Uma bactéria vem assustando os pais de crianças de São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. A doença já matou três crianças, de 3, 9 e 10 anos, entre setembro e a última segunda-feira (23/10).
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Ela conta que os testes vão estar disponíveis até sexta-feira (27/10), nas 18 unidades de saúde da cidade, mais a UPA. “O médico mesmo já faz o teste na criança na hora, para poder entrar com o antibiótico”, diz.
Todas as crianças de São João del-Rei, que apresentarem os sintomas: amigdalite, febre, dor na garganta, vômito, manchas e infecção na pele, podem receber, a partir de sexta, um teste rápido para detecção da bactéria.
Entenda o caso
A Secretaria Municipal de Saúde tomou conhecimento da primeira morte em 24 de setembro, comunicada pela Santa Casa Misericórdia de São João del-Rei. A vítima, um menino de 10 anos, apresentou quadro séptico (infecção generalizada). Conforme nota da secretaria, a declaração de óbito apontou infecção por Streptococcus do grupo A, mas não houve coleta de material para confirmação laboratorial.
Em 2 de outubro, a pasta foi notificada sobre a hospitalização de uma menina de 9 anos com sintomas de febre, lesão em calcâneo e pé. Ela passou por exames na unidade de saúde, com envio de amostras também à Fundação Ezequiel Dias (Funed) que, no dia 18, confirmou a contaminação pela mesma bactéria. A criança evoluiu bem e teve alta hospitalar.
Em 8 de outubro, uma menina sanjoanense de apenas 3 anos morreu durante uma viagem com a família para o Maranhão. Segundo a Secretaria de Saúde, a declaração de óbito apontou insuficiência respiratória aguda, hemorragia pulmonar, infecção não especificada e outros distúrbios de coagulação. Conforme a Secretaria de Saúde, ainda é aguardado o resultado da necropsia.
A morte de uma menina de 10 anos foi confirmada em 23 de outubro. Ela havia dado entrada na UPA 24h, depois de passar pela Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei. A causa da morte seria disfunção de múltiplos órgãos como consequência de choque séptico. Conforme informações de familiares da criança, foi coletado material clínico e enviado à Funed. Ainda na segunda-feira, a Prefeitura informou que outras quatro crianças estão internadas e acompanhadas por equipes da Vigilância em Saúde.
Outras quatro crianças estão internadas na rede municipal de saúde, sendo que uma já testou positivo para infecção pela bactéria, segundo confirmou o secretário municipal de Saúde, Renê Marcos Fernandes, ao Estado de Minas.
Mães estão recorrendo para outra cidades
Os moradores de São João del-Rei estão se queixando do atendimento da rede de saúde pública na cidade, especialmente da sobrecarga de pacientes e da falta de pediatras na rede pública. Aline Teixeira, moradora de São João del-Rei, conta que o filho, de 9 anos, apresentou dor de cabeça na escola e, diante da preocupação geral com a doença, o levou para a Santa Casa de Misericórdia.
Lá, a mãe foi informada de que se tratava de uma alergia, mas ela questionou o diagnóstico: “Não tinha condições de ser uma alergia”. Assim como as outras crianças infectadas, o filho de Aline apresentava febre, vômito, manchas e infecção na pele. Os medicamentos receitados foram para alergia e dores de cabeça e de garganta e não resolveram o problema. A mãe voltou à Santa Casa e se deparou com a unidade de saúde lotada.
“Quando chegamos lá, estava lotado de crianças passando mal. São João del-Rei está um caos, de tanta criança doente”, afirma Aline. A solução foi recorrer ao sistema de saúde de Barbacena, onde foi solicitada uma bateria de exames: de sangue, urina e fezes, que confirmou que se tratava da bactéria, na noite de segunda-feira (23/10). "Ele foi medicado corretamente, e agora está passando bem em casa, com a bactéria sendo tratada", afirma.
Além disso, Aline relata que a rede de saúde pública não tem médicos pediatras nem na Unidade de Pronto Atendimento, nem na Santa Casa, e que os pediatras da rede particular estão com a agenda cheia. “Só tem vaga para a semana que vem, então, tenho de adivinhar que meu filho vai passar mal e marcar a consulta para a próxima semana?”, questiona.
Medidas de segurança
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde disse que acompanha o caso, mas não vê indícios de surto da bactéria. Com as mortes, o Setor de Vigilância e Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde foi acionado. Segundo a pasta e o poder estadual, não há um surto, no entanto, medidas estão sendo adotadas para evitar que isso aconteça.
A primeira decisão, de acordo com a prefeitura, foi o fechamento das escolas municipais, embora um parecer da Secretaria Municipal de Saúde tenha sustentado não haver necessidade dessa medida. A administração da cidade, porém, optou por esse caminho. A população foi orientada a não mandar crianças que estejam sintomáticas à escola. Nesse caso, deve-se procurar o atendimento médico nas unidades da prefeitura e também na rede hospitalar.
Todas as escolas da rede passarão por uma desinfecção e limpeza generalizada a partir desta quarta (25/10), e permanecerão com as atividades suspensas até 5 de novembro. A Secretaria de Saúde entende também que os óbitos não estão correlacionados epidemiologicamente. Quatro crianças estão internadas com os sintomas, em observação. Amostras de sangue foram coletadas e enviadas à Fundação Ezequiel Dias (Funed), laboratórios de referência do estado, em Belo Horizonte, para análise.
O que é essa bactéria?
O Streptococcus A é uma bactéria que normalmente causa problemas na garganta ou na pele. Muitas pessoas carregam o micro-organismo sem apresentar qualquer sintoma. Mesmo assim, acabam transmitindo a bactéria para outras pessoas, que podem ficar doentes.
A bactéria passa de uma pessoa para outra por meio do contato próximo ou por meio de tosse e espirros. Os surtos às vezes acontecem em locais como escolas e casas de repouso.
Na maioria das vezes, os sintomas são leves: dor de garganta ou infecção de pele. Esses incômodos costumam ser facilmente tratados por meio de antibióticos. Mas os Streptococcus do grupo A podem causar uma série de outros problemas – e alguns deles são mais graves. O principal é a escarlatina, que afeta principalmente crianças pequenas e costuma melhorar com o uso de antibióticos
A Secretaria Municipal de Saúde de São João Del Rei não sabe o porquê da bactéria está matando as crianças na cidade, e aguarda resultado da Funed, para entender mais os motivos.