A rede de televisão Al-Jazeera informou na noite deste domingo que o ditador da Líbia, Muamar Kadafi, deixou o país em direção à Venezuela, de acordo com a agência de notícias chinesa Xinhua. A possível fuga de Kadafi ocorre após uma onda de protestos contra o governo do ditador que está há 41 anos no poder.
Saif el-Islam Kadhadi, filho do dirigente líbio Muammar Kadhafi, declarou, em entrevista à TV na madrugada de domingo para segunda, que a Líbia está à beira da guerra civil e é alvo de um complô estrangeiro.
Um médico da cidade de Benghazi, a segunda maior da Líbia, disse que forças controladas pelo coronel Muamar Kadafi mataram no sábado pelo menos 200 manifestantes opositores do governo que estavam enterrando os corpos de outras 35 pessoas mortas em um protesto realizado um dia antes. As estimativas apontam que haja ainda 900 feridos no conflito.
Intensos tiroteios foram ouvidos na noite de domingo no centro da capital líbia, Trípoli, informaram à AFP várias testemunhas contatadas por telefone. "Ouvimos rajadas de tiros por todas as partes, que se aproximavam do centro da cidade", informou à AFP um morador do bairro residencial Al Andalus.
Outra testemunha também disse ter ouvido tiros no bairro de Mizran, não muito longe da Praça Verde, no coração de Trípoli. Pouco antes, as forças de segurança lançaram bombas de gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes contra o regime no bairro popular de Gurgi, informou à AFP um morador do bairro, contatado por telefone. "Há manifestações. São ouvidas palavras de ordem contra o regime e tiros. O gás lacrimogênio invadiu a casa", disse, sem querem se identificar.
O Departamento de Estado americano anunciou este domingo ter informações confiáveis de que haveria "centenas" de mortos e feridos na Líbia e pediu às autoridades de Trípoli que autorizem manifestações pacíficas, seguindo recomendação feita mais cedo pela União Europeia.
Brasileiros
A chancelaria brasileira tenta, através de seu embaixador na Líbia, obter permissões para retirar em um avião fretado cerca de cem funcionários da construtora Queiroz Galvão de Benghazi (leste), onde tem havido enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança que teriam deixado pelo menos 173 mortos, informou à AFP uma fonte oficial.
O embaixador do Brasil em Trípoli, George Ney de Souza, tramita as permissões de sobrevoo e aterrissagem para um avião fretado pela empresa, que tem 123 funcionários brasileiros trabalhando em Benghazi.
A fonte da chancelaria informou que a companhia "deixou que os funcionários decidissem" se ficam ou se vão, e fretou um avião para retirá-los da região. "Alguns sim (querem ir) e outros não", disse a fonte sobre os funcionários da empresa.
Benghazi, segunda cidade líbia (1.100 km ao leste de Trípoli), é um dos focos da rebelião contra o coronel Muamar Kadhafi, que governa o país petrolífero do norte da África há 42 anos. Na Líbia vivem entre 500 e 600 brasileiros.
A onda de protestos contra os regimes autoritários de países muçulmanos do norte da África e do Oriente Médio começou no mês passado com levantes que depuseram os presidentes de Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, e Egito, Hosni Mubarak. Desde então, teve fortes repercussões na Líbia, no Bahrein e no Iêmen, e este domingo se fez sentir no Marrocos.