A nomeação do novo primeiro-ministro tunisiano, Beji Caid Essebsi, 84 anos, que ficará à frente do governo de transição, vem despertando muitas críticas.
A saída do ex-premiê Mohamed Ghannouchi, reivindicada desde que assumiu a função de líder do governo de transição em meados de janeiro, após a queda do presidente Zine El Abidine Ben Ali, não convenceu os manifestantes que ainda estão acampados na Praça Kasbah, em Túnis. "Vamos manter nosso protesto até que seja formada uma Assembleia Constituinte e seja reconhecido o Conselho de Proteção da Revolução", declarou na manhã desta segunda-feira à AFP o coordenador do protesto, Mohamed Fadhe, referindo-se a um grupo de oposição que está sendo formado.
A chegada de um novo primeiro-ministro não pareceu apaziguar os ânimos, mesmo com a demissão, nesta segunda-feira, do ministro da Indústria e Tecnologia, Mohamed Afif Chelbi. Chelbi pertencia ao último governo Ben Ali e sua presença no governo de transição era contestada pelos manifestantes.
A situação continuava tensa na Avenida central Habib Bourguiba, epicentro da contestação, após dois dias de violentos confrontos entre manifestantes e policiais que fizeram cinco mortos, segundo um balanço oficial. Uma sexta pessoa foi morta na região de Ben Arous, a cerca de dez quilômetros ao sul de Túnis.
Durante o fim de semana, as lojas de um grande centro comercial foram saqueadas e um supermercado foi incendiado, de acordo com testemunhas. "O governo de Ben Ali partiu, o do povo deve assumir", declarou Rached Ghannouchi, presidente do influente movimento islâmico Ennahdha, reagindo à nomeação do novo primeiro-ministro e acrescentando que "o próximo governo deve obter a adesão do Conselho de Proteção da Revolução".
A nomeação "rápida e sem consulta" de Beji Caid Essebsi, um ex-ministro de Habib Bourguiba, pai da independência e presidente de 1957 até 1987, "foi uma surpresa", declarou à AFP o secretário-geral adjunto da União Geral dos Trabalhadores Tunisianos (UGTT), Ali Ben Romdhane. "Como podemos garantir o acordo desejado para tirar a Tunísia desta situação difícil se o presidente não dá ao menos 24 horas para consultas sobre a designação de um primeiro-ministro, quem quer que ele seja?", perguntou-se o dirigente da UGTT, cuja organização é muito influente no país graças a sua representatividade através do país.