que começaram no sábado (23/9). Reis conta que, além de esperar pelo momento propício para que as equipes conseguissem entrar dentro do incêndio, a ação teve que aguardar que voluntários estivessem disponíveis. 





“Foi um fogo que queimou três dias direto e, pela complexidade de subir na serra e juntar voluntários, queimou dois dias sem nenhum combate. Somente hoje nós conseguimos montar a equipe para subir e combater”, afirma. 

Combate 

Guadiões da Serra salvaram casa de ser consumida pelo fogo (foto: Maria Clara Reis/Guardiões da Serra)

Nessa ocorrência, a equipe se dividiu em três frentes para combater focos diferentes. Até chegarem onde as chamas estavam, os brigadistas tiveram que andar cerca de oito quilômetros. De acordo com o coordenador da Guardiões da Serra, um dos focos de incêndio estava dentro dos perímetros de uma fazenda e se aproximava de uma casa e de um curral. 

“O início do combate foi na trilha para a travessia. Nós combatemos um fogo que estava na mata do terreno de uma fazenda. Ele saiu do pasto e foi para a mata e já estava avançando para a benfeitoria da fazenda, para a casa e para o curral. Lá tinha animais e nós tivemos que tirá-los porque não tinha ninguém na casa. Com isso, nós defendemos o perímetro da casa e conseguimos debelar o incêndio que estava na mata”, relata. 




Até o momento não é possível calcular qual foi a área atingida pelas chamas, uma vez que será preciso uma imagem aérea. Mesmo assim, os brigadistas afirmam que este foi o maior incêndio na região desde 2020. 

Outros focos 

No vilarejo, brigadistas tiveram que combater a dois focos de incêndios que começaram em quintais de residências (foto: Leandro Couri / EM / D.A Press)
A equipe do Estado de Minas esteve na Lapinha da Serra acompanhando o trabalho de rescaldo das chamas pelos brigadistas voluntários. No local, já próximo ao vilarejo, dois outros focos de incêndio mobilizaram os profissionais, que estavam combatendo o fogo desde as 4 horas da manhã. As chamas altas estavam nos quintais de duas residências. 

Em um vídeo encaminhado à comunidade, o coordenador da Guardiões da Serra fez um apelo para que os moradores não fizessem a queima de materiais orgânicos. “Estamos passando por um período crítico de seca. Estamos em um dos dias mais quentes do ano. Não é a melhor época para queimar lixo, resto de folha e galhos em quintal. Está ventando muito, está muito seco, e a gente sabe que o vento da Lapinha não perdoa. Peço que a gente repense algumas atitudes. Por favor não queime o seu lixo, a sua limpeza de quintal, reserve em um canto, deixa lá, vai virar matéria orgânica e daqui a pouco tem chuva”. 




Cerrado 

Brigada Florestal Voluntária Guardiões da Serra dispôs cartaz com o nível do perigo das queimadas na serra (foto: Leandro Couri / EM / D.A Press)
No estado, o bioma predominante é o cerrado, considerado o segundo maior da América do Sul (o maior é a floresta amazônica). Entre as adversidades mais comuns, enfrentadas pelas espécies de fauna e flora das regiões, estão aqueles causados pelo fogo. O professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Bernardo Gontijo explica que o cerrado já é adaptado para resistir às queimadas, no entanto, não aquelas de grande proporção, normalmente provocadas pela ação humana.

“A questão dos incêndios em se tratando do bioma do cerrado é algo já bem conhecido e esperado. Principalmente no auge da estação seca, no auge da ausência de água do ecossistema. E é em função disso que o material combustível, ou seja, a vegetação seca, se torna extremamente propensa para a queima, desde que claro, haja a existência de oxigênio e calor”, explica. 

Mesmo com toda a propensão a queimadas, um dos principais gatilhos para os incêndios em grande proporção que acontecem no cerrado, e não só em Minas Gerais, é a ação humana. Cristiano Reis, coordenador da Brigada Florestal Voluntária Guardiões da Serra, que atua na Lapinha da Serra, na Região Central, explica que existem dois tipos de chamas provocadas por ações naturais – uma pela queda de descargas elétricas e outra quando há incidência solar em alguma partícula refletora, como vidro. 




No entanto, esses tipos de ocorrências são facilmente diferenciadas. Cristiano explica que, no caso das descargas elétricas, normalmente, a queimada acontece logo antes de uma precipitação de chuva. O professor da UFMG afirma que uma das principais discrepâncias é em relação à proporção. 

“Quando ocorre o fogo por fatores naturais, ele tende a evoluir pouco e aí acaba sendo algo de pequena proporção. Qualquer incêndio em grande proporção, dependendo da época do ano, você pode ter certeza que mais de 90% ou mais foram fruto de ação humana, deliberada ou não. Aquela coisa do doloso ou culposo. Culposo sempre é. Agora, quando tem o dolo aí a coisa complica, e às vezes isso acontece. De forma trágica, mas acontece”, enfatiza Bernardo Gontijo.