O Exército líbio anunciou nesta quinta-feira que, a partir de domingo, suspenderá as operações militares contra a insurreição para que "os terroristas possam entregar suas armas", informou a agência líbia Jana. "O Comitê Central Provisório do Ministério da Defesa decidiu anular as operações militares contra os terroristas armados, a partir de domingo 00H00 (19H00 de Brasília), para dar uma oportunidade (aos rebeldes) de deixar as armas e se beneficiar de uma anistia geral", acrescentou a agência. O Ministério da Defesa, em compensação, não precisou quanto tempo vai durar a suspensão das operações militares. Esse anúncio foi feito algumas horas antes de uma votação prevista no Conselho de Segurança da ONU sobre um projeto de resolução impondo uma zona de exclusão aérea, para paralisar a aviação utilizada com frequência pelas forças fiéis a Kadhafi. Destacando a urgência de uma intervenção da comunidade internacional que hesita, o vice-embaixador líbio na ONU Ibrahim Dabbachi, um desertor, afirmou à noite que seu país precisava da aprovação de uma resolução "em dez horas", sob pena de "ocorrer um verdadeiro genocídio". O anúncio de suspensão das operações militares acontece agora que as forças leais a Muamar Kadhafi progridem em direção a Benghazi, o bastião da oposição. Elas tentaram nesta quinta-feira bombardear postos da rebelião nesta cidade, situada a mil quilômetros a leste de Trípoli, informou a rebelião. Os insurgentes afirmam ter abatido dois aviões durante essa operação. Não foi possível de imediato confirmar essas informações de fonte independente. As forças fiéis ao regime conseguiram retomar várias cidades nesses últimos dias com ataques aéreos e terrestres. Elas se encontram a 160 km de Benghazi e continuam a avançar graças a sua superioridade militar, afirmou William Burns, diretor político do departamento de Estado. Informações contraditórias também foram anunciadas sobre a situação em Misrata, localizada a cerca de 200 km a leste de Trípoli. O regime afirma que suas forças armadas conquistaram o território, mas um porta-voz da oposição em Misrata desmentiu. As operações contra Misrata e Benghazi, cidades-símbolo da revolta desencadeada no dia 15 de fevereiro contra Kadhafi, foram anunciadas nestes últimos dois dias pelo regime líbio que se disse determinado a exterminar a insurreição. Segundo a televisão estatal, "a cidade de Zuwaytinah está sob o controle das forças armadas que estão próximas a Benghazi". Zuwaytinah fica a cerca de 150 km ao sul de Benghazi, onde está sediado o Conselho Nacional de Transição, instância criada pelos insurgentes. "As forças armadas tomaram o controle da cidade de Misrata e a purificaram das gangues criminosas armadas", informou ainda a televisão, no dia seguinte a violentos combates com os rebeldes que fizeram ao menos 22 mortos, segundo a rebelião. O dirigente líbio, cujas tropas estão nitidamente mais bem equipadas do que as dos rebeldes, havia anunciado na quarta-feira uma batalha decisiva para conquistar Misrata, terceira maior cidade do país, com 500 mil habitantes. No mesmo dia, as tropas do regime haviam afirmado ter retomado Ajadabiya, bloqueio dos rebeldes a 160 km ao sul de Benghazi. Ao menos 26 pessoas foram mortas, disse um médico, mencionando "combates aterrorizantes". Além de provocar a retirada de insurgentes ao leste, esse avanço dos partidários de Kadhafi causou uma saída em massa de líbios através da fronteira egípcia. Quase 300 mil pessoas fugiram do país desde o dia 15 de fevereiro. A Cruz Vermelha Internacional também retirou seu pessoal de Benghazi, dizendo estar "extremamente preocupada com o que acontecerá aos civis". No oeste, as tropas governamentais atacaram na quarta-feira, com armas pesadas, o sul de Zenten, a 145 km de Trípoli, segundo uma testemunha. Agora que a revolta se transformou em guerra civil, matando centenas de pessoas, a comunidade internacional finalmente decidiu submeter à votação na ONU um projeto de resolução prevendo uma zona de exclusão aérea. O novo projeto prevê "todas as medidas necessárias" para proteger os civis, exceto uma força de ocupação no país, informou nesta quinta-feira um diplomata.