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Estado de Minas

Crise no Japão tende a inviabilizar energia nuclear


postado em 20/03/2011 08:21

A energia nuclear tende a se tornar economicamente inviável por conta da reavaliação da segurança dos reatores atômicos forçada pela crise desencadeada pelo terremoto seguido de tsunami de 11 de março no Japão, opinou o professor e físico nuclear José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

"Vai haver uma reavaliação dos programas nucleares em praticamente todos os países onde se faz uso desse tipo de energia. Vai ser feita uma análise profunda, uma auditoria completa da segurança dos reatores. E o resultado disso será uma coisa perversa. Vão ser introduzidas novas medidas de segurança que tornarão os reatores mais caros ainda e, consequentemente, menos competitivos", avaliou o físico.

Para chegar a essa conclusão, Goldemberg traçou um paralelo entre a crise nuclear japonesa e o desastre na usina de Chernobyl, Ucrânia, em 1986. "Isso já aconteceu com a indústria nuclear a partir de Chernobyl. A partir do acidente em Chernobyl praticamente não se construiu mais usinas nucleares porque as medidas de segurança introduzidas encareceram demais o custo da energia nuclear. O quadro atual tende a inviabilizá-la por razões econômicas".

Segundo ele, há propostas para o desenvolvimento de novas gerações de reatores nucleares, mas os modelos mais modernos são todos experimentais até agora. "Não há experiência industrial, então depende um pouco de fé. O fato é que eles certamente serão mais caros e só vão ser realmente testados diante do mundo real" salientou o físico.

Tecnologia

Goldemberg declara-se cético, no entanto, com relação ao surgimento de uma tecnologia revolucionária no campo da energia nuclear. "Por conta da natureza do reator nuclear, pelo fato de se precisar retirar o calor de algum lugar, eu duvido que isso realmente venha a acontecer no futuro próximo".

E explica: "Reatores nucleares dependem criticamente de circulação de água para resfriar o núcleo do reator. Portanto, um acidente com o sistema de circulação de água pode derreter o núcleo do reator. É intrínseco do reator ter o sistema de resfriamento. Agora se discute muito a possibilidade de se fazer reatores mais avançados e mais bem protegidos, mas não existe proteção completa porque sempre terá de haver algum esquema de resfriamento".

A energia nuclear é considerada por especialistas uma fonte limpa em comparação com os combustíveis fósseis, altamente poluentes e sujeitos a oscilações repentinas de preço. Os críticos, no entanto, salientam que as usinas atômicas representam um risco elevado quando ocorrem acidentes e consideram que os governos ainda não encontraram uma solução satisfatória com relação ao armazenamento do lixo nuclear.

Goldemberg lembra ainda que o acidente de 1979 em Three Mile Island, nos Estados Unidos, aconteceu sem terremoto nem tsunami. "Foi um problema mecânico nas bombas de circulação da água", recorda. O tsunami de 11 de março provocou o desligamento das bombas de resfriamento dos reatores do complexo nuclear de Fukushima. Desde a tragédia, quatro dos seis reatores do complexo experimentaram incêndios, explosões ou derretimento parcial.

Na sexta-feira, autoridades japonesas elevaram de 4 para 5 o nível de crise nuclear, em uma escala que vai até a 7. O nível atual da crise é o mesmo do acidente em Three Mile Island. A reclassificação ocorre em um momento no qual o Japão pede a ajuda dos EUA e admite que sua resposta à crise foi lenta por conta da necessidade de resposta à tragédia humana do terremoto seguido de tsunami, que deixou milhares de mortos e desaparecidos.


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