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Estado de Minas Educação

Professores semeiam conhecimento e colhem bons resultados

Na comunhão de ensino e aprendizagem, docentes e alunos cultivam e colhem. Entre os frutos, reconhecimento e autonomia, citam educadores


14/10/2023 04:00 - atualizado 14/10/2023 11:35
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As históricas dificuldades enfrentadas pelas escolas públicas no país, ao longo dos anos, são compensadas, inúmeras vezes, pelo empenho dos professores e bons resultados dos estudantes. Na comunhão de ensino e aprendizagem, docentes e alunos seguem o caminho buscando terreno fértil para seus objetivos.

“Vamos plantando, semeando e colhendo os frutos do conhecimento”, destaca Fábio Andrade Machado, professor das escolas municipais Cora Coralina, na Região de Venda Nova, e Professor Cláudio Brandão, na Região Noroeste, em Belo Horizonte. Na colheita, está também a professora Laureci Gonçalves Martins, para quem os docentes merecem, sempre, o reconhecimento por parte da sociedade.

Para os que atuam na formação de novos profissionais, a estrada da educação passa pelo conhecimento, pela interação entre docentes e alunos e pela prática da liberdade. “Trabalhamos para a formação de seres autônomos, que pensem com liberdade”, ressalta a professora de filosofia da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Magda Guadalupe dos Santos.
 
 
Professor de duas escolas municipais, Fábio Machado usa jogos para ensinar matemática e ciência e colher resultados que o orgulham
Professor de duas escolas municipais, Fábio Machado usa jogos para ensinar matemática e ciência e colher resultados que o orgulham (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
 

Soma de conquistas


Nascido na capital, formado em pedagogia e na profissão há 14 anos, o professor Fábio Andrade Machado leciona matemática e ciências para crianças de 9 a 11 anos do ensino fundamental 1. “Sempre me identifiquei com o estudo da matemática, e procuro despertar o interesse dos jovens com o trabalho lúdico, por meio de jogos e participação em olimpíadas científicas.” Nesse campo, o professor e seus alunos somam conquistas.

Em julho, a aluna da rede municipal de BH Anna Beatriz Mineiro Marques ganhou a medalha de bronze na 4ª Olimpíada Copernicus de Matemática, realizada na Columbia University, em Nova York, nos Estados Unidos (EUA). Ela e o colega Daniel Santos da Costa, também participante da olimpíada, estudam na Professor Cláudio Brandão, no Bairro Aparecida, e competiram com 500 estudantes de 30 países. “É um motivo de muito orgulho para nós”, afirma Fábio, que, além de acompanhá-los aos EUA, supervisionou a preparação de Anna Beatriz e Daniel em atividades em casa e na escola.

No ano passado, alunos da Professor Cláudio Brandão conquistaram medalhas na Olimpíada Canguru de Matemática, na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, na Mostra Brasileira de Foguetes, na Olimpíada Brasileira de Robótica, na Olimpíada Mandacaru de Matemática, e destaque na Olimpíada Mirim da Obmep. Além do prêmio de 1° lugar na Olimpíada Nacional de Matemática On-line Matific.

“Sempre trabalhei em escola pública, e posso dizer que as duas em que sou professor, em BH, encontram-se bem equipadas, com boa estrutura para receber os alunos”, diz Fábio, que muitos chamam de Tio Fábio. Ele está certo de que o compromisso com a realidade, a educação para o futuro e a parceria com as famílias são fundamentais para o rendimento.

“A educação é a chave e o caminho para o sucesso de cada estudante”, afirma o professor, destacando que, nos novos tempos, a tecnologia e todas suas ferramentas vieram para ajudar, embora nada substitua o interesse dos estudantes pelos estudos.
 
 
Professora de educação infantil, Laureci Gonçalves
Professora de educação infantil, Laureci Gonçalves defende com unhas e dentes a profissão escolhida. E pede mais respeito (foto: Arquivo pessoal )
 

RESPEITO


A mineira Laureci Gonçalves Martins, de 45, seguiu um longo caminho antes de chegar à sala de aula, espaço que considera quase sagrado, pois nele pode educar e ganhar o sustento, além de contribuir para o crescimento da cidade. Professora de educação infantil numa escola do Bairro Novo Aarão Reis, na Região Norte de BH, ela defende com unhas e dentes a profissão escolhida. E pede mais respeito.

“Nos meus tempos de menina, as pessoas consideravam o professor um ‘doutor’, era muito valorizado como ser humano e profissional. Hoje, infelizmente, não há o mesmo reconhecimento”, lamenta Laureci, mãe de Luana, de 13, e Luiz Felipe, de 3. "O professor tem, na maioria das vezes, que enfrentar vários desafios, como,  por exemplo, atos de desrespeito contra nossa profissão. Isso ainda é comum na sociedade."

Nascida em Ataleia, no Vale do Jequitinhonha, Laureci veio para a capital aos 22 anos, já formada no curso de magistério, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Mas o início foi pura decepção. “Não consegui lugar para lecionar, então me empreguei em padaria, loja, frigorífico.” Mais tarde, conseguiu serviço em creches conveniadas. Sempre de olho no seu objetivo, e sem desanimar, fez concurso, há nove anos, para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), passou e se sentiu mais tranquila.

Ativa nas ações comunitárias, Laureci também colhe os frutos do que plantou em quase 20 anos de vida ligada à educação. “Amo minha profissão, que é digna e de grande importância na sociedade. Formamos futuros profissionais. Quando trabalhamos em escola pública, precisamos lutar ainda mais, mas estou certa de que educar é a grande vitória. Encontro jovens que vi, pequenininhos, na creche, e fico feliz quando os vejo bem.”


UNIVERSO FECUNDO


Minas Gerais é um vasto universo de professores e alunos. De acordo com o Censo Escolar 2022, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira  (Inep), o estado tem cerca de 4,3 milhões de estudantes e 234 mil docentes, considerando todas as redes de ensino (federal, estadual, municipal e privada) das etapas de ensino da educação básica (educação infantil ao ensino médio).

Na rede de ensino estadual, segundo a Secretaria de Estado de Educação, há cerca de 1,6 milhão de estudantes matriculados e 132 mil professores. Na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), são cerca de 21 mil estudantes matriculados e 1,6 mil professores ativos. Já a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) tem cerca de 12 mil estudantes matriculados e 1.036 professores ativos.

No amplo e fecundo universo da educação, o verbo lecionar só tem – e faz – sentido com a interação de professores e alunos. É, por excelência, um verbo de ação, não existe sozinho. “O ato de ensinar só se compreende e se completa na atividade sincrônica de aprender. Professores e estudantes ensinam e aprendem simultaneamente uns com os outros. Essa é a beleza da educação”, diz a professora de filosofia da Faculdade de Educação da Uemg, Magda Guadalupe dos Santos, com graduação, mestrado e doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e formação em direito na Faculdade Milton Campos.

Ouvir a profissional que prepara futuros professores permite compreender mais sobre o ofício escolhido por ela, há décadas, e conduzido como missão: “Lecionar é a razão da minha vida, uma forma de contribuir para a sociedade”. Para Magda Guadalupe, sua trajetória vai além da sala de aula, pois está certa de que os docentes são agentes de transformação social.

“Trabalhamos para a formação de seres autônomos, que pensem com liberdade. Uma das nossas grandes preocupações, na formação de professores no curso de pedagogia, é atuar para aniquilar o autoritarismo sobre a educação, deixar que os alunos pensem livremente.” Vale destacar que Magda Guadalupe estudou na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich/UFMG), no histórico prédio da Rua Carangola, no Bairro Santo Antônio, em BH, símbolo de resistência ao regime militar (1964-1975) e local escolhido para o Memorial da Anistia, ainda no papel.

Natural de Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas, a professora, a exemplo de milhares de docentes brasileiros, conjuga as atividades escolares (também leciona na PUC Minas, em BH) com reuniões de trabalho, atividades extracurriculares e a vida familiar. Casada com o professor de língua e literatura grega da UFMG Jacyntho Lins Brandão, tem três filhos e quatro netos. Na terça-feira, após uma manhã de trabalho, e aproveitando uma folga para curtir os netos, no recesso escolar, ela se declarou plena de esperança no futuro. “Passamos pelo período de ditadura no Brasil, enfrentamos a pandemia e vivemos recentes anos conturbados. Diante de tudo isso, a educação e o conhecimento nos revigoram”, acredita. 


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