O adolescente de 14 anos que atacou quatro outros jovens da mesma idade com golpes de faca em frente a uma escola particular em Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais, já havia prometido se vingar dos antigos colegas em um post nas redes sociais por ter sofrido bullying. Ele estudou no colégio até 2021. Uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas no ataque, ocorrido nesta terça-feira (10/10).
Em depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o autor do crime confessou que havia postado a ameaça e apagado em seguida. No story do Instagram, o adolescente disse: “como eu odeio vocês, odeio essa cambada de ‘zé povinho’, odeio aquelas línguas soltas, eu odeio… eu quero fazer vocês sofrerem, quero fazer vocês me pagarem (eu vou)”.
Ainda de acordo com a corporação, o autor das facadas afirmou que sua intenção era matar os alunos de sua antiga sala, mas percebeu que eles estudavam de manhã. Então, esfaqueou os estudantes que saíam da escola à tarde. O ataque ocorreu por volta das 17h. Depois de atingir a quarta pessoa, largou a faca e esperou ser contido por pessoas que estavam no local.
A PCMG disse que está com o celular do autor, que caiu do bolso dele na ocasião em que foi detido. Os pais já autorizaram o acesso ao aparelho. Na casa do jovem não havia equipamentos eletrônicos, mas foram apreendidos cadernos com anotações e algumas gravuras, que servirão como elementos comprobatórios na investigação.
As autoridades também disseram que o autor não estava no radar do Ministério da Justiça e que o crime foi um ato isolado. Depois de cometer o ato, o jovem foi encaminhado para uma delegacia e, com a presença do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), decidiu-se que ele iria para um presídio local por até 45 dias, até que se tenha uma decisão judicial.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que os jovens podem ficar internados por até três anos. As diligências ainda estão em andamento e o caso já teve a participação de peritos criminais, médicos legistas e autoridades das secretarias responsáveis.
Histórico de agressões
O jovem apreendido após atacar ex-colegas já teria agredido familiares anteriormente, inclusive a própria mãe. A Polícia Civil revelou que os episódios envolvendo violência contra a mãe aconteceram no primeiro semestre deste ano.
O adolescente não tem antecedentes criminais e quem contou à polícia sobre os casos de violência foram os parentes, em depoimento às autoridades.De acordo com a família, o autor do crime sofre de transtorno psiquiátrico e faz tratamento. A direção do colégio em que ele estudava já tinha conhecimento disso.
Em entrevista a um canal local, a mãe do menino, que não quis ser identificada, revelou que o filho possui um diagnóstico comprovado de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e que realiza tratamento. “Ele vinha sendo acompanhado por médicos, Caps, Creas. Eu pedi encarecidamente que ele fosse internado, para que fosse tratado em uma clínica, mas não consegui”, explicou.
Sobre os casos de bullying, a mulher disse desconhecê-los, mas que chegou a ver o filho em posse da faca usada no crime. Ele teria dito que era para se proteger, já que a casa onde moravam havia sido furtada recentemente.
“Perdi meu garotão”, diz avô
O estudante Leonardo Willian da Silva, de 14 anos, foi enterrado no fim da tarde de ontem no Cemitério Parque. Pais de outros alunos, professores e parentes acompanharam o sepultamento de uma das quatro vítimas do atentado à faca. Leonardo chegou a ser socorrido na Santa Casa da cidade, mas as perfurações atingiram o peito do menino e afetaram vários órgãos. Ele morreu minutos após ser atacado.
"Eu perdi meu garotão. O Léo era um garoto obediente, fiel e nunca teve problema com ninguém. Foi um grande neto e infelizmente minha filha perdeu um grande filho", disse o avô José Divino Xavier.
A ex-professora Gladis Meira Justino citou a expectativa do garoto com a formatura no colégio, que seria neste ano. "O Léo era um menino doce, solidário e dedicado aos estudos. Era caprichoso e sempre estava perto para ajudar os amigos. Um menino de coração gigante, maior que ele. Ele tinha muitos sonhos e estava muito animado e ansioso para a formatura dele no final desse ano. Infelizmente não deu tempo."
Amigos do Leonardo, que estudam na escola, também estiveram presentes no velório. "Eu estava lá no momento em que tudo aconteceu, eu vi meu amigo de infância ser esfaqueado e não sei nem dizer como estou me sentindo. Fiquei em choque, entrei em tristeza profunda. Foi horrível ver meu amigo sendo morto na minha frente e não poder fazer nada", relatou um estudante do 9º ano.
Amigos da família também compareceram ao velório. "Um momento muito triste. Não tinha como a gente esperar, o Léo era um adolescente muito querido, a gente fica em choque e tenta ser solidário à família nesse momento. Como pais, amigos e comunidade a gente sente a dor da família", afirmou Daiana Tavares.
Dois estudantes — um menino e uma menina — de 13 anos passaram, ontem, por cirurgia torácica e cardíaca e estão internados em estado "muito grave". Uma quarta adolescente, de 17 anos, também foi ferida no peito, mas sem gravidade. Ela está internada em observação no setor de urgência e emergência, disse a assessoria do hospital. (Com Folhapress) n
* Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice
Investimento em segurança
Todas as 3,4 mil escolas estaduais têm sistema de videomonitoramento e alarme. A medida foi uma das anunciadas pelo governo de Minas, em abril, durante a onda de ameaças de massacre em escolas no país. Além do monitoramento com câmeras e sensores, foram propostas novas regras e maior rigor com restrição de acesso às instituições de ensino. O Protocolo de Acesso e Segurança para as Instituições Escolares de Minas Gerais, lançado em abril, foi implementado em todas as escolas da rede estadual, exigindo a identificação e autorização para o acesso de visitantes nas instituições de ensino. Além disso, o protocolo remodelou o fluxo para aviso das ocorrências de violência, criando um canal direto entre os gestores escolares e os comandos regionais da Polícia Militar, contribuindo para o atendimento mais rápido de eventuais ocorrências. Desde 2022, foram investidos R$ 48 milhões para que as escolas da rede estadual adotassem o sistema de videomonitoramento e alarme, para vigilância e monitoramento remoto e sensores de presença com alarmes sonoros ativados 24 horas por dia e 7 dias por semana.