Os combates em Benghazi, a leste da Líbia, cessaram nesta terça-feira, mas seus moradores temem que agora possam ocorrer bombardeios aéreos sobre esta cidade situada mil quilômetros a leste de Trípoli, segundo testemunhos coletados por telefone pela AFP. "Desde segunda-feira à noite não há confrontos em Benghazi. O exército e os manifestantes tomaram Katiba Fadil Bouamar, o quartel da guarda presidencial, após duas horas de combate, entre as 20h e as 22h (15h e 17h de Brasília)", afirmou Usama, um habitante de Benghazi, que não quis revelar seu sobrenome. Esta cidade, a segunda maior do país, é a base da oposição ao regime do coronel Muamar Kadhafi e o epicentro da revolta que começou em 15 de fevereiro. A organização não governamental Human Rights Watch, citando fontes de saúde em Benghazi, disse na segunda-feira que pelo menos 60 pessoas morreram no domingo na cidade. Usama, que se apresenta como militar, disse ter ficado preso no quartel até ser libertado na sexta-feira por vários jovens. Segundo ele, cada vez que uma cidade cai nas mãos dos insurgentes o exército se une aos moradores. Também explicou ter conversado com amigos em Trípoli segundo os quais vários helicópteros dispararam contra quartéis do exército regular para impedir que os soldados se unissem aos manifestantes. Cerca de 160 civis morreram nesta ação, afirmou. Este testemunho não pôde ser confirmado por nenhuma outra fonte. Outra testemunha, Mayar, que vive no bairro Al Birkah, no sudoeste de Benghazi, afirmou que participaria nesta terça-feira à tarde de uma manifestação para apoiar os habitantes de Trípoli. "Estamos muito afetados pelo que acontece em Trípoli. Meus irmãos e irmãs vivem um pesadelo. Meu marido não conseguiu sair da capital. Trípoli está em estado de sítio. Kadhafi quer exterminar o povo", alertou. "Vi com meus próprios olhos pessoas armadas que saíam das ambulâncias e disparavam contra a multidão" em Benghazi, acrescentou. "Estive ontem (segunda-feira) no hospital Khalaa (de Benghazi) onde a situação é catastrófica, havia 60 cortejos fúnebres. No domingo, 100 cortejos fúnebres saíram do hospital", disse. Os helicópteros sobrevoaram a cidade até o início da noite de segunda-feira, enquanto eram ouvidos tiros nas ruas, afirmou Mayar. As duas testemunhas falam de rumores que circulam pela cidade segundo os quais Benghazi seria em breve alvo de bombardeios aéreos. Acrescentam que seus moradores se comunicam por SMS, já que as conexões de internet estão cortadas.