Depois do inverno colorido pelos ipês, chega a vez dos flamboyants pintarem as ruas de Belo Horizonte na primavera recordista em calor. Combinando com as altas temperaturas registradas na capital mineira, o nome da árvore com origem no latim significa “flamejante” e faz referência às conhecidas flores em vermelho vivo que parecem chamas.
Com origem na Ilha de Madagascar, o flamboyant foi descrito em 1824 por um botânico francês. As árvores passaram a enfeitar o Brasil no século 19, quando Dom João VI se encantou pelas cores das flores. A bióloga, mestre em botânica e professora da UNA Fernanda Raggi explica: “Ele trouxe primeiro para o Rio de Janeiro. Mas, como é uma árvore de clima tropical, se adaptou muito bem à Região Sudeste e acabou se espalhando para outros estados”. Fernanda explica que os animais e insetos foram os principais responsáveis por levar a beleza do flamboyant para outras cidades. “O flamboyant é da família das leguminosas e o fruto é uma vagem, igual ao feijão, ao amendoim, à soja. E pássaros, principalmente, gostam muito de comer e acabam espalhando as sementes”, afirma.
É pensando na época de maior atividade dos animais e insetos, inclusive, que o flamboyant decide florescer no verão e na primavera, nos meses de outubro a dezembro. “O relógio biológico da árvore entende que se ela florescer nesta época os frutos se espalham com uma rapidez maior com o trabalho desses outros seres vivos.”, explica Fernanda.
Para facilitar o trabalho dos insetos, as flores vêm em cachos e com miolo amarelo. De acordo com a bióloga, o objetivo é imitar as abelhas, que vão até as flores polinizar e contribuir para reprodução das árvores. “Graças ao miolo amarelo com risquinhos escuros, o zangão acredita que é a abelha rainha e vai lá para polinizar, achando que vai namorar também. Essa característica dela é justamente para atrair as abelhas e outros insetos”, conta.
ORNAMENTAÇÃO URBANA
Apesar de estarem ameaçados de extinção no estado selvagem, os flamboyants são muito cultivados pelo valor ornamental. Em Belo Horizonte, é possível ver diversos exemplares das árvores na Praça Raul Soares e no Parque Municipal, no Centro-Sul da cidade, além da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que conduz o inventário sobre a arborização urbana, há 3,5 mil flamboyants em espaços públicos de BH, distribuídos assim: Região Centro-Sul (787), Leste (415), Oeste (993), Noroeste (624) e Pampulha (938).
O flamboyant, que pode viver por até 70 anos, também vem em outras cores, como o laranja e o amarelo, mas as flores vermelhas são as mais comuns na capital e chamam a atenção de quem passa pelas árvores. É o caso de Tarcísio Ferreira, que tirou um minuto do seu dia para fotografar os flamboyants do Centro. “As flores em cachos e galhos longos chamam muita atenção pelo tamanho e, principalmente, pela exuberância da cor vermelha. Essa árvore é muito bonita e enfeita muito as ruas tanto vista de cima como de baixo”, afirma.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
ÁRVORE PEDE ESPAÇO
Apesar de os espécimes estarem espalhados pelas ruas de BH, a bióloga Fernanda Raggi explica que os flamboyants não podem ser plantados em qualquer lugar. Graças ao tamanho que podem atingir, essas árvores só são vistas em espaços abertos e mais isolados. “Ele pode chegar a 15 metros de altura, mas o maior crescimento é o horizontal, já que a copa, que parece um guarda-chuva, pode chegar a 10 metros de comprimento”, explica. Além disso, o flamboyant também não pode ser plantado em calçadas curtas e estreitas, porque a raiz superficial, ou seja, que fica acima da terra, também pode atingir 10 metros e acabar quebrando o pavimento.