A energia nuclear tende a se tornar economicamente inviável por conta da reavaliação da segurança dos reatores atômicos forçada pela crise desencadeada pelo terremoto seguido de tsunami de 11 de março no Japão, opinou o professor e físico nuclear José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).
Para chegar a essa conclusão, Goldemberg traçou um paralelo entre a crise nuclear japonesa e o desastre na usina de Chernobyl, Ucrânia, em 1986. "Isso já aconteceu com a indústria nuclear a partir de Chernobyl. A partir do acidente em Chernobyl praticamente não se construiu mais usinas nucleares porque as medidas de segurança introduzidas encareceram demais o custo da energia nuclear. O quadro atual tende a inviabilizá-la por razões econômicas".
Segundo ele, há propostas para o desenvolvimento de novas gerações de reatores nucleares, mas os modelos mais modernos são todos experimentais até agora. "Não há experiência industrial, então depende um pouco de fé. O fato é que eles certamente serão mais caros e só vão ser realmente testados diante do mundo real" salientou o físico.
Tecnologia
Goldemberg declara-se cético, no entanto, com relação ao surgimento de uma tecnologia revolucionária no campo da energia nuclear. "Por conta da natureza do reator nuclear, pelo fato de se precisar retirar o calor de algum lugar, eu duvido que isso realmente venha a acontecer no futuro próximo".
E explica: "Reatores nucleares dependem criticamente de circulação de água para resfriar o núcleo do reator. Portanto, um acidente com o sistema de circulação de água pode derreter o núcleo do reator. É intrínseco do reator ter o sistema de resfriamento. Agora se discute muito a possibilidade de se fazer reatores mais avançados e mais bem protegidos, mas não existe proteção completa porque sempre terá de haver algum esquema de resfriamento".
A energia nuclear é considerada por especialistas uma fonte limpa em comparação com os combustíveis fósseis, altamente poluentes e sujeitos a oscilações repentinas de preço. Os críticos, no entanto, salientam que as usinas atômicas representam um risco elevado quando ocorrem acidentes e consideram que os governos ainda não encontraram uma solução satisfatória com relação ao armazenamento do lixo nuclear.
Goldemberg lembra ainda que o acidente de 1979 em Three Mile Island, nos Estados Unidos, aconteceu sem terremoto nem tsunami. "Foi um problema mecânico nas bombas de circulação da água", recorda. O tsunami de 11 de março provocou o desligamento das bombas de resfriamento dos reatores do complexo nuclear de Fukushima. Desde a tragédia, quatro dos seis reatores do complexo experimentaram incêndios, explosões ou derretimento parcial.
Na sexta-feira, autoridades japonesas elevaram de 4 para 5 o nível de crise nuclear, em uma escala que vai até a 7. O nível atual da crise é o mesmo do acidente em Three Mile Island. A reclassificação ocorre em um momento no qual o Japão pede a ajuda dos EUA e admite que sua resposta à crise foi lenta por conta da necessidade de resposta à tragédia humana do terremoto seguido de tsunami, que deixou milhares de mortos e desaparecidos.