Jornal Estado de Minas

Brasileiros que deixaram o país falam da tensão na Líbia

Todos os cidadãos deixaram Trípoli, e os primeiros já chegaram a SP. Em Benghazi, navio espera autorização

Renata Tranches
O mineiro José Geraldo, engenheiro da Andrade Gutierrez, desembarca no aeroporto de em São Paulo e declara que todos estão bem - Foto: Marcos Alves/Agência O Globo Depois de dias de tensão e incertezas por conta dos violentos protestos entre opositores e simpatizantes do ditador Muamar Kadafi, funcionários de empresas brasileiras na Líbia começaram a deixar a capital do país. Cinco desembarcaram nessa quinta-feira em São Paulo, entre eles, o mineiro José Geraldo. A equipe técnica da Seleção Líbia de futebol, formada por brasileiros e comandada pelo técnico Marcos Paquetá, também deixou o país e desembarcou no Rio de Janeiro. O Itamaraty confirmou que todos os que estavam em Trípoli foram retirados, com exceção de um funcionário da construtora Queiroz Galvão e três da Embaixada do Brasil, incluindo o embaixador George Ney de Souza Fernandes.
Cinco funcionários da empreiteira Andrade Gutierrez foram os primeiros a desembarcar, de manhã, no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). A comissão técnica da seleção líbia chegou ao país pelo Aeroporto Tom Jobim – 14 pessoas ao todo, entre profissionais e seus familiares. Em Trípoli, eles conseguiram embarcar para Malta e Lisboa em voos fretados pelas empresas, solução alcançada após dias de negociação entre governos brasileiro, português e líbio para a liberação do espaço aéreo.

Os primeiros a regressar fizeram escala em Lisboa. Lá, desembarcaram cerca de 70 funcionários portugueses da Andrade Gutierrez que estavam no mesmo voo. Um engenheiro que se identificou apenas como José Geraldo disse, na chegada a Guarulhos, que não presenciou conflitos. "Chegamos bem, foi tudo tranquilo, não aconteceu nada conosco por lá", afirmou aos jornalistas. Em um comunicado, a construtora confirmou que concluiu "com êxito" a retirada de 234 pessoas de território líbio, entre funcionários e seus parentes. Entre eles, 14 são brasileiros, que chegam gradativamente ao país em voos comerciais.

Mais 107 brasileiros da Odebrecht e sete que trabalham para a Petrobras desembarcaram ontem em Malta. A empreiteira mantém na Líbia mais 2.749 funcionários, que devem ser resgatados nos próximos dias. A Petrobras também confirmou a retirada de quatro funcionários e três familiares no voo fretado pela Odebrecht, e assegurou qur eles estavam em Malta, "todos em segurança e em boas condições de saúde".

Situação mais complicada vivem os brasileiros em Benghazi, a cerca de 1.000km da capital líbia. Na cidade, palco dos piores enfrentamentos desde o início na revolta, estão 123 brasileiros e 58 portugueses, funcionários da construtora Queiroz Galvão. Todos aguardavam ontem a saída por mar, em navio fretado na Grécia. A embarcação já havia chegado a Benghazi, mas esperava autorização para atracar.

O secretário da Embaixada do Brasil em Atenas, Gustavo Bezerra, disse que a representação estava preparada para receber os brasileiros e havia providenciado passaportes de emergência para eles, uma vez que os documentos da maioria ficaram em Trípoli. Bezerra explicou que a embaixada ajudou a localizar a empresa grega que forneceu o navio, mas a embarcação foi fretada pela Queiroz Galvão. O navio, segundo ele, tem capacidade para transportar 500 pessoas e deverá levar 17 horas no percurso entre Benghazi e Atenas. "O capitão poderá decidir trazer mais pessoas no navio (além dos funcionários da Queiroz Galvão). Também tínhamos informações de que as condições climáticas não eram muito boas hoje (ontem) à tarde", completou.