Tratando como “absurdo” o indiciamento da biomédica Lorena Marcondes por homicídio doloso por motivação torpe e traição, o advogado de defesa Tiago Lenoir disse que ela “não saiu de casa para matar ninguém”. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) a indiciou pela morte de Íris Nascimento, de 46 anos.
A paciente morreu, no dia 8 de maio deste ano, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, após ser submetida, segundo a polícia, a uma lipoaspiração. “Ela saiu de casa para trabalhar como ela já tinha realizado inúmeros procedimentos ao longo de 12 anos de profissão”, enfatizou.
Lenoir criticou a atuação da Polícia Civil, dizendo que o inquérito foi conduzido a “toque de caixas” para dar uma resposta à imprensa. Detalhes do indiciamento foram divulgados na terça-feira (24/10) em coletiva.
Também acusou a polícia de cercear aos jornalistas informações importantes para a elucidação do caso. Uma delas é sobre a lidocaína encontrada no corpo da paciente. Ele alega que o produto é um dos compostos do líquido Klein – que também tem soro e bicarbonato - utilizado para anestesiar determinadas regiões do corpo.
“Esse líquido é usado por todos os profissionais da estética, sobretudo pelos biomédicos. O médico-cirurgião, aquele que faz a lipoaspiração, ele faz uma anestesia que é local ou geral, que é completamente diferente desse líquido Klein”, argumentou.
Contradizendo a alegação da perícia da Polícia Civil, o advogado disse que as perfurações no corpo de Íris não significam uma lipoaspiração.
“O simples fato de a vítima ter 12 pertuitos, que são pequenas inserções na região subcutânea, demonstra que não houve lipoaspiração. Uma lipoaspiração é um procedimento muito complexo, o qual o médico faz quatro furos enormes e utiliza cânulas enormes e uma máquina enorme para fazer a aspiração dessa gordura”, argumenta.
Lenoir mantém a informação de que a paciente foi submetida a uma lipo laser que, em tese, não é invasiva e sem cortes.
“No caso da biomedicina, eles podem sim utilizar o laser para fazer o procedimento estético. E aí tem, sim, que fazer esses pequenos pertuitos, que a Lorena já tinha realizado em diversas pessoas, para passar um fio de laser para fazer esse procedimento, que é autorizado pela biomedicina”, defende.
Primeiros socorros
O advogado voltou a dizer que a biomédica prestou todo o atendimento necessário a paciente. “Como que uma pessoa que, supostamente, assume o risco de matar, presta os primeiros socorros para a vítima e fica lá até o final, inclusive ela foi presa em suposto flagrante delito”, afirma. A equipe da clínica acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
O advogado ainda relacionou o choque hemorrágico às tentativas de reanimação da vítima. “Ela foi massageada por mais de uma hora, seja pelo Samu ou pelos médicos que chegaram antes na clínica. Então, é claro que ela teria várias hemorragias internas”, argumentou.
A paciente foi levada para a Sala Vermelha do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) onde morreu cerca de 10 horas após dar entrada.
“O que eu percebo da Polícia Civil é que eles encontram um suspeito e vão atrás de um culpado, sem analisar os diversos ângulos que devem ser analisados com toda seriedade para a busca da verdade”, criticou.
Ocultação de provas
O inquérito também concluiu que houve ocultação de provas. Vídeos de câmeras de segurança mostram o momento em que uma das funcionárias de clínica chega a um estacionamento no centro da cidade.
No banco de trás, um dia após o ocorrido, a polícia encontrou um saco preto com medicamentos, adrenalina, anestésicos, soros usados para preenchimentos e bicarbonato, além de compressas sujas de sangue. Elas foram submetidas a análises que confirmaram se tratar do DNA da vítima.
Em imagens do circuito interno do prédio onde funcionava a clínica é possível ver um funcionário segurando um saco preto no momento em que a equipe do Samu chega.
Contudo, o advogado nega ocultação de provas. “Durante toda aquela confusão de retirar a vítima do procedimento, Samu, a Polícia Militar foi acionada, a Polícia Civil. Não teve prazo para ocultar nenhuma prova, para ocultar nenhum objeto”, alegou.
Causa da morte
De acordo com o médico-legista João Paulo Nunes “existe uma cadeia de eventos que levaram a morte da paciente”.
“Você tem traumatismo abdominal penetrante, com sinais evidentes de lipoaspiração, choque hemorrágico, intoxicação anestésica, conduzindo a uma parada cardiorrespiratória, ela contribuiu de forma decisiva para essa aspiração e desfecho do óbito”, afirmou.
“Você tem traumatismo abdominal penetrante, com sinais evidentes de lipoaspiração, choque hemorrágico, intoxicação anestésica, conduzindo a uma parada cardiorrespiratória, ela contribuiu de forma decisiva para essa aspiração e desfecho do óbito”, afirmou.
Lenoir contestou e afirmou que a vítima tomava cloridrato de paroxetina. “Por que o médico legista em momento algum explora isso? Que a paroxetina em conjunto com a lidocaína poderia causar um mal súbito na vítima?”, indagou. O advogado afirma que a informação foi repassada pelo marido de Íris.
A polícia diz não haver nenhuma prova de que a paciente usava ansiolítico.
Lenoir diz esperar uma conclusão diferente do Ministério Público. “Não é assim que se faz justiça”, declarou. Caberá ao órgão oferecer ou não a denúncia contra a biomédica.
*Amanda Quintiliano especial para o EM