Jornal Estado de Minas

LITERATURA

Jovens no tráfico é tema de livro que será lançado em BH

 
A trajetória de vida de jovens inseridos no comércio ilegal de drogas em Minas Gerais é o mote do livro “Por onde andam os meninos do tráfico? - Entre sonhos e resistências", da psicóloga Flávia Guimarães, que será lançado nesta sexta-feira (20/10) em Belo Horizonte. A obra acompanhou adolescentes de várias cidades mineiras internados em um centro socioeducativo de Juiz de Fora, na Zona da Mata. 





O trabalho é fruto de uma pesquisa de mestrado da autora na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sob a orientação do professor Fernando Santana de Paiva. “A ideia partiu da minha trajetória de atuação com jovens em comunidades de BH e região metropolitana e, também, de Juiz de Fora”, frisou Flávia.

Por seis meses, dezenas de adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas, todos eles por tráfico de drogas, foram acompanhados semanalmente pela pesquisadora, durante as atividades grupais de rotina. Ao fim desse período, nove dos garotos, com cerca de 15 anos de idade, foram entrevistados.

“Identificamos quem pudesse ter experiência em regiões distintas de Minas, porque acaba trazendo características diferentes da forma como o tráfico acontece. São meninos com anos atuando no crime de comércio de drogas, anos cumprindo medidas socioeducativas, num vai-e-vem de instituições”, contou a autora. “São vidas marcadas por diversas formas de violência desde muito cedo”, complementa.




 
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Para muitos dos jovens ouvidos durante a pesquisa, segundo Flávia Guimarães, o tráfico de drogas acabou se apresentando como alternativa para que tivessem roupa, dinheiro para se divertir e para levar alimentos para a família. “Até mesmo como um trabalho. 

A psicóloga diz que o livro traz uma análise aprofundada da constituição histórica sobre como o Estado se posiciona frente à população periférica. “A constituição do Estado e os dispositivos dele acabam se consolidando de forma a segregar. É uma história que se repete, assim como os jovens que se veem sem possibilidades, sem oportunidades”, diz.

“Queremos, com o livro, trazer uma leitura aprofundada sobre como funciona o esquema (do tráfico de drogas), como eles (criança e adolescentes envolvidos com o crime) são a ponta frágil desse esquema, acabam se colocando como a ponta mais fraca, mas são crianças. Elas precisam de educação, trabalho, suporte à família, e não de violência”, conclui Flávia Guimarães.