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Estado de Minas TRÂNSITO

Curva acentuada na Via 710 assombra o Bairro Santa Inês

Acidentes que vão de batidas a atropelamentos viram rotina em trecho perto de estação do metrô, apontam ciclistas e moradores. PBH promete semáforos


24/10/2023 04:00 - atualizado 24/10/2023 07:34
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trânsito na 'curva da morte', que coleciona acidentes: na avaliação de usuários, localização da faixa de pedestres está entre as causas de acidentes no local
trânsito na "curva da morte", que coleciona acidentes: na avaliação de usuários, localização da faixa de pedestres está entre as causas de acidentes no local (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press )


“Curva da morte” é como ciclistas, moradores e comerciantes do Bairro Santa Inês, na Região Leste de Belo Horizonte, têm chamado um trecho da Via 710 que passa pelo local. Desde a finalização das obras da via na região, em fevereiro, quem frequenta ou vive no bairro convive com o medo e insegurança devido ao alto número de acidentes que ocorrem na altura do número 940, próximo da Estação José Cândido da Silveira. Segundo a prefeitura da capital, semáforos serão implantados no local até o fim do ano.

A construção da Via 710, que atravessa oito bairros das regiões Leste e Nordeste, foi iniciada em 2014, ainda na administração do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB), com a promessa de facilitar o acesso às regiões, reduzindo custo e tempo de deslocamento e sem impactar a área central da cidade. A previsão inicial era de término das obras antes da Copa do Mundo, no mesmo ano, mas o prazo não foi cumprido.

O acesso em toda a extensão de aproximadamente cinco quilômetros da via que liga as avenidas dos Andradas e Cristiano Machado foi liberado em fevereiro. Mas moradores que vivem no entorno do trecho reclamam de constantes acidentes, incluindo batidas e atropelamentos, ocasionados principalmente pela alta velocidade com que os carros passam na região e pela localização da faixa de pedestre instalada. “Aqui, ou é barulho de buzina ou de batida, não tem sossego. Tenho até medo de ficar no passeio, porque é acidente todos os dias”, afirma o serralheiro Cássio Porto Oliveira, que tem um estabelecimento comercial na região.

Em um vídeo gravado em setembro, é possível ver a cabine de um caminhão destruída após invadir a calçada e derrubar um poste. “Ao chegar ao serviço tivemos uma pequena surpresa, olha o que virou esse caminhão aqui na porta”, diz o homem responsável pela gravação. A naturalidade na fala de quem está acostumado com o cenário de batidas é traduzida também na calçada e no portão de uma casa na região, que apresentam diversas marcas de pneu e frenagens de quem não conseguiu fazer a curva. “Já presenciei diversos acidentes aqui, capotamento, carro subindo ali no canteiro, outro dia carro e moto trombaram. Antes disso, no mês passado um motoqueiro bateu aqui de madrugada e morreu”, enumera Cássio. 

Com esse cenário em mente, o ciclista e funcionário público Cristiano Scarpelli se uniu a outros ciclistas e moradores da região para reivindicar mais segurança para o local. “Eu tinha que fazer esse trajeto todo dia quando trabalhava na Cidade Administrativa. Atualmente, não passo tanto mais no dia a dia, mas vou para acompanhar esse problema da curva que eu vi de perto”, afirma Cristiano.

Foi ele, inclusive, quem teve a ideia de colocar uma câmera voltada para a região que, em 10 dias, registrou quatro acidentes. A ideia inicial era contar a quantidade de ciclistas que passam pelo local para um projeto pessoal de Cristiano, mas, após contato com a população, o funcionário público acabou percebendo que a filmagem poderia ser útil para o registro de acidentes também. “A gente instalou de maneira muito precária, na janela de um morador. Mas o pessoal está avaliando colocar permanente, já que registrou acidentes, inclusive a primeira morte”, conta.

De acordo com Scarpelli, além dos problemas relativos à falta de sinalização, redutores de velocidade e a localização da faixa de pedestres, quem pedala sofre com  o traçado da ciclovia que, em cima da curva, muda do lado esquerdo para o direito da via. “O motorista em alta velocidade não vê quem atravessa e o pedestre e ciclista não veem o carro”, afirma. Cristiano ainda acrescenta: “É um inferno para quem mora aqui. Você pode acordar a qualquer hora com barulhos muito violentos, gente pedindo socorro. Pode ser a qualquer hora do dia, mas acontece principalmente à noite”.

POSSÍVEIS SAÍDAS

“Uma via deve ser segura para os carros mas, principalmente para os pedestres”, afirma o mestre em Engenharia de Transportes e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Paulo Rogério Monteiro. De acordo com ele, para estabelecer o limite de velocidade de uma passagem, é necessário entender como se classifica a via, ou seja, se é arterial, coletora ou local, e se a geometria do local possibilita que o carro trafegue com segurança em determinada velocidade.

“A Via 710 é arterial, então, é necessário que ela tenha uma velocidade mais alta, graças ao maior fluxo de carros e por, normalmente, ter menos pedestres em torno”, explica.  Ainda sim, afirma, se em um local o carro perde o ponto de tangência e sai pela curva, é sinal de que ou a geometria da via não condiz com sua classificação ou o limite de velocidade praticado é maior do que o permitido pela geometria.
Segundo Paulo, a instalação de um ponto de redução de velocidade antes da curva, como quebra-molas ou radar, contribuiria para que os carros entrassem na curva com uma velocidade mais compatível, aumentando a segurança do local.

Sobre a faixa de pedestres, o pesquisador explica que o dispositivo deve respeitar o fluxo de quem caminha pelo local e que a instalação é feita onde é percebido um maior número de pessoas atravessando. “Colocar uma faixa em uma curva com veículos em alta velocidade não é a coisa mais sensata a se fazer, mas se esse é o melhor ou o único lugar, é necessário reduzir a velocidade”, diz.

Paulo considera ainda que a instalação de um semáforo com botoeira, que permite que o pedestre aperte o botão para fechar o sinal, também seria uma possível solução. “É claro que é necessário levar em consideração os estudos do local e tratar a resolução de problemas de maneira equilibrada, já que uma baixa velocidade também pode causar problemas”, finaliza.

Reivindicação da população

Com a frase “A vida pede passagem na Via 170”, a população que reside e frequenta o trecho próximo à curva se reuniu no dia  19 de outubro  com o secretário de Governo, Castellar Neto, para apresentar as reivindicações de aumento da segurança no local. O encontro contou também com a presença do vereador Wagner Ferreira (PDT) e da BHTrans. De acordo com Cristiano, um dos responsáveis pela mobilização, o resultado da conversa foi a promessa de controle semafórico e estudo para instalação de redutores de velocidade. “Agora é esperar para ver mas, enquanto isso, vamos continuar alertando e acompanhando a situação até ter melhora efetiva”, conta. Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte confirmou que está prevista a implantação de sinalização semafórica no local até o fim do ano. n 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho


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