Jornal Estado de Minas

PRESERVAÇÃO

Documentário aborda memória e preservação do Córrego do Capão

Marcado por problemas urbanos, como poluição e esgoto não tratado, o córrego Capão, curso d’água que serpenteia vários bairros de Venda Nova e da Região Norte de Belo Horizonte, também guarda boas lembranças de uma época em que a água ainda era limpa. A memória e a luta pela sobrevivência do Capão são retratadas no documentário "Reconciliar", que estreia neste sábado (7/10). A exibição, gratuita e aberta à comunidade, acontece às 20h, na Escola Municipal Professor Moacyr de Andrade, no Bairro Vila Santa Branca, em Venda Nova.





Dirigido e produzido por André Carvalho, diretor de fotografia e documentarista, o média-metragem resgata as belezas das cenas comunitárias e os esforços dos moradores para proteger o córrego Capão da degradação, indo na contramão dos discursos para tamponar as águas correntes da capital.

Morador do bairro Piratininga, André cresceu com esse imaginário do córrego vivo, e foi daí que veio a inspiração para o filme. “Minha família está aqui desde 1974. Eles conviveram com o córrego ainda limpo, era usado para horta e para pescar”, contou ao Estado de Minas.


O título da obra traz implícito dois significados: a necessidade de reaproximar a comunidade do córrego Capão e reconstruir a natureza. “Hoje, quando você pergunta para qualquer criança o que é um córrego, ela automaticamente responde: esgoto. Ela não entende que esse curso d'água é um rio. Nos mais velhos, o que vemos é a desesperança. Eles não conseguem conceber a ideia de que o córrego pode voltar a ser o que era antes”, aponta André.



A produção levou cerca de dois anos. Para além de contar histórias e resgatar a identidade das comunidades, o documentário, financiado com recursos do Edital BH nas Telas, da Secretaria de Cultura da Prefeitura Belo Horizonte, apresenta uma extensa pesquisa histórica sobre o córrego, realizada em parceria com o Núcleo Capão, iniciativa com objetivo de revitalizar a sub-bacia do córrego, um braço do Projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com destaque para a parceria com a professora Roseli Correia, coordenadora do Núcleo. 

“Conseguimos informações que até então outros historiadores não tinham. Com a pesquisa histórica, o trabalho tomou outra dimensão”, destaca André. Dando voz às preocupações das comunidades, o documentário traz depoimentos de moradores ‘novos’ e ‘antigos’, que contam sua relação com o córrego, desde a nostalgia até o sentimento de vergonha pela poluição e pelo mau cheiro do espaço. “Começamos no meio da pandemia. Esperamos um ano e meio para falar com uma senhora de 95 anos”, detalha o diretor do documentário.
 

Preservação do Capão


O que acontece às voltas do Córrego do Capão, que nasce no bairro Céu Azul e deságua no Córrego Vilarinho, é a prova de uma alternativa possível para se relacionar com os rios de forma diferente e respeitosa. Um dos maiores responsáveis pela degradação do córrego é o esgoto doméstico, jogado diariamente em suas águas sem qualquer tratamento. Desde 2003, moradores e membros do Núcleo Capão desenvolvem uma série de ações para sensibilizar a comunidade para a necessidade de requalificação do córrego e pela implantação do Parque do Conjunto Habitacional da Lagoa, em Venda Nova. 

Também chamada de Parque do Capão, a área tem 16 mil metros quadrados, prevista no plano diretor da cidade aprovado em 2019, e foi criada como uma forma de auxiliar a preservação das áreas naturais da região e promover um espaço verde para a comunidade. O plantio de mudas na área já proporcionou, inclusive, o reaparecimento de animais na região.