Após o terremoto e o tsunami do último dia 11, que devastou a região nordeste do Japão, e a constante ameaça nuclear, alguns brasileiros no país marcaram passagem para voltar ao Brasil o mais rápido possível. Mas muitos outros resolveram arregaçar as mangas e ajudar as vítimas.
“Em quatro dias arrecadamos cerca de 600 peças”, contou Kodama à BBC Brasil. O material foi levado à sede na sede da Associação dos Voluntários de Shizuoka, onde será separado, dividido e enviado imediatamente às vítimas.
Kodama explicou que, no Japão, o esquema de ajuda é muito organizado. “Fiquei sabendo de grupos que organizaram coleta de alimentos e tentaram levar para as regiões mais atingidas pelo tsunami e não conseguiram completar a missão”.
Organização
O país aprendeu a lição de organização após o grande terremoto de Kobe, em janeiro de 1995. “Desde então, cada província é responsável por um setor básico em caso de calamidade pública”, explicou a psicóloga Neusa Miyata, da organização sem fins lucrativos Disque Saúde.
No caso desta tragédia, as Províncias de Shizuoka e Aichi, por exemplo, só recolheram cobertores e edredons. “Num primeiro momento, pareceu, aos olhos dos estrangeiros, que a reação dos japoneses foi lenta. Mas eles estavam se organizando para escolher a melhor estratégia”, defendeu Kodama.
Neusa concorda. “Tudo o que faltou em Kobe está sendo feito desta vez. Em poucos dias, por exemplo, já havia alimentos quentes e remédios nos abrigos”, comparou.
“Tem muita gente com boa intenção, mas as pessoas têm de ajudar com mais consciência”, sugeriu ela, que desde o dia 11 está de plantão 24 horas para atender brasileiros com algum problema emocional.
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“Nestas horas, temos de pensar em todos e não apenas nos conterrâneos, como sugeriram alguns grupos”, criticou Hashimoto.
Kodama segue a mesma linha. “Nessa campanha, pude ver de perto a solidariedade dos brasileiros e japoneses, todos trabalhando em prol das vítimas, independente da nacionalidade. Isso me fez ter a certeza de que o Japão vai superar mais esse desafio.”
Sobreviventes
Enquanto a ajuda não para de chegar à região mais atingida pelo terremoto e pelo tsunami, a esperança de encontrar mais sobreviventes foi renovada com o resgate de Sumi Abe, 80, e o neto Jin Abe, 16, transmitido ao vivo pela tevê japonesa.
Avó e neto ficaram nove dias presos sob escombros do que restou da casa, na cidade de Ishinomaki, na Província de Miyagi (nordeste do país), desde que o forte terremoto e o tsunami devastaram a região nordeste do Japão e deixaram o país sob risco de contaminação nuclear.
Os dois estavam na cozinha, construída no segundo andar da casa, quando a onda gigante chegou. Eles sobreviveram todos estes dias comendo os restos que estavam na geladeira. Beberam iogurte e refrigerante, e suportaram o frio enrolados em acolchoados e roupas.
Foram achados graças a uma ligação que Jin fez ao pai, dizendo que estava preso com a avó sob os escombros. O resgate demorou porque os bombeiros não achavam a casa, deslocada 100 metros pela onda.
Jin foi retirado primeiro. Quando Sumi foi salva, exausta, caiu em prantos quando o bombeiro disse que “ela não precisa se preocupar mais”.
No caminho para o hospital, o bombeiro perguntou a Jin o que ele gostaria de ser no futuro. “Artista”, respondeu sorrindo.
O adolescente não se lembra de detalhes destes nove dias. Lembra que não dava para se mexer, por falta de espaço. Passou cobertor e comida para a avó e ambos não deixavam a esperança acabar.
O pai de Jin disse à imprensa que a avó só sobreviveu graças ao filho. “Ele é um jovem de poucas palavras, mas com um grande coração”, disse.
Muitos desaparecidos
As buscas ainda continuam na região de Miyagi, Iwate e Fukushima, províncias mais afetadas pela onda gigante.
Segundo o último levantamento, o número oficial de mortos passa dos 8,6 mil e desaparecidos chega a 13 mil.
Mas as autoridades já admitem que o número de mortos deve ultrapassar os 20 mil, já que somente na Província de Miyagi (nordeste do Japão) há uma previsão local de 15 mil mortos.
Os crematórios estão lotados, a espera de combustível para dar conta de tantos corpos.
Perto de 900 mil casas continuam sem água e mais de 350 mil pessoas vivem em abrigos montados pelo governo.