Jornal Estado de Minas

Os árabes do Golfo contra Kadafi, mas Riad quer cautela

AFP
Os Estados Árabes do Golfo, dominados pela Arábia Saudita, renovaram seu apoio ao princípio de criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia, mas insistiram na necessidade de a Liga Árabe mostrar-se precavida com uma tal operação.
Reunidos na noite de quinta-feira em Riad, os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) consideraram o regime do coronel Muamar Kadhafi "ilegítimo" e exortaram seus pares árabes, que se encontram neste sábado no Cairo, a "assumir responsabilidades para fazer parar o banho de sangue".

Este apelo à ação, o segundo em uma semana, ilustra a necessidade de os ricos Estados produtores de petróleo mostrarem concretamente solidariedade com a população líbia ante o que denunciaram como "genocídio", numa declaração inicial, divulgada no dia 22 de fevereiro. "A decisão do CCG de apoiar a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia não foi tomada apenas pelo reino, mas de forma coletiva", destacou Abdul Aziz Sager, um especialista em Arábia Saudita no Centro de pesquisa sobre o Golfo.

No entanto, Riad aparece como o último peso pesado da região após a recente mudança do regime no Egito. A monarquia saudita, berço do Islã e detentor de um quarto das reservas mundiais de petróleo, ficou sozinho em termos de influência financeira e moral para mobilizar um apoio árabe, esperado na Europa e nos Estados Unidos.

Mas, como destacam analistas na região, esta responsabilidade é mais difícil de ser assumida pelo reino conservador que vê com desconfiança e até hostilidade as intromissões externas em seus próprios assuntos. "O que aconteceu na Tunísia, no Egito e agora na Líbia, é considerado assunto interno destes países", explicou Sager à AFP.

Em dois episódios recentes, os mais significativos de intervenções internacionais no mundo árabe, o reino adotou posições diferentes, ilustrando sua ambivalência em relação a isto.

Em 1990, o rei Fahd aprovou o deslocamento de tropas estrangeiras no reino para tirar Saddam Hussein do Kuwait, e esta decisão alimentou o ódio de Osama bin Laden contra a família reinante.

Em 2003, o rei Abdullah opôs-se oficialmente ao uso pelos Estados Unidos do território saoudita para lançar sua invasão do Iraque, e esta atitude contribuiu para um clima de tensão com Washington.

Hoje, "a possibilidade de o reino apelar a uma intervenção na Líbia é temperada por sua forte desconfiança em relação a interferências de outros países", destacou uma especialista do Brookings Institute de Doha, Leigh Nolan.