Uma nova explosão ocorreu nesta segunda-feira na usina nuclear japonesa Fukushima 1 danificada pelo terremoto e tsunami, mas Tóquio exclui a possibilidade de uma catástrofe como a de Chernobyl. O número de mortos pela tragédia pode passar dos dez mil. Apesar dos esforços do governo japonês para tranquilizar a todos, o mundo acompanha com preocupação crescente a evolução de um cenário ainda extremamente instável e incerto. Ante a gravidade da situação na usina de Fukushima 1, onde três reatores passam por dificuldades de resfriamento, o Japão pediu ajuda da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e dos Estados Unidos. A Comissão Europeia pediu a convocação de uma reunião extraordinária da AIEA para próxima semana em Viena para discutir o acidente nuclear no Japão. Ante a essa ameaça atômica e às dezenas de tremores secundários, alguns violentas, que abalam sem parar o país desde o terrível terremoto de sexta-feira no nordeste, inúmeros Estados recomendaram prudência a seus cidadãos. A maioria dos países desaconselham as pessoas a ir ao Japão, principalmente a Tóquio ou o norte do país. Mulheres e crianças são encorajadas a partir para o sul da ilha ou para o exterior. Desde sexta-feira, a usina nuclear de Fukushima 1, situada a apenas 250 km de Tóquio, a maior megalópole do mundo, com 35 milhões de habitantes, sofre acidentes, fazendo surgir temores de um vazamento radioativo. Os sistemas de resfriamento entraram em pane sucessivamente em três dos seis reatores desta usina construída nos anos 70. Após várias operações destinadas a interromper um início de fusão, duas explosões de vapor de hidrogênio se produziram no sábado e nesta segunda nos prédios que comportam os reatores 1 e 3. No edifício 3, a explosão arremessou o teto longe na manhã desta segunda-feira, mas não afetou o compartimento de confinamento onde está o reator, precisou a operadora Tokyo Electric Power (Tepco). Um processo similar começou a acontecer ao redor do reator 2, mas uma grande explosão foi considerada improvável pelo governo. "Não há qualquer possibilidade de um Chernobyl", afirmou o ministro da Estratégia Nacional, Koichiro Genba, citando especialistas da Agência de Segurança Nuclear. Em Viena, o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, julgou muito improvável que a situação seja um novo Chernobyl. O acidente da usina ucraniana, em 1986, é considerado o pior da história. A tragédia foi avaliada no nível 7, o mais alto da escala de eventos nucleares e radiológicos (Ines), enquanto que a explosão que ocorreu sábado em Fukushima atingiu o nível 4. Nas zonas devastadas pelo terremoto de magnitude 8,9 seguido de tsunami, os socorristas começaram "uma busca desesperada para salvar aqueles que poderiam estar presos embaixo das montanhas colossais de escombros", informou o porta-voz da Cruz Vermelha, Patrick Fuller. Mas por volta de 2 mil cadáveres foram encontrados nas costas da província de Miyagi, onde o número de mortos pode ultrapassar os 10 mil, segundo o chefe da polícia local. As autoridades também implementaram enormes esquemas para levar socorro às 590 mil pessoas evacuadas, que perderam suas casas ou que habitam em um raio de 20 km da central nuclear. O Japão mobilizou 100 mil soldados, ou seja, 40% dos efetivos de seu exército. Além disso, equipes de resgate estrangeiras chegaram do mundo inteiro. Oito navios americanos participam das operações de busca e cinco outros estão a caminho do arquipélago. "A capacidade do Japão de se reerguer depende de cada um de nós", declarou o primeiro-ministro Naoto Kan, que veste, desde sexta-feira, o uniforme dos serviços de emergência. O país enfrenta, segundo ele, a "mais grave crise em 65 anos, desde a segunda guerra mundial". O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio despencou 6,18% nesta segunda-feira e influenciou na queda de outros mercados. As principais montadoras japonesas de automóveis suspenderam nesta segunda-feira suas linhas de produção em todo o país, por causa das dificuldades de fornecimento. A companhia elétrica Tepco, que atende ao leste do Japão, começou também nesta segunda-feira a fazer cortes de energia planejados, já que onze reatores estão paralisados. O setor de energia nuclear produz cerca de um terço da eletricidade consumida pelo arquipélago.