A China prendeu dezenas de ativistas e mobilizou um forte esquema de segurança em suas principais cidades, depois de uma campanha lançada na internet para convocar manifestações pelos direitos humanos inspiradas pelas rebeliões populares contra regimes autoritários que se espalham pelo mundo árabe desde janeiro, informaram os organizadores da iniciativa neste domingo.
O governo está censurando mensagens de texto de celulares e na internet de convocação para os protestos, revelando o tamanho da preocupação do governo chinês com a possibilidade de uma rebelião mobilizada como as que derrubaram os regimes na Tunísia e no Egito.
As mensagens
"Saudamos (...) trabalhadores demitidos e vítimas dos despejos forçados que queiram participar das manifestações, gritar slogans e buscar a liberdade, a democracia e reformas políticas para acabar com o 'partido único'", diz uma das mensagens divulgadas na rede.
Os textos, cuja maioria parece ter origem em sites estrangeiros controlados por dissidentes chineses no exílio, convocam os protextos em Pequim, Xangai, Guangzhou e 10 outras grandes cidades chinesas.
Os policiais
No distrito de compras de Wangfujing, no centro de Pequim, onde os manifestantes foram orientados a se concentrar, centenas de policiais foram mobilizados. No entanto, não houve protesto.
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A agência oficial Xinhua indicou que a multidão que se reuniu para os protestos se dispersou em Pequim e Xangai depois da chegada da polícia. Em Xangai, pelo menos três pessoas foram presas.
Segundo mensagens postadas em fóruns na internet, apenas alguns manifestantes apareceram nas outras cidades, apesar do enorme contingente policial mobilizado nos locais de protesto em Harbin, Guangzhou e Chengdu.
A dissuasão
"Eu não acho que a convocação para protestar foi séria, ninguém de fato pretendia protestar porque há muitos policiais", estimou o advogado Li Jinsong, em entrevista à AFP.
"Levando isto tão a sério, a polícia apenas demonstra quão preocupada está com a possível influência da Revolução de Jasmim na estabilidade social da China", afirmou, referindo-se ao nome dado à rebelião na Tunísia, que derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali e inspirou movimentos semelhantes em vários países do mundo árabe.
Conforme a notícia da convocação se espalhava, vários dissidentes políticos e advogados foram detidos pela polícia, segundo ativistas.
"Muitos defensores dos direitos humanos desapareceram nos últimos dias, outros estão sob prisão domiciliar e seus telefones celulares foram bloqueados", indicou à AFP a advogada Ni Yulan.
"A presença da polícia do lado de fora de minha porta aumentou. E eles nos seguem se saímos de casa", contou Ni.
Telefone não atende
Proeminentes advogados chineses como Teng Biao, Xu Zhiyong e Jiang Tianyong não atenderam aos telefonemas da AFP neste domingo. Amigos e companheiros ativistas afirmam que eles foram detidos pela polícia.
Segundo o Centro de Informações pelos Direitos Humanos e a Democracia, mais de 100 ativistas já foram presos, "desapareceram" ou estão sob prisão domiciliar em Pequim, Zhejiang, Sichuan, Guizhou, Hunan, Xangai e outras cidades.
"Isto tem a ver com a convocação para uma Revolução de Jasmim", explicou o grupo, cuja sede fica em Hong Kong.