Conforme previsto pelos institutos de meteorologia, a chuva forte atingiu Belo Horizonte na tarde de ontem. Seis das nove regionais da capital tiveram registros de chuva moderada a forte. Em Venda Nova choveu em duas horas metade do esperado para todo o mês, de acordo com a Defesa Civil municipal. A ventania também preocupou quem estava na rua, com rajadas que chegaram a 50 km/h.
A pancada de chuva trouxe um alívio no calor das últimas semanas. A previsão para hoje é de céu nublado a parcialmente nublado e com possibilidade de chuvas isoladas. Porém, de acordo com especialistas, a trégua nas temperaturas pode durar pouco.
Segundo o Climatempo, o risco de novas ondas de calor é provável em virtude da atuação do El Niño. A previsão indica a atuação de sistemas de alta pressão atmosférica - impedindo a formação de nuvens de chuva - estacionados sobre o Brasil durante outros períodos até o final da primavera, gerando novas situações de bloqueios atmosféricos, e, consequentemente, novas ondas de calor.
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia, Anete Fernandes, não descarta essa possibilidade, mas é cautelosa ao afirmar a ocorrência de novos fenômenos. “Estamos em ano de El Niño e, normalmente nesses períodos, o início da estação chuvosa é muito irregular. Não se descarta a possibilidade de outra onda de calor por estarmos em um ano atípico, mas neste momento não há como afirmar que outras ondas vão acontecer.”
A meteorologista explica que a onda que provocou recordes históricos de calor pelo Brasil foi atípica e mais duradoura, com temperaturas acima da média desde 18 de setembro. “O início de primavera normalmente é quando são registradas as maiores temperaturas do ano pela condição climática de encerramento do período seco. Então não dá para descartar a possibilidade. Agora, que será mais intensa e com temperaturas maiores, não dá para cravar.”
O professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), Fúlvio Cupolillo, reforça que as ondas de calor são eventos comuns e mais frequentes nos anos de atuação do El Niño. O fenômeno, segundo ele, se inicia em março e termina em dezembro.
O especialista em climatologia lembra que o El Niño foi intenso entre os anos de 1982 e 1983, 1997 e 1998 e entre 2013 e 2014. “Este ano, o El Niño parece que pode ser mais intenso. Nos outros anos, tivemos 3°C a 4°C de anomalia de temperatura acima da média na superfície do Oceano Pacífico. Este ano já está com 3°C desde agosto.”
O professor classifica o fenômeno deste ano com intensidade entre média e forte. As ondas de calor nessas intensidades são mais comuns em Minas.
“Quando isso acontece em Minas Gerais há aumento de temperatura e baixa umidade relativa do ar, dependendo da região do estado. Os efeitos de temperatura são diferentes. No Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha ele (El Niño) provoca aumento da seca. No restante do estado provoca aumento de temperatura e baixa umidade do ar. A intensidade dessas condições está ligada à região em que o município está localizado”, descreve.
Cupolillo lembra que o El Niño é um fenômeno distinto do aquecimento global e das mudanças climáticas. “Ele acontece em razão dos ventos planetários que existem porque o planeta faz o movimento de rotação. Quando os ventos são fortes acontece o La Niña e, quando estão fracos, o El Niño.”
Para o especialista, é provável que outras ondas de calor aconteçam até o fim do ano por influência do fenômeno. Ele avisa que se a temperatura na superfície do Pacífico aumentar, as ondas podem ser de maior intensidade também.