Jornal Estado de Minas

Moradores de colônia japonesa em São Paulo está apreensiva por notícias de parentes

Ullisses Campbell
A estudante Noriko Imai, 23 anos, japonesa de Tóquio, não acreditou quando acordou, ontem, e ligou a televisão. Como a maioria dos japoneses que moram em São Paulo, ela passa a maior parte do dia com a TV japonesa ligada, para não perder os vínculos. Há três meses no Brasil, ela conta que a cidade em que morava, Kawasaki, foi devastada. "Até agora, não consigo entender o que aconteceu. Parece que estou num pesadelo, vou acordar logo mais e tudo vai estar em seu devido lugar", conta. Até as 19h30, Noriko procurava dois irmãos que estavam na escola no momento em que a terra tremeu. Ela havia falado pela internet com os pais e estava aliviada, "em parte", já que a casa da família ficou sem danos à violência da catástrofe.
A notícia do terremoto seguido de tsunami pegou de surpresa toda a comunidade japonesa que trabalha e frequenta o bairro da Liberdade, reduto oriental no Centro de São Paulo. Logo no início da manhã de ontem, eles se aglomeravam em volta de televisores que mostravam a imagem da tragédia. Na Associação Cultural e Assistencial da Liberdade (Acal), pelo menos 30 japoneses que não conseguiam contato com familiares tentavam fazer ligações para Tóquio. "Meu irmão entra todos os dias no site de bate-papo da internet, e hoje ele não apareceu", lamentava o estudante Jogi Ushida, de 28 anos. Já vendedora de importados, Mitiê Urayama, 42, tem dois filhos morando na costa Oeste do Japão. Ela ainda não conseguiu conversar com eles, mas tem certeza de que eles estão a salvo: "Eles mandaram mensagens pelo celular".

O que mais chama a atenção, quando alguém observa os japoneses da Liberdade em busca de notícias de parentes, é a calma aparente. Eles relatam as tentativas de conseguir notícias com a maior tranquilidade. "Faz parte da cultura deles serem reservados e não demonstrar emoções. Mas, por dentro, eles estão abalados", explica a psicóloga Tayana Sato, 34. Ela conta que o brasileiro é expansivo na hora de demonstrar sofrimento diante de uma tragédia, e isso faz com que haja uma comparação entre as reações de cada cultura.

Segundo o presidente da União Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de São Paulo (Ucens), Carlos Munetachi Hayashida, a entidade vai facilitar a partir de hoje o contato dos japoneses que moram no Brasil com parentes que estão no Japão. "O telefone aqui não para de tocar. Todo mundo quer saber notícias de parentes e amigos que não mandam recado nem e-mail", ressaltou.