O ligeiro alívio que a onda de altas temperaturas deu ontem a Belo Horizonte, com a máxima oficial de 36°C, depois do recorde histórico de 38,6°C no dia anterior, não significou refresco para todos. O calor foi escaldante e chegou a 40,2°C em pontos de Venda Nova, uma das chamadas ilhas de calor da cidade. A temperatura foi medida pela equipe do Estado de Minas com uso de um termo-higrômetro, no encontro das Avenidas Vilarinho e Dom Pedro I, na altura da bacia de contenção de cheias.
À frente de inúmeros trabalhos de levantamento de temperaturas e condições relacionadas ao clima de Belo Horizonte, o professor Wellington Lopes Assis, do Departamento de Geografia da UFMG, estima que a Região de Venda Nova seja a mais quente da capital por uma série de fatores, com média de 4°C a 5°C acima da temperatura média do dia. “É uma área baixa, onde naturalmente se concentra mais calor.
Somado a isso, há poucas árvores para sombrear o ambiente. Por outro lado, temos muito asfaltamento e concreto recebendo excessivamente a radiação solar e liberando-a lentamente, o que contribui para aquecer o local”, afirma o especialista.
A situação ficou evidente ontem, mais uma vez. Do asfalto, o calor que subia chegava a 55°C, invadindo até as áreas de sombra sob marquises. Mesmo onde havia mais árvores, as temperaturas na calçada da Avenida Vilarinho chegavam a 38,4°C. Em outra ilha de calor, na Praça São Vicente, no Bairro Alípio de Melo, Região Noroeste de BH, a variação foi menor, com a temperatura na sombra chegando a 35,7°C e 36,4°C ao Sol, semelhante ao restante da cidade.
O calor extremo representa riscos para a saúde, com a possibilidade de desmaios, elevação de pressão arterial, desidratação e esgotamento, sobretudo entre pessoas em atividades mais intensas, idosos ou pacientes com condições específicas de saúde, segundo a avaliação da especialista em segurança do trabalho Tatiana Gonçalves, CEO da Moema Medicina e Segurança no Trabalho. De acordo com a Defesa Civil de BH, “é importante reforçar que entre os sinais de gravidade para desidratação estão a pele muito seca, intensa diminuição do hábito de urinar, que pode vir acompanhada de cansaço intenso, sonolência e confusão mental”.
Os próximos dias em BH
Depois de sucessivos recordes de calor em Belo Horizonte, às 16h de terça-feira (26/9) a Estação da Pampulha registrou máxima de 36°C, com umidade relativa do ar em 22%, de acordo com a Defesa Civil municipal. Para o meteorologista Claudemir Azevedo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é um sinal de que a onda de calor começa a perder força na capital mineira. Porém, as temperaturas devem seguir altas pelo menos até quinta-feira (28/9). Amanhã, a previsão é de marcas entre 22°C e 37°C. Na quinta, os termômetros podem marcar de 23°C a 34°C. Já na sexta-feira (29/9), a tendência é de mínima de 17°C e máxima de 25°C. Mas no sábado o calor deve voltar, com temperaturas variando entre 16°C e 30°C.
Na segunda-feira (25/09) foi registrado o dia mais quente da história de Belo Horizonte desde que começaram as medições, em 1961. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre 13h e 14h os termômetros da Estação Pampulha marcaram 38,6°C, na terceira quebra de marca de temperatura máxima deste ano. O recorde histórico anterior, de 2020, era de 38,4°C.
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No último dia 21/9, reportagem do EM mostrou que a temperatura que já estava alta em Belo Horizonte, registrando 31,6°C, era ainda mais intensa em alguns pontos da capita, que devido às condições específicas são considerados ilhas de calor, como a mesma área em Venda Nova, que no mesmo dia chegou a 37,7°C, Noroeste e Oeste de BH. Na edição seguinte, reportagem retratou o desconforto de trabalhadores que precisam usar luvas, macacões, capacetes ou trabalhar próximo a fornos e fritadeiras, enfrentando temperaturas na casa dos 40°C.
Depois da escalada de temperaturas na capital, a expectativa é de que a partir desta quarta-feira (27/9) a temperatura caia, segundo a porta-voz do Instituto ClimaTempo, Maria Clara Sassaki. A previsão se deve à umidade, que volta a provocar chuvas no interior de Minas Gerais, inclusive com possibilidade de queda de granizo. Mas novas ondas de calor devem ocorrer, sobretudo enquanto durar o fenômeno El-Niño, representado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “Novas ondas de calor são esperadas para o próximo mês, que costuma ser o mais quente do ano”, afirma a meteorologista.
Em busca dos oásis na capital
O forte calor tem levado cada dia mais pessoas ao Parque Municipal Américo Reneé Giannetti, um oásis de frescor no Centro de BH. Por volta das 13h30 de ontem, a área verde ainda registrava temperaturas na casa dos 30°C, com medição pelo termo-higrômetro, à sombra, 29,3°C, enquanto a Praça Sete já fervia a 35°C e seguia esquentando.
No parque, os locais mais disputados são aqueles mais próximos aos lagos. As irrigações usadas nos jardins também atraíram muita gente em busca de mais frescor. “A gente consegue aliviar bastante a temperatura vindo para debaixo das árvores. É só sair daqui para sentir como se estivesse abrindo a tampa de um forno. Com criança pequena, neste calor, é ainda pior, porque ficam mais agitadas, não dormem direito e a gente também não”, afirma Ludimila Júlia Mendes, de 23 anos, que saiu para passear com a filha Maitê Júlia, de 1 ano e 8 meses.
Para garantir a hidratação da população em situação de rua, há atualmente 85 bebedouros públicos nos parques municipais como o da área central e em Centros de Vigilância Agroecológica (Cevae). Essas pessoas também podem procurar os serviços de assistência social para que sejam encaminhadas a locais de banho.
A Prefeitura de Belo Horizonte informa ainda que os centros de saúde e as unidades de pronto-atendimento estão preparadas para atender à demanda relacionada ao calor. A administração municipal informa que os estoques estão abastecidos de medicamentos e insumos para casos de desidratação e exposição a altas temperaturas associadas ao tempo seco.