Os portões do galpão de 600m² na Rua Bernardo Guimarães, que abriga o Museu do Cotidiano, são abertos apenas em ocasiões especiais, sob agendamento, e guardam um acervo de “apenas 100 mil” objetos colecionados por Antônio Carlos Figueiredo. Na entrada, há placas: “entrada permitida somente a pessoas autorizadas”, ”não pise na grama”, “registro de trânsito de uma cidade chamada Tranqueiras” e o dizer “Deus abençoe essa bagunça”.
Pendurados no teto estão bicicletas – uma feita na inauguração de Brasília –, carrinhos de compras e de bebê e um orelhão. Passando pelo corredor estreito, as
organizações temáticas das coleções mostram mais cores e o tamanho do lugar parece cada vez maior. À esquerda, uma coletânea voltada para a produção audiovisual e escrita, com câmeras fotográficas analógicas, filmadoras, projetores, canhões de luz e máquinas de datilografar. À direita, figuras de madeira, arte popular brasileira, junto a peças que o ‘objeteiro’ Antônio fez com cabeças de bonecas e garrafas de vidro.
O posicionamento de algumas peças propositalmente desencadeiam o humor. Na mesma seção do primeiro celular do Brasil, o Motorola One – de dezembro de 1990, há outros telefones, um em formato de cachorro-quente. Para Figueiredo, o cotidiano pode ser compreendido entre 1 minuto atrás e o pós-guerra, quando houve uma mudança mercadológica e a formação das indústrias de consumo, com mais produção de objetos cumprindo papéis no dia-a-dia do ser humano.
Nenhum dos objetos tem valor estimado e nem estão à venda. Para Antônio, cada um tem sua alma, feitos pensando no dia-a-dia do ser humano, com uma função a cumprir. Há duas décadas ao menos, o ‘objeteiro’ busca expor parte do acervo, mas até hoje não foi firmado um acordo. Quando for o momento, Antônio deseja que o público realmente interaja de forma lúdica com os objetos, que eles os vejam e os toquem. Por hora, os itens seguem nos cuidados de Figueiredo e Expedito Pereira, que há 30 anos ajuda na manutenção da coleção.
Antônio Carlos conta que desde a infância junta objetos cuja alma ele sente. Aos 10 anos, encontrou uma cadeira de barbeiro à venda, feita de madeira e trançada. Não perdeu a oportunidade e, por morar com mais oito irmãos, a mãe da garotada perguntou ao jovem ‘objeteiro’ se havia espaço na casa para a cadeira. Ele disse que sim e a mãe retrucou: “só se for no lugar da sua cama”. O ‘objeteiro’ dormiu na cadeira por semanas e ela está no galpão até hoje. E assim o processo continua, um objeto por dia, pelo menos.
O Museu do Cotidiano fica localizado na Rua Bernardo Guimarãeas, 1.296, no Funcionários. As visitas devem ser agendadas pelo telefone (31) 99612-2431 ou pelo e-mail museudocotidiano@hotmail.com.
*Estagiário sob supervisão do subeditor Gabriel Felice