Jornal Estado de Minas

Família assistiu a avanço de onda e sobreviveu por pouco em cidade arrasada

Família Hara avalia estragos em casa depois que a água do mar invadiu a cidade de Sendai - Foto: Família japonesa assistiu a avanço de onda e sobreviveu por pouco em cidade arrasada

Em meio à destruição provocada pelo mar de lama trazido pelo tsunami da semana passada, a cidade de Sendai está deserta, uma das poucas exceções é família Hara, que assistiu de casa o avanço da onda gigante. Como os demais moradores do local, os Hara foram levados para um abrigo do governo, mas retornaram para avaliar os danos causados à moradia da família.

Confira o infográfico sobre o terremoto no Japão

O dono da casa é um senhor de meia idade, de sorriso fácil. Mas quando questionado sobre a tragédia de sexta-feira passada e sobre o que acontecerá daqui para a frente, ele aperta os olhos e as lágrimas escorrem. “Temos de tentar reconstruir nossas vidas aqui mesmo. Não há para onde ir. Foi aqui que nascemos e crescemos, e é aqui que devemos ficar”, responde.

Enquanto ele dá detalhes sobre o tsunami que varreu o bairro em que vive há mais de 30 anos com a família, a esposa não para um segundo, tentado limpar uma mesinha de centro. “Mostra para ele como ficou o tatame”, sugere ao marido. “Parece papel machê”, diz, mostrando o cômodo que antes abrigava a sala.

Mar de lama

O mar de lama toma conta da casa. “Vai demorar meses para conseguirmos limpar tudo isso”, diz o filho mais velho. “Mas não vamos desistir”, assegura. Ele conta que a família estava em casa na sexta-feira fatídica. “O terremoto nos pegou de surpresa e logo veio o alerta de tsunami. Ficamos aqui mesmo, no segundo andar e, de lá, vi as cenas mais impressionantes da minha vida”, conta.

Uma onda gigante, mais alta que as casas, invadiu o bairro dos Hara com muita violência. "Vimos ela chegando e tínhamos a certeza de que morreríamos. Mas a onda fez uma curva e não atingiu nossa casa. Foi sorte".

A casa vizinha também ficou intacta. Mas as seguintes não estão mais lá. “É muito triste tudo isso”, diz o filho, que também enche os olhos de lágrimas ao mostrar o cachorro da família, Kuro, em meio aos destroços e lixos da casa. “Não conseguimos salvá-lo. Ele estava na porta de entrada, mas a onda veio muito rápido.” O filho mais novo não para de tirar a lama de dentro da casa. Mas faz uma pausa para acrescentar: “Vimos uma pessoa sendo trazida pela onda gigante. Ela ainda estava viva. Foi horrível.”