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Estado de Minas DIGNIDADE

Em BH: embaixo do viaduto tem um jardim

Local conhecido por abrigar moradores em situação de rua e usuários de entorpecentes ganha plantas e arte e muda olhar da vizinhança no elevado Angola,


28/10/2023 04:00 - atualizado 28/10/2023 07:53
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 Wagner Lucio, Criador do jardim
(foto: Fotos: Tulio Santos/EM/D.A.Press)
 

"É um choque de realidade ver isso em uma área de risco social por causa de poluição, droga, violência, todo tipo de coisa ruim. A sociedade abandona e aí tem que mandar uma visão que aqui também pode ser um lugar limpo, com flores, organizado, um local aconchegante"

Wagner Lucio Criador do jardim

Depois do Viaduto das Artes, espaço que junta cultura e arte embaixo de um elevado na Região do Barreiro, o Estado de Minas encontrou mais um lugar que desafia os estigmas que estes locais carregam em Belo Horizonte. No Viaduto Angola, que fica na Avenida Antonio Carlos, um jardim toma forma, com a presença de plantas e diferentes flores coloridas, que crescem em meio ao árido solo recoberto por pedras. 

O sem-teto Wagner Lúcio é o responsável pelo trabalho constante de revitalização do ‘seu quintal’. Junto com a esposa Flávia e os cachorros do casal, Wagner mora em uma casa, construída com ripas de madeira, lonas, papelão e outros materiais recicláveis atrás do jardim. Batizado de “Jardim Angola”, o espaço conta com uma extensa coleção de plantas e flores, como antúrios, bromélias e cactos em vasos. “Eu morava na comunidade, saí de lá por causa da dificuldade para pagar aluguel. Me afastei também do tráfico de droga. Aí resolvi me abrigar aqui na época que estava chovendo muito”, relata.

Lindinha pinta as pilastras do elevado
Lindinha pinta as pilastras do elevado, com obras que INCLUEM as populações marginalizadas


Desde então, Wagner limpa e organiza seu jardim todos os dias, sempre encontrando espaço para uma muda nova. Com o lema “mais planeta e menos lixo”, ele vê na atividade uma oportunidade de embelezar um espaço que normalmente não é tido apenas como abrigo para pessoas em situação de rua.

Ao ser perguntado se é proprietário do jardim, ele é categórico: “não é meu, é nosso!”. E acrescenta: “É uma contribuição para o planeta, já que estamos vivendo uma crise climática. E também para influenciar os outros moradores de rua a cuidar do espaço público.”

A iniciativa tem inspirado os vizinhos. Do outro lado do viaduto, mais um jardim começa a ganhar forma. “A gente contagiou ele também, não deixa lixo mais e tem uma consciência ambiental sustentável”, diz, orgulhoso. 

 Lounge Dona Alcione
Lounge Dona Alcione foi criado para gerar interação e socialização


Wagner conta que o objetivo é ir além do jardim, mas estabelecer um espaço de convivência para que outras pessoas passem a frequentar o local. Daí veio a ideia do ‘lounge’ Dona Alcione, batizado em homenagem à mulher de quem recebeu as primeiras mudas. Há locais para sentar, uma mesa de centro e um relógio, além de muito verde. 

“Quem passa aqui fica feliz de ver cor e vida. É um choque de realidade ver isso em uma área de risco social por causa de poluição, droga, violência, todo tipo de coisa ruim. A sociedade abandona e aí tem que mandar uma visão que aqui também pode ser um lugar limpo, com flores, organizado, um local aconchegante.”, explica Wagner. 

Desde o ano passado, o Jardim Angola tem chamado a atenção de quem passa por baixo do viaduto. O responsável conta que recebe elogios todos os dias pelo trabalho que faz. “É o que motiva a gente mais ainda, a satisfação das pessoas. Principalmente os moradores do entorno que estão acostumados a ver uso de drogas, violência tão explícita encontrar um ambiente assim mais natural”. 

A vez das pinturas

A convite de Wagner, o Consultório Na Rua, iniciativa do Sistema Único de Saúde (SUS) que atende pessoas em situação de rua, também tem contribuído para o embelezamento do local. É a equipe do projeto que leva Lindinha, nome artístico de Flávia Carla, para pintar as pilastras do viaduto. Durante a visita da reportagem, Lindinha desenhar o rosto de uma mulher, com os olhos fechados e as mãos unidas em reza. O cabelo possui a mesma cor que o da artista, em um tom de rosa-avermelhado. “Ela está pedindo para abençoar todo mundo aqui”, revela a artista. “Estou aqui representando o povo da rua. Além de mostrar meu trabalho, é uma forma também de ajudar no jardim do meu amigo”, conclui a artista.  

*Estagiária sob supervisão do  subeditor Gabriel Felice


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