“Poesia era muito inacessível e culta, mas quando descobri que rap é ritmo e poesia, tudo mudou. Passou a ser algo que eu entendia e podia fazer”, afirma o artista Felipe Arco, nascido e criado em Belo Horizonte. Apesar do codinome, é batizado como Celso Felipe Marques Rosa. Aos 32 anos, ele fala sobre a carreira, que completa uma década em 2023.
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Região Venda Nova de BH: choveu 57% do esperado para o mês em 12 horasSuspeitos de matar motorista de aplicativo são presos na Grande BHFeira Hippie completa 50 anos com mudanças e novos debatesBR-381 volta a registrar lentidão na manhã desta segunda (30)Metrô de BH opera com problemas e atraso na manhã desta segunda (30)“O rap trazia uma linguagem que eu entendia e achava massa. Cresci num bairro mais periférico e, nas escolas, muitas vezes, mostram que poesia é Fernando Pessoa e Manuel Bandeira. Também são ótimos, mas não os únicos”, explica. No Bairro São Geraldo, Região Leste da capital mineira, Arco sempre encontrou motivação nas pessoas próximas à sua realidade.
O poeta ficou conhecido pelas frases motivacionais que escrevia em lixeiras espalhadas por BH, além de grafites em paredes, postes e muros. As escrituras são sua identidade e, apesar de incluir elementos gráficos, ele reforça que “tem sempre uma letra”.
O começo de tudo
Sorridente, relembra a última década de trabalho. Ao lado do primo, Judson Gonçalves, Arco deu os primeiros passos em direção à transformação da paixão pela escrita em algo rentável. “Eu e meu primo escrevíamos, mas nunca mostrávamos para ninguém. Então, veio a ideia de vender poesias no metrô, cada uma a R$ 0,50. Era uma folha A4 impressa, dobrada ao meio, com capa e três poesias”, conta.
Judson descreve Felipe como resiliente, ousado e sonhador. Em 2013, eles moravam juntos, pegavam o transporte público diariamente e reparavam o semblante de quem também estava nos vagões. “Pensávamos: será que a vida é só isso mesmo? Nascer, trabalhar e morrer?”, lembra Judson.
A partir disso, começaram com a venda das cartilhas e, depois, incluíram no combo, pacotes de paçocas. Tudo para ajudar nas despesas de casa, colocando em prática a intenção de levar conforto, pensamento positivo ou um sorriso para quem passava pelo hipercentro de BH. “Em um dado momento, eu parei. Mas ele continuou sempre muito resiliente. Hoje vejo, ainda mais, como o Felipe consegue cativar as pessoas com a poesia. Ele nunca desacreditou”, diz o primo.
Juntar o doce de amendoim com a escrita gerou o livro “200 mil paçocas e infinitas poesias”, a primeira das cinco publicações de Felipe Arco.
Polêmica no caminho
Quem anda pelas ruas de BH já viu a assinatura ‘Arco’ em muros e lixeiras, especialmente no Centro. Acompanhado de palavras românticas ou inspiradoras, os grafites foram palco de um grande problema em 2017, quando a prefeitura denunciou Felipe à Polícia Civil. As mensagens escritas à caneta em lixeiras geraram uma longa discussão sobre o que é considerado arte e o que é vandalismo.
“Sou a favor de caminhar lendo poesia pela rua. Numa lixeira que tinha resíduo e crostas de lixo, eu sempre limpava e fazia uma frase. Na minha concepção estava fazendo o bem. Eu limpo algo sujo, sem cuidado do poder público, e devolvo com uma mensagem que ajudará as pessoas no dia a dia. Acredito que isso ressignifica o espaço”, explica.
A linha tênue entre depredação e valorização do patrimônio público é questionada, mas Felipe defende, firmemente, o argumento da diferença. “Essa é uma discussão muito estética, não entro no mérito se é legal ou não, se é bonito ou não. Mas entendo que tudo faz parte do mesmo movimento. Meu trabalho já foi enquadrado em pichação por vezes, mas tudo também depende de autorizações. Se for permitido escrever, tudo bem, se não, pode ser preso”.
Atualmente, o artista realiza um projeto que planejava desde o início da carreira: viajar todas as capitais do Brasil, escrevendo suas poesias. Em sete meses, até junho de 2023, ele já tinha conhecido 22 cidades. Depois dessa jornada, a intenção é levar as frases para todos os países que tenham a língua portuguesa como idioma oficial. “O trabalho que faço na rua é curto, rápido e de simples entendimento. Isso porque eu quero impactar todos, da dona de casa ao médico”, finaliza.